RELATOS PESSOAIS: MATERNIDADE E GRADUAÇÃO EM MEDICINA

Texto escrito por Iasmin Cristina Ferreira Franco

Mediado por Ingryd Toneti

Olá, me chamo Iasmin, tenho 31 anos, sou arquiteta, casada, mãe da Aurora e tenho na graduação em medicina a realização de um sonho. Ingressei no curso em 2018.2 através de um processo seletivo de mudança de curso especial, sendo alocada no terceiro período. Descobri a gestação em julho desse mesmo ano, com 8 semanas de gestação.

Minha ideia inicial era continuar cursando todas as disciplinas normalmente e pedir exercício domiciliar na semana da minha DPP (data provável do parto), para isso, logo no início do período comecei a conversar com os professores das disciplinas e com as instâncias responsáveis para que me auxiliassem no processo.

Infelizmente, não obtive sucesso em todos os pedidos, sendo instruída ao trancamento de algumas disciplinas, mesmo já tendo cursado uma parte delas presencialmente, pois continuei frequentando as aulas até 38 semanas de gestação. Admito que as escadas, a falta do ar condicionado, os longos períodos sentada e as inúmeras idas ao banheiro nesse período não foram fáceis, mas minha vontade de continuar estudando falavam mais alto, e a Aurora na barriga fazia festa durante as aulas.

Em relação ao indeferimento do meu pedido de exercício domiciliar, confesso que fiquei muito decepcionada, pois não queria trocar de turma e “atrasar" em mais um período minha formação, porém, depois que a Aurora nasceu, percebi que fora a melhor decisão. Os primeiros meses de uma mãe de primeira viagem são muito desgastantes, mesmo tendo rede de apoio, são noites mal dormidas e um processo de descobrimento da nova vida, do novo ser que temos que cuidar e da nova mulher que somos. Além disso, poder vivenciar cada minutinho dessa experiência ao lado do bebê é uma sensação indescritível.

Retornei aos estudos quando a Aurora estava com quase três meses de idade, para cumprir a carga horária prática da disciplina de propedêutica médica. Nesse momento, ter a presença e apoio da minha mãe foi essencial, já que ela me acompanhava e ficava aguardando com a Aurora no estacionamento enquanto eu colhia as anamneses entre uma mamada e outra.

Em 2020.1, eu iria finalmente cumprir a disciplina de Mecanismos Básicos Saúde-Doença e prosseguir regularmente com a turma. Minha rotina de idas frequentes ao polo havia recomeçado, agora com o novo desafio de manter a amamentação em livre demanda da Aurora (mesmo após a introdução alimentar) e estudar bastante para concluir o quarto período!

Porém, com a pandemia, tudo mudou e hoje estou curtindo a Aurora em casa. Apesar do desejo de retorno às aulas e da ânsia pela formação na tão sonhada profissão, enxergo esse período em que nos encontramos reclusos com um olhar de gratidão, pois vejo que sou privilegiada em poder acompanhar o desenvolvimento da minha filha tão de perto, e sei que isso não seria possível com a nossa rotina corrida e desgastante de estudante de medicina.

Seria ótimo se tivéssemos no polo universitário um ponto de apoio que possibilitasse a amamentação, um espaço mais confortável onde os acompanhantes pudessem esperar com os bebês enquanto nós, mães, assistimos às aulas, um local para esquentar leite ou armazenar um alimento. Na minha experiência, contamos com muito acolhimento dos funcionários que nos convidavam a ficar na copa ou na biblioteca, mas percebo ser uma demanda de diversas alunas mães.

Por fim, sou muito feliz por ter amizades incríveis que me auxiliaram enquanto estava gestante e me apoiam até hoje e, principalmente, uma família maravilhosa que me apoia em tudo, e que está sempre ao meu lado sonhando os meus sonhos e tornando-os possíveis.

Meu conselho para quem está vivendo o mesmo que eu é: aproveite cada fase, curta todos os momentos, pois tudo acontece no tempo certo, valorize cada minuto, sem pressa e sem afobação!

A equipe "A Sístole" agradece à Iasmin pela disponibilidade e confiança no nosso trabalho!