RELATOS PESSOAIS: O EXERCÍCIO DE UMA PROFISSÃO EM PARALELO COM A GRADUAÇÃO EM MEDICINA
- Jornal A Sístole
- 4 de ago. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de ago. de 2020
"Olá! Meu nome é Heliomar Junior (Junior rs) e a convite do jornal “A Sístole” venho escrever um pouco sobre minha história. Ao ser confrontado por essa tarefa, percebi uma certa dificuldade sobre até que ponto regressar para criar uma narrativa cronológica. Pedi, inclusive, auxílio para entender em qual momento minha história se misturou com a medicina. Pois bem, minha mãe dizia que desde criança eu já desejava cursar medicina, o que me traz a impressão que, de certa forma, isso iria se concretizar, mas no meu caso particular a trajetória não foi muito retilínea. Ao contrário, tiveram muitas nuances e voltas até chegar aqui. E, para contar sobre ela, em resumo preciso dizer que comecei minha trajetória como técnico em enfermagem. Trabalhei, e ainda trabalho, em muitos hospitais no Rio de Janeiro nessa função, o que me aproximou ainda mais desse objetivo.
Nesse contexto, servi como militar na Força Aérea Brasileira, também como técnico em enfermagem, onde pude participar de diversas experiências como a missão humanitária ao Haiti e que poderiam desvirtuar aquele objetivo/sonho de criança, entretanto, alguma coisa ainda falava mais alto em termos de realização pessoal. Nessa busca, paralelamente, cursei a graduação em enfermagem na extinta Universidade Gama Filho com a finalidade de aprender mais sobre as ações que desempenhava. A medicina não era um desejo palpável à época, em função de muitos compromissos assumidos e que acredito compartilhar essa parte da história com muitos de meus colegas.
Após a graduação, ainda cursei pós-graduação em cardiologia e uma iniciativa como aluno especial de mestrado. Ainda assim, restava uma fagulha, uma ponta solta nessa famigerada busca. Foi então que decidi assumir aquele compromisso de criança. Assim sendo, resolvi interromper minha carreira nas Forças Armadas por meio da baixa (o que não fez muito sentido para maioria de meus pares, alguns familiares e amigos em função da estabilidade alcançada àquela altura) e comecei os estudos para passar em Medicina. Era a primeira vez que encarava aquele objetivo de frente. Isso datava do ano de 2015.
Não obtive êxito na primeira tentativa, como a realidade de muitos alunos. Desanimei. Encarei novamente a realidade profissional a qual nunca abandonei. Regressei em 2017 e consegui a aprovação na querida UFRJ-Macaé. Àquela altura, aos 31 anos e com empregos estáveis na enfermagem, isso não seria uma tarefa muito fácil de cumprir. Retornar à sala de aula e começar a estudar depois de muito trabalho e estudo requer um certo condicionamento mental e comportamental - eu diria rs. De todo modo, tomada a decisão de iniciar uma nova graduação, é mister salientar a importância de todos os meus familiares nessa guinada. Ressalto o apoio de meus pais Heliomar e Rosemery, de meu irmão Hudson e de minha namorada e, hoje, companheira e esposa Juliana e de muitos amigos estendendo essa citação a todos que não foram, aqui, mencionados.
Assim sendo, o começo da faculdade foi bem difícil, considerando a necessidade de adequação dos horários. Para ficar mais claro, eu trabalho em um Hospital no Rio de Janeiro em regime de plantão no período noturno e precisava conciliar com a aula se iniciando em Macaé às “08 e qualquer coisa”! Isso, naturalmente, se tornou muito desgastante. Ainda mais se extrapolasse o pensamento para os próximos 6 anos, imaginando que o curso tomaria outras dimensões e, também, uma complexidade maior. Logo, por alguns dias ou muitos dias, a gente fraqueja, fica cansado, pensa se aquele caminho foi o adequado. Outros dias, apenas penso no próximo compromisso rs. Pensar muito à frente compromete a sua motivação por vezes. Porém, aqui estou hoje, no 6° período e não teria chegado aqui sem a ajuda IMPRESCINDÍVEL de meus colegas e amigos de turma. Aqui, deixo meu profundo agradecimento a cada um, os mais próximos, os mais distantes... Todos me auxiliaram e me acolheram de maneira que eu pudesse ter forças e chegar até aqui. Logo, a passagem nos períodos e as experiências compartilhadas se tornaram mais prazerosas, entretanto, não menos difícil pela necessidade de conciliação entre estudo e trabalho.
Por fim, acho que compartilho dessa característica da necessidade de compartilhamento entre estudo/trabalho com alguns colegas. Aqui vai meu cumprimento a todos vocês pela força e persistência que demonstram a cada dia. Uso e felicito-me por ter histórias parecidas nessa faculdade, a qual mostra que nunca é tarde. Que é possível “dar passos atrás” como se costuma dizer. Alegra-me sermos resistentes e poder dividir essa mesma resistência para que outros que tenham essa vontade intrínseca de que é factível e não importa o tempo em que isso se concretize. No final, resta a cada um resistir, ser perseverante e avançar!"
Texto escrito por Heliomar Junior
Mediado por Karine Corrêa
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