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RISUG: Um promissor método contraceptivo injetável masculino para 2023

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 12 de jan. de 2023
  • 4 min de leitura


Por Leandro Oliveira e Beatriz Galhardi


Atualmente, no Brasil, o uso de métodos contraceptivos para evitar a gravidez é uma medida comumente utilizada por parcerias sexuais no planejamento familiar. São diversas as possibilidades disponíveis para exercer esse direito, porém, é notável que há uma gama de opções muito maior para o sexo feminino do que para o masculino. Enquanto elas dispõem de dispositivos intrauterinos, múltiplos anticoncepcionais orais e injetáveis, métodos de barreira como o preservativo feminino e o diafragma, além de métodos cirúrgicos considerados permanentes e de difícil reversão como a laqueadura tubária; para eles, existem poucas alternativas – essencialmente duas, o preservativo de látex masculino e a vasectomia (método cirúrgico permanente).


Todavia, um método de vanguarda promissor visa ampliar a gama de contraceptivos masculinos e, até mesmo, reduzir a transmissão de infecções sexualmente transmissíveis: o RISUG. O jornal “A Sístole” irá, por meio dessa matéria, explicar como se deu o desenvolvimento dessa tecnologia, como funciona, quais os potenciais benefícios e prejuízos que o RISUG pode trazer para os seus usuários e os impactos sociais que esse novo método pode causar.



A história do RISUG

O Reversible Inhibition of Sperm Under Guidance (Inibição induzida reversível de esperma), mais conhecido pela sigla RISUG, é fruto de um trabalho desenvolvido por pesquisadores do Instituto Indiano de Tecnologia há mais de 50 anos. Na década de 70, seu idealizador, o prof. Sujoy K. Guha, observou o uso do composto estireno anidro maleico (SMA) no revestimento de tubulações de água como um bactericida e teorizou que uma versão adaptada do composto, se injetado nos ductos deferentes do sistema genital masculino (os quais transportam os espermatozóides produzidos nos testículos às vesículas seminais para formar o sêmen), poderia criar um revestimento igualmente capaz de inviabilizar os espermatozóides que passassem pelos ductos, esterilizando o sêmen.


No ano de 1979, o grupo de pesquisadores liderado pelo prof. Guha propôs a composição definitiva a ser utilizada no RISUG. Uma série de testes conduzidos ao longo de 10 anos em modelos animais, como murinos, coelhos e macacos, forneceram base empírica para que, em 1989, as autoridades em saúde indianas permitissem, pela primeira vez, a execução de ensaios clínicos em humanos. Desde então, o RISUG continua sendo testado em humanos, atualmente se encontrando na fase 3 dos ensaios clínicos, última etapa antes da comercialização ao público.



Como o RISUG funciona?

Sugere-se que o complexo químico final, composto do SMA associado ao solvente dimetilsulfóxido (DMSO), age por meio da oclusão direta dos ductos deferentes, pela acidificação do pH luminal dos ductos e por danos diretos aos espermatozoides, seja pelo

estímulo à produção de espécies reativas de oxigênio ou distúrbios na polaridade das membranas. Consequentemente, os gametas sofrem danos celulares, fragmentação do DNA, menor atividade do acrossoma e menor motilidade dos espermatozóides, reduzindo sua capacidade e viabilidade para a fecundação.




Benefícios da RISUG em comparação a outros métodos contraceptivos

  • Azoospermia (ausência de espermatozóides no sêmen) atingida dentro de 2 meses após o procedimento, podendo durar de 10 a 15 anos;

  • Não envolve cirurgia – o produto é injetado via percutânea nos ductos deferentes após anestesia local;

  • Processo facilmente reversível – fertilidade revertida em cerca de 2 meses;

  • Alta eficácia: 97,3% nos últimos resultados divulgados, sem efeitos adversos referidos;

  • Melhor custo-benefício a longo prazo;

  • Retorno à vida sexual ativa em 1 semana;


Além dos efeitos citados acima, estudos in vitro com o RISUG demonstraram efeitos antibacterianos em Escherichia coli, bactéria encontrada nas fezes humanas e que pode causar doenças, como infecções do trato urinário. Hipóteses sugerem que esses efeitos poderiam ser observados em outros microrganismos, como Candida albicans (causadora da candidíase), Pseudomonas aeruginosa, Staphylococcus aureus e, até mesmo, alguns vírus – tal qual o HIV, formando uma barreira contra a transmissão da doença pelos homens.



Por que o RISUG ainda não foi lançado?

Considerando o exposto, é sensato se perguntar sobre o porquê desse método ainda não ser utilizado no público mesmo depois de mais de 50 anos de pesquisas. A resposta para essa questão é multifatorial e complexa.

Em 1993, um apelo anônimo foi feito ao Conselho Indiano de Pesquisa Médica para que as pesquisas sobre o RISUG fossem interrompidas, sob a alegação de que seus componentes eram carcinogênicos. Prof. Guha argumentou que as substâncias causavam câncer separadamente, mas não quando unidas em complexo (como é o caso). Após 3 anos de paralisação dos testes, as pesquisas se reiniciaram, pois nem o Conselho, nem as partes acusatórias foram capazes de provar que o RISUG, de fato, era carcinogênico.


Posteriormente, em 2002, com o projeto já em fase 3, uma nova suspeita de toxicidade foi levantada. Traços de albumina foram encontrados na urina de voluntários após a aplicação, o que poderia indicar toxicidade renal causada pelo RISUG. Revisões dos casos foram feitas, mais uma vez sem comprovação de que tais achados eram provocados pelo composto, porém o teste foi reiniciado apenas em 2007.


Além dessas interrupções, segundo o prof. Guha, grande parte das oposições ao progresso do RISUG são advindas da indústria farmacêutica, que vê a nova técnica como uma ameaça à comercialização de soluções mais rentáveis a longo prazo para as fabricantes, como as populares pílulas anticoncepcionais femininas.


Por fim, vale ressaltar o aspecto cultural que envolve o papel do homem na contracepção e que também vem contribuindo para a demora no lançamento do produto. Encontrar voluntários para a fase 3 dos ensaios clínicos se torna uma tarefa árdua tendo em vista o cenário machista em relação à concepção, em que a rejeição e a resistência pelo público masculino é grande.

Desde 2019, os testes clínicos de fase 3 terminaram, mas o RISUG segue aguardando aprovação dos órgãos de saúde responsáveis na Índia. Prevê-se que o produto esteja disponível para uso público em 2023, sem data para chegar no Brasil.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

  1. SOHINI, C. The Professor Who Had To Spend Half His Life To Make The Drug India Needs. The Wire, 19 nov. 2019. Disponível em: https://thewire.in/health/risug-male-contraceptive-icmr. Acesso em: 29 out. 2022.

  2. KHILWANI, B.; BADAR, A.; ANSARI, A. S.; LOHIYA, N. K. RISUG® as a male contraceptive: Journey from bench to bedside. Basic and Clinical Andrology, BioMed Central, v. 30, n. 2, 13 fev. 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7017607/. Acesso em: 29 out. 2022.

  3. LOHIYA, N. K.; ALAM, I.; HUSSAIN, M.; KHAN, S. R.; ANSARI A. S. RISUG: Na intravasal injectable male contraceptive. Indian Journal of Medical Research, v.140, n. 1, S63-S72, nov. 2014. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4345756/ - ref1. Acesso em: 29 out. 2022.

 
 
 

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