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RELATOS PESSOAIS: Vou me formar: e agora?

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 19 de jan. de 2021
  • 3 min de leitura


Por: Débora Ribeiro Bastos


Entrei na faculdade de medicina com 21 anos, sem graduação prévia e nenhuma noção real de como seria o curso. Tinha apenas uma ideia romantizada do futuro nada similar à realidade. Saí da casa dos meus pais sem planejar. Do dia para noite me mudei para Macaé, comecei a conviver com pessoas desconhecidas de diversos locais do Brasil e tive poucas referências nas quais me apoiar. Isso mudou muito rapidamente com a criação de fortes laços de amizade e companheirismo com os colegas de turma o que facilitou minha adaptação ao curso e suas exigências, pois tive sempre um ombro amigo onde me apoiar, alguém para passar noites estudando juntos, comparar performance, dividir aflições e conquistas. Todavia, nem tudo é alegria na faculdade e existiram também muitos momentos difíceis.


A graduação nos rouba coisas ao longo do tempo. Abrimos mão de atividades prazerosas importantes sem perceber, perdemos a proximidade física dos velhos amigos e da família, temos dificuldades para manter uma rotina saudável, somos expostos a uma maior carga de estresse e ansiedade, surgem novas inseguranças em relação à nossa capacidade acadêmica e ao futuro. Em medidas variáveis, isso ocorre com todos nós. Em contrapartida, a graduação também nos fornece muitas coisas. Um constante progresso acadêmico e pessoal, novas paixões, contato com realidades diferentes, conexões pessoais inesperadas, oportunidade de aprender com diversos profissionais e com os pacientes, amadurecimento e equilíbrio. Molda quem seremos no futuro. É o início desse longo percurso acadêmico e profissional que perdurará por muitas décadas após o término da graduação.


Foi no dia a dia dos ambulatórios, enfermarias e demais estágios do ciclo clínico e internato que pude conhecer e me apaixonar pela clínica médica, minha futura área de atuação, assim como muitos se apaixonam pela medicina de família, obstetrícia, cirurgia, pediatria, saúde mental... Para mim esse momento ocorreu no sexto período e todo percurso desde então foi uma consolidação da vontade de me aprofundar nesse campo. Há poucas semanas da formatura é de fato a única certeza que tenho.


Existem muitas dúvidas e inseguranças nesse momento: “Estou preparada para ser médica?” “Vou conseguir conduzir bem todos os pacientes que chegarem até mim?” “Passarei na residência médica direto ou irei trabalhar por um tempo?” “Onde irei trabalhar? Emergência, CTI, ESF, ambulância?” “Estou preparada para tudo isso?”


A verdade é que eu não me sinto preparada. A medicina é muito ampla, complexa e passível de erros. A faculdade não nos prepara para tudo, para a realidade do atendimento em locais com recursos limitados, as dificuldades interpessoais do trabalho em equipe, nossas próprias limitações e pontos cegos. Eu aprendi muito nesses últimos anos. Especialmente durante o internato pude contar com alguns preceptores maravilhosos, que me ensinaram mais na prática do que em todos os períodos focados em disciplinas teóricas. Porém, todo esse aprendizado é só a ponta do iceberg e para cada coisa que aprendi tenho ciência de que existem dezenas de coisas que não sei. Às vésperas da formatura isso me causa receio e angústia.


Hoje existem mais dúvidas do que certezas. Mais insegurança do que regozijo. No entanto, essa é uma sensação comum e compartilhada por muitas pessoas nessa transição estudante/formando. Esse questionamento é saudável para estimular a busca contínua por mais conhecimento e experiência, ser cuidadoso ao checar e atualizar condutas e pedir ajuda quando necessário para os colegas de profissão, pois nenhum de nós sabe tudo. O momento da formatura chega rápido para todos e isso é só o começo de uma longa jornada de vida.

 
 
 

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