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PRONTUÁRIO AFETIVO E A HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO EM SAÚDE

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 31 de mar. de 2022
  • 3 min de leitura


Por Cibele Loiola e Karine M. Corrêa


Quando falamos do cuidado em saúde, parece lógico pensarmos em um processo humanizado. No entanto, o que se observa em muitos cenários é uma abordagem padronizada dos pacientes, pouco considerando a sua individualidade. Essa deficiência começa na graduação, focada no desenvolvimento de técnicas e habilidades enrijecidas, com a doença em primeiro plano e o indivíduo sendo resumido à sua condição de saúde.


Uma das bases do cuidado médico é a anamnese, que abarca a identificação, queixa do paciente, histórico de doenças, histórico familiar e social, dentre outros pontos essenciais para a investigação da condição de saúde. Apesar da eficiência da estratégia para diagnóstico, a anamnese pouco contribui para a humanização do atendimento, já que não visa a individualidade do paciente. Quando consideramos a internação do doente, especialmente por períodos prolongados, valorizar a subjetividade é essencial para construir uma boa relação profissional-paciente e minimizar o sofrimento.


A pandemia causada pela COVID-19 evidenciou a importância da prática de uma medicina com foco no paciente. Afinal, tem sido uma situação atípica para todos, em que o isolamento é necessário, as visitas familiares aos pacientes são pouco viáveis e os profissionais de saúde ficam sobrecarregados. Com isso, muitas vezes, práticas humanizadas são um meio de fortalecer a relação profissional-paciente e de amenizar o desgaste gerado pela pandemia.


Em vista disso, a artista visual e médica reumatologista Isadora Jochims, integrante da Comissão de Humanização do Hospital Universitário de Brasília, passou a fazer perguntas sobre seus pacientes aos familiares durante o boletim diário, como, por exemplo, “ao despertar, qual música ele gostaria de ouvir?”. Então, a resposta era escrita e fixada no leito do paciente. Os resultados dessa abordagem logo puderam ser observados, quando um paciente teve sua frequência cardíaca aumentada e conseguiu se movimentar.


Com o retorno positivo da iniciativa, Isadora e a equipe expandiram a ideia e desenvolveram o “prontuário afetivo”. A medida passou a ser incrementada com outras perguntas acerca dos gostos, interesses, hábitos, passatempos e afetos do paciente. Outra informação levantada foi a forma como a pessoa gosta de ser chamada, seja pelo nome, seja por um apelido, por exemplo. Assim, a interação no local ultrapassa o âmbito da situação clínica e abrange elementos presentes no cotidiano do paciente, proporcionando um cuidado não somente físico, mas também mental e espiritual.


Dessa forma, o prontuário afetivo possibilita uma assistência humanizada e um ambiente acolhedor para o paciente. Permite, ainda, a escolha de músicas capazes de estimular determinadas áreas do cérebro e resgatar memórias positivas. Além disso, os estados emocionais afetivos, influenciados por esse tipo de atendimento, estão associados à imunocompetência da pessoa, o que contribui para uma evolução satisfatória do seu quadro clínico.


Os benefícios dessa medida atingem também a equipe envolvida, que percebe melhoras significativas nas condições de saúde e pode interagir de maneira mais empática e cordial com os pacientes. Já os familiares se sentem mais seguros e aliviados ao saber que seus entes estão em um ambiente confortável, que propõe um atendimento responsável e humano.


Tendo em vista suas inúmeras vantagens, a estratégia foi divulgada nas redes sociais e amplamente utilizada nos hospitais brasileiros, especialmente no cenário pandêmico. Ela tem sido aplicada também em cuidados paliativos, a fim de diminuir o sofrimento de pacientes terminais e proporcionar a eles momentos leves e acolhedores. A criação de um prontuário afetivo não se restringiu aos médicos, sendo adotada por psicólogos, enfermeiros e outros profissionais da área, o que favoreceu a disseminação da ideia. O processo contribui, e muito, para a humanização do cuidado em saúde, permitindo aos profissionais a capacidade de desenvolver habilidades que minimizem o sofrimento causado pela condição e contexto.


Considerando os benefícios e a importância do processo de humanização da saúde, tal prática precisa ser valorizada desde a graduação. Diversas estratégias contribuem para um atendimento mais humano, como a distribuição de livretos para crianças, a visita de voluntários e a entrega de mensagens motivacionais aos pacientes. O prontuário afetivo é outro ótimo exemplo de medida que contribui para esse propósito, mesmo sendo uma ideia recente e pouco estudada até o momento. A Política Nacional de Humanização tem papel importante, objetivando a qualificação da atenção e gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), passo essencial para um melhor cuidado.

Logo, percebe-se a necessidade da divulgação e propagação das estratégias já citadas e de muitas outras, para que o processo de cuidado se torne cada vez mais respeitoso e humano.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Mezzalira DP, Ferreira AC, Andrade GH, Teo CRPA, Mattia BJ. A humanização na educação médica no Brasil. Research, Society and Development. 2022. 11(1), e57711125337-e57711125337.

2. Sales MED, Gomes SAN, Novaes NMF. Repercussões na saúde mental de psicólogos hospitalares durante a pandemia Covid-19. 2022.

3. Sihnel A, Vieira T. Prontuário afetivo: um novo paradigma de tratamento humanizado. 2021.

4. VivaBem. Prontuário afetivo: atendimento humanizado ajuda na melhora de pacientes.

5. Ministério da Educação. Prontuário afetivo” humaniza atendimento a pacientes com Covid-19 no hospital da Rede Ebserh/MEC no DF


 
 
 

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