Vitiligo
- Jornal A Sístole
- 21 de abr. de 2022
- 4 min de leitura

Por Isadora Santana e Karine Teotônio
Com a participação de Natalia Deodato no Big Brother Brasil 22, as discussões sobre o vitiligo vieram à tona novamente. Apesar de ter sido muito debatida na década de 90, por afetar o grande rei do pop Michael Jackson, existe - ainda hoje - muita desinformação sobre a doença. Assim, discursos preconceituosos e discriminatórios são perpetuados, afetando diretamente a autoestima e a saúde mental das pessoas com vitiligo. Uma pesquisa realizada no Brasil demonstrou que mais de 75% dos pacientes têm autoimagem depreciativaem relação à doença e, além disso, dentre os que apresentavam manchas em áreas expostas, 80% queixaram-se de emoções desagradáveis, sendo as mais referidas: medo (71%), vergonha (57%), insegurança (55%), tristeza (55%) e inibição (53%).
Dessa forma, o Jornal A Sístole percebe uma necessidade de elucidar os principais pontos sobre essa doença e a importância da disseminação desse conhecimento para combater a discriminação e a hostilidade.
1. O que é o vitiligo?
O vitiligo é uma doença de pele adquirida, idiopática (sem causa aparente), não contagiosa, caracterizada por manchas despigmentadas de diferentes tamanhos, formas e distribuição. A despigmentação e consequente formação dessas manchas é reflexo da destruição dos melanócitos - células responsáveis pela produção do pigmento da nossa pele, a melanina.
A doença pode acometer todas as etnias, ambos os sexos e qualquer faixa etária, sendo mais comum o aparecimento em torno dos 20 anos de idade e atinge 0,57% da população brasileira.
2. O que causa essa doença?
Ainda não está completamente elucidado o que causa essa dermatose (doença dermatológica), porém, várias teorias têm sido propostas em relação à sua etiologia, sendo as principais:
● Herança - Aproximadamente, 20% dos pacientes com vitiligo têm pelo menos um parente de primeiro grau com a doença. Assim, acredita-se que existe um componente genético multifatorial(envolvimento de vários genes) em indivíduos predispostos à doença.
● Auto-imunidade - O vitiligo tem sido considerado uma doença auto-imune e pode estar associado com algumas outras enfermidades imunológicas, como tireoidites, diabetes mellitus e alopecia areata. A teoria aponta a possível formação de anticorpos que atacam e destroem o melanócito ou inibem a produção de melanina. Eles têm sido verificados em aproximadamente 50% dos portadores de vitiligo incipiente, enquanto naqueles com a forma extensiva da doença esse valor pode atingir 93%.
● Teoria Neural - Os melanócitos são células derivadas da mesma linhagem embriológica do sistema nervoso, ou seja, da crista neural. Assim, pode-se pensar que qualquer processo que extinga os melanócitos da pele afetaria também outras células relacionadas no sistema nervoso central .
● Fatores ambientais - Cerca de 10 a 76% dos pacientes com vitiligo atribuem a doença a algum fator precipitante. É provável que o estresse, a exposição solar intensa e a exposição a alguns pesticidas atuem como fatores precipitantes da doença em indivíduos geneticamente predispostos.
3. Existe cura para o vitiligo?
Não existe cura definitiva, mas existe tratamento específico para as manchas, que faz com que a pele recupere parte da pigmentação em algumas regiões e, ainda, impede a progressão da doença.
No momento, as principais formas de tratamento são: corticosteróide tópico (constitui uma das primeiras opções de tratamento); fotoquimioterapia com componentes psoralênicos e subseqüente exposição à radiação UVA (comumente denominada Puva terapia) e terapia oral, que oferece resultados com menos efeitos colaterais.
Outra terapia, considerada segunda linha de tratamento e recomendada para pacientes adultos com mais de 50% da superfície corporal acometida (realizada, inclusive, por Michael Jackson) é a despigmentação com uso de hidroquinona. Nesse caso, os melanócitos sadios são destruídos e, através da despigmentação das áreas “sadias”, se alcança a uniformização da coloração da pele.
Portanto, mesmo não possuindo cura definitiva, com a ajuda médica, o uso de medicamentos e terapias reconhecidas cientificamente, alguns pacientes podem retardar a evolução da doença, ou mesmo uniformizar a cor da pele. Ademais, outro ponto importante no tratamento é levar em conta a saúde mental do indivíduo com vitiligo, visto que fatores emocionais podem agravar o aparecimento e evolução das lesões, além do fato de que a própria doença pode causar impactos na autoestima e na valorização da autoimagem. Logo, é essencial a construção de uma atenção multidisciplinar para as pessoas com vitiligo.
Referências
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