Radiação e Saúde

Por: Leandro dos Santos de Oliveira

​No contexto da recente guerra entre Ucrânia e Rússia, um bombardeio russo à usina nuclear de Zaporizhzhia, Ucrânia, danificou vários edifícios próximos às unidades geradoras de energia. Mesmo sem um desastre radioativo, tal evento resgata as lembranças do acidente nuclear de Chernobyl em 1986, o maior da história, e os bombardeamentos atômicos de Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Juntos, os episódios ceifaram mais de 270 mil vidas direta e indiretamente, além de contaminar terras, destruir cidades e causar impacto grave na saúde da população local e adjacente.

​É fato que a radiação já protagonizou capítulos nefastos da história e está ligada a doenças. Entretanto, por trás do estigma, é um fenômeno físico essencial para a vida humana e o desenvolvimento da sociedade, que beneficia nosso dia a dia se usado adequadamente, inclusive na área da saúde. Para desmistificar o assunto, o Jornal “A Sístole” traz alguns conceitos sobre a radiação, focando nos seus impactos negativos e positivos na saúde humana.

O que é radiação e onde ela se encontra?

​A radiação é a transmissão de energia como ondas ou partículas pelo vácuo ou meios materiais. Ela se encontra na natureza na forma de: luz visível, radiação infravermelha (sentida por humanos como calor), radiação ultravioleta (proveniente do sol), e de minerais radioativos (muitos encontrados na água potável e no solo); esses são alguns dos exemplos de radiação com os quais o homem lida diariamente. A radiação também pode ser gerada artificialmente, como é o caso da radiação micro-ondasem que se baseia o funcionamento dos fornos micro-ondas caseiros, e as ondas de rádio utilizadas pelos meios de comunicação, telefonia e internet.

Toda radiação faz mal à saúde?

​Não! Existem vários tipos de radiação, mas para fins desta matéria, serão abordadas as radiações ionizantes e as radiações não-ionizantes.

● Radiações ionizantes: são radiações de alta energia, capazes de “retirar” elétrons (cargas negativas) dos átomos, formando íons. Ela é capaz de danificar a integridade de células dos seres vivos, afetando principalmente o DNA, material genético dos humanos e primordial para o bom funcionamento do organismo. Apesar de possuir mecanismos de reparo para lesões genéticas, a exposição prolongada ou em altas doses de radiação ionizante pode levar a danos permanentes, causando doenças.

● Radiações não-ionizantes: sendo de baixa energia, causam apenas rotações e vibrações nos átomos, não gerando ionização. Por isso, ela não é nociva aos seres vivos e não causa doenças.

Em que situações estou suscetível a danos por radiação?

​Todos os humanos se expõem à radiação diariamente, sobretudo pela exposição aos raios ultravioleta (UV) da luz solar e aos minerais presentes no solo, nas rochas, nos materiais de construção civil e na água potável. Porém, ressalta-se que os danos à saúde por radiação dependem da dose absorvida pelo organismo, do tempo de exposição à radiação e da frequência com que é exposto. Desse modo, a maioria das exposições à radiação são seguras à saúde humana, enquanto algumas, como a exposição aos raios UV, exigem certa moderação e proteção para evitar lesões.

​Indivíduos mais suscetíveis a danos por radiação são:trabalhadores da indústria nuclear, mineradores que lidam com o gás radônio e funcionários de instituições médicas ou laboratórios que lidam com equipamentos que emitem radiação. Esses profissionais e seus empregadores devem seguir as normas de segurança para preservar a saúde de todos os envolvidos.

Quais doenças a exposição à radiação pode causar?

​A alta exposição à radiação ionizante de alta intensidade e num curto espaço de tempo (como minutos) pode causar a Síndrome Aguda da Radiação (SAR), que cursa com sintomas hematológicos, gastrointestinais, cardiovasculares e neurológicos. Febre, infecções, hemorragia, anorexia, diarreia severa com desidratação, convulsões e coma são alguns dos sintomas possíveis da síndrome. A morte ocorre após meses ou dias da exposição. Outra patologia relacionada à radiação ionizante é a Lesão Cutânea por Radiação (LCR), que pode acontecer com ou sem a SAR e dentro de horas a dias após a exposição. Sintomas incluem prurido (coceira), eritema (vermelhidão) e edema na pele.

​A exposição crônica à radiação ionizante pode danificar a regulação da reprodução de células teciduais humanas, acarretando um desequilíbrio nessa proliferaçãoque se torna excessiva e desorganizada, podendo levar ao câncer. Um exemplo desse processo é o desenvolvimento de câncer de pele por exposição prolongada aos raios UV do sol sem adequada proteção por filtros solares.

Então a radiação ionizante só traz malefícios aos seres humanos?

​Não! É verdade que o impacto da radiação ionizante no organismo é danoso nas condições expostas acima. Porém, muitos avanços na área da saúde foram alcançados utilizando as propriedades das radiações ionizantes, desenvolvendo tecnologias que, se utilizadas com critério e segurança, são primordiais para o tratamento e o diagnóstico de diversas doenças. Veja alguns exemplos:

● Radioterapia: é o uso de radiação ionizante (gama, raios x ou feixes de elétrons) para o tratamento de câncer. Utiliza-se doses calculadas e seguras de radiação em intervalos adequados ao objetivo de eliminar células cancerígenas sem lesionar células sãs.

● Eletronterapia: uso de radiação para a prevenção de queloides e cicatrizes hipertróficas em pessoas predispostas.

● Iodoterapia: consiste na administração de iodo-131, elemento radioativo, nos casos de câncer de tireoide. As células cancerígenas da glândula captam o iodo-131, morrendo no processo.

● Exames de imagem: a radiografia (raio x), a tomografia e a mamografia são exames de imagem que fazem uso dos raios X, um tipo de radiação ionizante para capturar as suas imagens.

A radiação está presente em nossas vidas diariamente, seja ela natural ou artificial. Apesar do “tabu” relacionado ao termo por conta dos seus usos históricos como arma bélica ocasionando catástrofes nucleares, é possível perceber que o uso correto e criterioso da radiação é capaz de promover saúde, permitir a comunicação entre pessoas, gerar energia elétrica e muito mais. Em suma, ela é uma ferramenta poderosa, que pode ser usada tanto para o malefício quanto para o benefício da humanidade.

REFERÊNCIAS

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