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RISO EM AMPLO ESPECTRO

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 10 de jun. de 2021
  • 3 min de leitura

Por Rachel Boechat


O ator Paulo Gustavo faleceu recentemente, no dia 4 de maio de 2021. A morte do artista provocou luto nacional, envolvendo múltiplas postagens em sua memória nas redes sociais e aplausos na cidade em que o mesmo nasceu e foi velado, Niterói - RJ.

O ator, comediante e roteirista foi reconhecido principalmente por sua personagem intitulada Dona Hermínia, uma dona de casa histérica, descompensada e alegre que tinha um jeito único e envolvente de demonstrar amor aos seus filhos. Entre suas várias obras teatrais e cinematográficas, o filme “Minha mãe é uma peça 3” lançado em 2019, foi o filme brasileiro mais vendido em bilheterias de cinema na história do cinema nacional, arrecadando mais de 150 milhões em receita de vendas.

Em memória a esse grande ator e em meio a tantos desastres e tristezas, esse press release é sobre a importância do riso e seus efeitos biológicos.


O RISO E A SOCIOLOGIA:


O riso é uma das principais expressões utilizadas na comunicação social. Causa bem estar

e conecta pessoas desviando-as, em certos momentos, de situações de estresse e dificuldades cotidianas. É um fenômeno universal que ultrapassa culturas, idade e grupo étnicos. O riso e a comicidade foram primariamente pesquisados nas áreas da sociologia e psicologia por pesquisadores como Henri Bergson e Sigmund Freud no século XIX. Com a virada do século, os cientistas começaram a pesquisar sobre o assunto em outro aspecto, principalmente, sobre as bases da neurociência do riso. Para Henri Bergson, o humor requer o uso da inteligência e o riso tem um papel social causado pela flexibilidade do corpo e da mente do indivíduo. Atitudes, gestos e movimentos do corpo humano podem provocar risadas. Para esse sociólogo, diversas situações garantem a comicidade, como o caráter humano, situações cotidianas que promovem sentimento de pertencimento ao grupo ou rir de um grupo e movimentos que causem estranhamento, comparações entre indivíduos e objetos, palavras, entre outros. O francês Henri Bergson escreveu mais de um livro promovendo o debate sociológico sobre o riso. Por isso, descreve inúmeras formas de promover a comicidade através da criatividade.


QUANTO AOS EFEITOS FISIOLÓGICOS DO RISO:


O riso estimula a produção de endorfinas que diminuem ou previnem a dor, diminuem a pressão sanguínea, doenças cardíacas e hormônios do estresse. Paralelamente, existem diversas pesquisas científicas que evidenciam a correlação entre o riso e mudanças no sistema imune e endócrino nos indivíduos estudados. Como exemplo: numa experiência conduzida por Dillon (1985) dois grupos de indivíduos foram acompanhados: o primeiro assistiu a uma comédia; o segundo, a um documentário. Ao final da sessão, coletas de saliva desses indivíduos revelaram que os membros do primeiro grupo tiveram um acréscimo nos níveis de imunoglobulina IgA, anticorpos responsáveis por combater infecções respiratórias. Ademais, o humor também garante aspectos subjetivos de saúde: indivíduos otimistas apresentam uma maior flexibilidade ao lidar com situações adversas no cotidiano e, por isso, demonstram menores índices de estresse, exatamente porque a criatividade garante uma forma ampla de lidar com as situações indesejadas. Em relação aos cuidados em saúde, o papel do humor pela experiência de médicos e enfermeiros é visto como parte do cuidado psicossocial do paciente. O humor pode diminuir dor e ansiedade em pacientes, normalizando situações de estresse.

A NEUROCIÊNCIA DO RISO:


Quanto às bases neurológicas do riso, acredita-se que a capacidade de rir advém das células chamadas neurônios espelhos. Esses neurônios têm a capacidade de provocar empatia, sensibilizar os indivíduos a situações alheias e, até mesmo, repetir ações específicas como o bocejar. Essas estruturas garantem o valor social da risada. Isso explica o riso contagiante: é comum que comecemos a rir quando alguém está gargalhando sem parar, porque até mesmo a risada em si é engraçada. Acredita-se que os autistas apresentem uma quantidade inferior de neurônios espelhos em seu SNC, o que justifica a dificuldade dessa população em interagir e promover a sociabilidade.


Sabendo que existem diversas perspectivas quanto ao valor e aos benefícios do riso, não se pode negar que a comicidade é extremamente trivial a nossa sociedade. Entretanto, devemos continuar combatendo preconceitos e ideias racistas, homofóbicas, misóginas, gordofóbicas e xenofóbicas presentes em piadas e conteúdos que promovem o humor. A comicidade acompanha a evolução cultural e, por isso, piadas maldosas deixarão de ser engraçadas com a persistência dos debates sobre a representatividade e a busca por igualdade. Paulo Gustavo exercia sua genialidade como ator e fazia, também, sátiras sobre a população LGBTQI+, mas era um homem gay e nunca abordou esses temas com valor de inferioridade, promovia o riso pelo riso, pela arte de fazer rir. Paulo Gustavo sempre foi, sobretudo, afrontoso à intolerância. Não existe mais espaço para o preconceito. Rir é um ato de resistência.


Referências

- VERRONE, Alessandro Bender. Uma abordagem cognitiva do riso. 2009.

- CAPELA, Renata Campos. Riso e bom humor que promovem a saúde. Rev. Simbio-Logias, v. 4, n. 6, p. 176-84, 2011.

 
 
 

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