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Um grande problema para os pequenos

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 14 de out. de 2022
  • 2 min de leitura

Por Carolina Daré


Chegamos ao mundo sob estresse. Pense bem: as paredes de sua “casa” começam a se contrair (fenômeno também conhecido como contrações uterinas), pressionando-o a fim de expulsá-lo para um mundo com excesso de luminosidade e onde você logo experienciará frio e fome. Chorar é uma das primeiras respostas adaptativas mobilizadas por estressores e sinaliza a necessidade de restauração de nossa segurança e de nosso conforto. Assim, nosso comportamento e nossa fisiologia são modulados por desafios diários. Mas e se tais estímulos, físicos e emocionais, em vez de transitórios como no nascimento, fossem crônicos? E ainda, nos atingissem em intensidade capaz de impactar nosso sistema endócrino, neurológico e imune?


O desfecho seria o estresse tóxico, que se caracteriza como patológico por incluir alterações das quais o corpo não consegue se recuperar totalmente. Crianças costumam ser especialmente vulneráveis a tal quadro, pois podem experienciar abusos, serem negligenciadas ou, ainda, viverem em casas disfuncionais. Exemplos dessas experiências adversas na infância incluem pais ou cuidadores que insultam ou ofendem os menores, utilizam de agressões, realizam toques de intenção sexual, não demonstram zelo, usam algum tipo de substância tóxica ilícita, brigam entre si de maneira violenta, entre outras diversas situações.


Pesquisas no campo da medicina e da psicologia vêm registrando a associação entre a exposição às adversidades com desfechos de saúde negativos. Isso significa que reféns do estresse tóxico, em comparação com a população geral, apresentaram maior risco de tentativa de suicídio, uso de drogas injetáveis e alcoolismo. Além disso, condições biológicas - como bronquite crônica, infarto, câncer, diabetes - também foram correlacionadas e os mecanismos fisiopatológicos envolvidos são atualmente alvo de estudos.


Algumas consequências só são verificáveis a longo prazo, porém outras aparecem precocemente. Sabe-se que os primeiros anos de vida são determinantes no desenvolvimento do cérebro. Por exemplo, nesse período, eventos adversos impactam negativamente a plasticidade sináptica do córtex pré-frontal das crianças. Em termos simples, isso se traduz em prejuízos para a região cerebral que participa de funções cognitivas importantes, como tomada de decisões e processos de aprendizagem.


Além disso, a produção e a regulação hormonal da criança também podem ser afetadas, pois o estresse, após percebido e interpretado em regiões encefálicas, ativa eixos endócrinos que liberam hormônios como adrenalina e glicocorticóides. Esse estímulo crônico desregula tais eixos, causando excessos ou deficiências que comprometem o bem-estar físico e mental do indivíduo. Acrescenta-se o fato de que o sistema nervoso simpático, ativado sob "ameaça" ao organismo, libera moléculas pró-inflamatórias, que aumentam a probabilidade do indivíduo desenvolver doenças autoimunes.


Apesar do conceito de estresse tóxico ter ganhado mais atenção nos últimos tempos, desafios metodológicos dificultam a realização de pesquisas. Isso, pois, trata-se de uma condição multifatorial, tornando mais complexo o mapeamento dos diversos fatores envolvidos, e sua relação, nos desfechos observados. De qualquer forma, a problemática reforça o alerta de que não devemos minimizar as adversidades enfrentadas pelas crianças. Os estressores não criam crianças mais fortes e resilientes, ao contrário, tendem a torná-las frágeis e adoecidas.


Referências:

STRATAKIS, C. A.; GOLD, P. W.; CHROUSOS, G. P. Neuroendocrinology of Stress: Implications for Growth and Development. Hormone Research, v. 43, n. 4, p. 162–167, 1995.

FRANKE, H. Toxic Stress: Effects, Prevention and Treatment. Children, v. 1, n. 3, p. 390–402, 3 nov. 2014.

SHONKOFF, J. P. et al. The Lifelong Effects of Early Childhood Adversity and Toxic Stress. Pediatrics,


 
 
 

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