Práticas Integrativas e Complementares em Saúde

Por Gabriella Berto

As Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) são recursos terapêuticos que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade. Uma das abordagens desse campo é a visão ampliada do processo saúde/doença e da promoção global do cuidado humano, especialmente do autocuidado e da prevenção; assim, suas indicações são embasadas no indivíduo como um todo, considerando-o em todos os seus aspectos: físico, psíquico, emocional e social. Foram institucionalizadas no SUS por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) e incluem diversas modalidades:

Acupuntura

A acupuntura é uma prática de intervenção em saúde, criada há mais de dois milênios, que faz parte dos recursos terapêuticos da medicina tradicional chinesa (MTC); seu uso pode ser isolado ou integrado com outros recursos terapêuticos da MTC ou com outras formas de cuidado. Essa técnica estimula pontos espalhados por todo o corpo por meio da inserção de finas agulhas filiformes metálicas, visando à promoção, manutenção e recuperação da saúde, bem como a prevenção de agravos e doenças.

Ayurveda

Segundo essa prática de origem indiana, o corpo humano é composto por cinco elementos – éter, ar, fogo, água e terra –, os quais compõem o organismo e os estados energéticos e emocionais; quando unidos dois a dois, esses elementos formam os Doshas - ou seja, a constituição física e psicológica de cada indivíduo, a qual pode ser do tipo Vãta, Pitta e Kapha - e, em desequilíbrio, podem induzir o surgimento de doenças. Assim, a investigação diagnóstica no Ayurveda é feita a partir de suas teorias fundamentais, como a avaliação dos doshas, e leva em consideração diversos aspectos, como os tecidos corporais afetados, humores, local em que a doença está localizada, resistência e vitalidade, rotina diária, hábitos alimentares, condição de digestão, detalhes pessoais e sociais, entre outros. Para o Ayurveda, cada ser humano é único e individual, devendo ser tratado como tal; dessa forma, os tratamentos ayurvédicos consideram a singularidade de cada pessoa e utilizam técnicas de relaxamento, massagens, plantas medicinais, minerais, posturas corporais (ásanas), pranayamas (técnicas respiratórias), mudras (posições e exercícios) e cuidados dietéticos próprios para o indivíduo. Uma pessoa saudável é, portanto, aquele que tem os doshas em equilíbrio, os dhatus (tecidos) com nutrição adequada, os malas (excreções) eliminados adequadamente, e apresenta uma alegria e satisfação na mente e espírito.

Fitoterapia

Enquanto o uso de plantas medicinais é uma prática milenar e tradicional, a fitoterapia consiste em um tratamento terapêutico mais recente e regularizado, caracterizando-se pelo uso de plantas medicinais em suas diferentes formas farmacêuticas (fitoterápicos), sem a utilização de substâncias ativas isoladas; seu objetivo é a promoção, proteção e recuperação da saúde. Por se tratar de um medicamento, o fitoterápico necessita de todas as fases de produção com boas práticas e controle de qualidade, além de serem contraindicadas a automedicação e a prescrição sem indicação. Essa terapia integrativa vem crescendo de forma significativa no começo do século XXI, principalmente por sua acessibilidade, e é importante que seu uso ocorra de forma racional.

Musicoterapia

Prática integrativa conduzida em grupo ou de forma individualizada, que utiliza a música e seus elementos – som, ritmo, melodia e harmonia – num processo facilitador e promotor da comunicação, da relação, da aprendizagem, da mobilização, da expressão, da organização, entre outros objetivos terapêuticos relevantes, no sentido de atender necessidades físicas, emocionais, mentais, espirituais, sociais e cognitivas do indivíduo ou do grupo.

Yoga

Prática corporal e mental de origem oriental utilizada como técnica para controlar corpo e mente, associada à meditação. Age em aspectos físico, mental, emocional, energético e espiritual do praticante e possui como principais benefícios a redução do estresse, a regulação do sistema nervoso e respiratório, o equilíbrio do sono, o equilíbrio da produção hormonal, o fortalecimento do sistema imunológico, o aumento da capacidade de concentração e de criatividade, entre outros efeitos que reverberam na qualidade de vida dos praticantes.

Além dessas, existem ainda mais de 20 outras práticas abrangidas pela PNPIC, as quais são transversais em suas ações no SUS e podem estar presentes em todos os pontos da Rede de Atenção à Saúde, incluindo Atenção Primária e serviços de média e alta complexidade. É fundamental para sua efetiva implantação estimular nos territórios espaços de fortalecimento do debate sobre as práticas, garantindo o entendimento de seu papel complementar nas vias terapêuticas.

Referências bibliográficas:

BALBINO, Evelin E.; DIAS, Murilo F. Farmacovigilância: um passo em direção ao uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 20, p. 992-1000, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria n° 971, de 3 de maio de 2006. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 4 mai. 2006. p. 20.

FIGUEREDO, Climério Avelino de; GURGEL, Idê Gomes Dantas ; GURGEL JUNIOR, Garibaldi Dantas. A Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos: construção, perspectivas e desafios. Revista de Saúde Coletiva, v. 24, 2014.

SIQUEIRA, Maria Natividade Gomes de. Ayurveda: um estudo das relações entre os Doshas e os pressupostos alimentares e espirituais. João Pessoa: UFPB, 2020.