Síndrome de Asperger: aspectos históricos e clínicos
- Jornal A Sístole
- 13 de abr. de 2023
- 3 min de leitura

por Leandro Oliveira e Orlando D. Canichio
Elon Musk, Greta Thunberg e Courtney Love. O que um CEO bilionário, uma ativista ambiental e uma cantora, compositora e pintora do movimento grunge têm em comum? Todos possuem a síndrome de Asperger, atualmente reconhecida como parte do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) e que, apesar de não ser tão rara, é pouco conhecida pela população geral. Em celebração ao dia internacional da síndrome de Asperger, lembrado no dia 18 de fevereiro, o jornal A Sístole trará algumas informações sobre o assunto para conscientizar e informar o leitor sobre essa condição que, segundo estimativas, têm incidência de 1 a cada 132 pessoas no mundo.
A história
A síndrome de Asperger foi descrita entre 1943 e 1944 pelos médicos austríacos Leo Kanner e Hans Asperger. Separadamente, os dois identificaram e descreveram grupos únicos de crianças com dificuldade de interação social e comportamentos repetitivos e restritos, um grupo de características que ambos designaram como “autistas”. Todavia, enquanto Kanner buscou identificar critérios diagnósticos comuns a todos os pacientes como “isolamento próprio extremo” e “insistência obsessiva na mesmice”, Asperger enfatizava características positivas nos seus pacientes como a construção de ideias originais, interesses intelectuais e abstratos e “uma rara maturidade no gosto pela arte”.
Aos poucos, a visão mais positiva de Asperger sobre a condição marcava um contraste acentuado com a perspectiva mais negativa de Kanner. Acredita-se que essa diferença nas descrições levou a comunidade científica a conferir o nome “síndrome de Asperger” para as crianças com boas habilidades cognitivas e linguísticas, apresentando desenvolvimento normal nos primeiros 2-3 anos de vida e “autismo infantil de Kanner” para os infantes que demonstraram grande dificuldade de comunicação, pouco ou nenhum contato visual e hipersensibilidade a estímulos.
Ao longo de 24 anos, a “síndrome de Asperger” passou de uma faceta do autismo para um diagnóstico próprio, contendo critérios específicos divulgados em 1989 e introduzidos na Classificação Internacional de Doenças 10 (CID-10) em 1993 para, então, se tornar novamente parte do TEA, perdendo seu status de diagnóstico em 2013.
Os sintomas
Apesar de serem variados, os sintomas mais comuns são, de uma forma geral:
● Introspecção e problemas com habilidades sociais (dificuldade em fazer amizade
e/ou iniciar diálogos);
● Comportamentos excêntricos ou repetitivos (movimentos incomuns);
● Práticas e rituais incomuns (vestir-se sempre em uma ordem específica, por
exemplo);
● Interesses bastante focados (obsessão por certas áreas ou atividades);
● Problemas de coordenação (movimentos desajeitados);
● Habilidades e talentos (muitas crianças com essa síndrome são extremamente
inteligentes, talentosas e especializadas em uma determinada área, como a música ou a matemática).
O diagnóstico
A identificação é feita por uma equipe multidisciplinar (composta pelas áreas de psiquiatria, neurologia, psicologia, terapia ocupacional e fonoaudiologia), e é essencialmente clínico, ou seja, baseia-se na presença de prejuízos nas áreas de interação e comunicação social e por um repertório restrito de interesses, conforme citado anteriormente.
O tratamento
É importante destacar que não há um tratamento curativo da síndrome de Asperger, mas sim um acompanhamento que enfatize o desenvolvimento de competências sociais e comunicativas para o fortalecimento das interações interpessoais, por meio de intervenções fonoaudiológicas e de base comportamental.
Fora isso, devido às questões motoras e sensoriais, a terapia ocupacional e atividades esportivas também podem ser recomendadas. E, embora não haja medicamentos para o tratamento de sintomas intrínsecos a essa condição, podem ser indicados fármacos visando à redução e controle de sintomas obsessivos-compulsivos, de ansiedade e impulsividade, prescritos pelo médico psiquiatra.
Por fim, é importante a identificação do perfil de habilidades e inabilidades do paciente para que haja, assim, uma potencialização do sucesso acadêmico e ocupacional ao longo da vida dele, pois são indivíduos com enorme capacidade.
O prognóstico
Não há muitos estudos realizados de acompanhamento a longo prazo de jovens com Asperger, mas muitas crianças são capazes de assistir a aulas em escola regular com serviços de apoio adicional, enquanto outras requerem serviços de educação especial, geralmente não devido a déficits acadêmicos, mas por conta dos problemas nos relacionamentos interpessoais (sendo esse prejuízo social considerado “permanente”).
Referências
KLIN, A.. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral. Brazilian Journal of Psychiatry, v. 28, n. Braz. J. Psychiatry, 2006 28 suppl 1, maio 2006.
Barahona-Corrêa JB, Filipe CN. A Concise History of Asperger Syndrome: The Short Reign of a Troublesome Diagnosis. Front Psychol. 2016 Jan 25;6:2024. doi: 10.3389/fpsyg.2015.02024. PMID: 26834663; PMCID: PMC4725185.
Hosseini SA, Molla M. Asperger Syndrome. [Updated 2022 May 2]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK557548/
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