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Vacinas contra COVID-19 e HIV: desconstruindo as Fake News

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 25 de nov. de 2021
  • 4 min de leitura


Por: Leandro dos Santos de Oliveira

​Com o advento da internet, a oferta de informações disponíveis cresceu de modo nunca visto na história. Se, por um lado, isso fornece um vasto acervo de conhecimento livre para quem pode acessá-lo, por outro,aumenta o alcance da desinformação – uso da comunicação e da informação para construir uma falsa realidade ou induzir ao erro.

​Atualmente, uma das formas mais populares de desinformação são as Fake News, notícias falsas construídas como matérias jornalísticas oficiais e que são espalhadas pela internet. No contexto da pandemia de COVID-19, as Fake News assumem um caráter perigosíssimo e até mesmo letal, considerando os desfechos relacionados à doença, pois podem confundir seus leitores quanto às formas eficazes de se prevenir contra o coronavírus, dificultando o combate ao problema em questão.

​Uma das Fake News mais discutida recentemente, citada até mesmo pelo presidente da república em transmissão ao vivo nas redes sociais, relacionava a imunização completa (com duas doses) contra a COVID-19 a um maior risco de contrair o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV, sigla em inglês), causador da AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, sigla em inglês). Qual é a verdade por trás desses fatos? Essa relação está baseada em alguma suspeita científica? O que dizem os órgãos de saúde nacionais e mundiais sobre esta afirmativa? Honrando o compromisso com a informação confiável e científica, o Jornal A Sístole responderá essas e outras perguntas sobre este tema nesta matéria.

As vacinas da COVID-19 podem aumentar o risco para o desenvolvimento de AIDS?

​Poucos dias após a transmissão presidencial, diversas entidades no âmbito da saúde humana, como a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS (UNAIDS), esclareceram que não há relação entre a vacinação contra a COVID-19 e o desenvolvimento da AIDS.Ambas as instituições também destacaram a importância da imunização completa para pessoas que vivem com HIV/AIDS visto que a infecção debilita o sistema imunológico do enfermo, aumentando sua susceptibilidade a diversas doenças oportunistas e pondo sua vida em risco. É recomendada a vacinaçãocom duas doses além de uma dose de reforço após 28 diasda segunda dose.

Como se dá a transmissão do HIV?

A transmissão do vírus causador da AIDS ocorre pelocontato com secreções como sangue, esperma, secreção vaginal e leite materno, sendo as ações a seguir relacionadas ao risco de contaminação:

• Ter relação sexual desprotegida (sem camisinha) com pessoa portadora do vírus (vaginal, anal ou oral);

• Utilizar objetos perfurocortantes contaminados, como compartilhar utensílios para manicure e pedicure, navalhas de barbear, agulhas para uso de drogas injetáveis, dentre outros;

• Transmissão vertical (da mãe para o bebê): pode ocorrer durante a gestação, no parto ou durante a amamentação.

Qual foi a origem da Fake News?

​Em outubro de 2020, quatro pesquisadores americanos enviaram uma carta à revista científica The Lancet alertando sobre o uso de adenovírus recombinante tipo 5 (Ad5) como vetor para vacinas contra COVID-19 e um possível maior risco de infecção por HIV. Os autores foram responsáveis por estudos que avaliaram a eficácia de uma vacina contra o HIV-1 que também utilizava o Ad5 como vetor.

Durante os testes clínicos dessa vacina, os cientistas notaram que homens não circuncidados, que receberam o imunizante teste e mantiveram relações sexuais desprotegidas nos meses seguintes apresentaram maior risco de infecção por HIV-1 que aqueles que não receberam a vacina. Este efeito não foi observado em mulheres. Os pesquisadores atribuíram o efeito a uma interação entre o Ad5 e os linfócitos T, tornando-os mais vulneráveis ao HIV.

Acredita-se que a informação falsa sobre a relação entre vacinas contra COVID-19 e HIV surgiu de uma interpretação errônea desta carta feita por sites internacionais de notícias, na qual entendeu-se que o alerta era voltado a todas as vacinas em desenvolvimento contra a COVID-19, e não apenas àquelas que incluem o Ad5 como vetor viral. Dessa forma, a mensagem incorreta de que todos os imunizantes contra COVID-19 poderiam aumentar o risco para a infecção com HIV foi propagada por mais de um ano por sites e correntes de mensagens em redes sociais até os dias de hoje.

Atualmente, a única vacina utilizada contra a COVID-19 que contém o Ad5 em sua composição é a Sputinik V, que possui autorização apenas paraimportação excepcional e não faz parte do mais recente Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra COVID-19. A despeito das discussões sobre o risco acerca desse imunizante desde seu lançamento, o fabricante da vacina afirmou que, após acompanhar mais de 7 mil participantes dos estudos clínicos da Sputinik, não foi detectado aumento no risco de contrair o HIV.

Todas as outras vacinas utilizadas no Brasil não apresentam o Ad5 como vetor viral e, portanto, não têm qualquer relação com possível maior risco de contrair o HIV! Vacine-se contra a COVID-19 e siga as orientações de saúde para prevenção da transmissão, pois, dessa forma, você preservará sua vida e a de outros!

BUCHBINDER, S. P.; MC ELRATH, M. J.; DIEFFENBACH, C.; COREY, L. Use of adenovírus type-5 vectored vacines: a cautionary tale. The Lancet, v. 396, n. 10260, E68-E69, 31 out. 2020. Disponível em: https://www.thelancet.com/article/S0140-6736(20)32156-5/fulltext - %20. Acesso em: 21 nov. 2021.

HIV e aids. Biblioteca Virtual em Saúde MS, 2016. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/hiv-e-aids/ - :~:text=O%20v%C3%ADrus%20HIV%20%C3%A9%20transmitido,tratamento%2C%20para%20o%20filho%20durante. Acesso em: 21 nov. 2021.

LOPES, R. J. HIV e vacina contra Covid: o que diz cientista que provocou debate em 2020? Folha de São Paulo, 29 out. 2021. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/10/hiv-e-vacina-contra-covid-o-que-diz-cientista-que-provocou-debate-em-2020.shtml. Acesso em: 21 nov. 2021.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19. 11ª edição. Brasília, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/plano-nacional-de-vacinacao-covid-19/view. Acesso em: 21 nov. 2021.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA. Nota de Esclarecimento. São Paulo, 23 out. 2021. Disponível em: http://www.rnpvha.org.br/wp-content/uploads/2021/10/Esclarecimento-vacina-23-10-21.pdf. Acesso em: 21 nov. 2021.

UNAIDS. Nota de Esclarecimento – Vacina para COVID-19 não causa AIDS. UNAIDS Brasil, 2021, disponível em: https://unaids.org.br/2021/10/nota-de-esclarecimento-vacina-contra-covid19-e-aids/. Acesso em: 21 nov. 2021.

 
 
 

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