PRESS RELEASE: POR QUE VACINAR?
- Jornal A Sístole
- 29 de jul. de 2021
- 4 min de leitura

Por Nathalia Cardozo
A vacinação contra a COVID-19, iniciada em janeiro de 2021 no Brasil, levantou diversos questionamentos acerca da potência imunogênica das vacinas e do seu papel social e epidemiológico ao longo dos anos. “Vacina” descende do latim vaccinus, que significa “derivado da vaca.” O nome que hoje conhecemos remete à criação do primeiro imunizante, contra a varíola, uma doença que atingia as vacas e os humanos no século XVIII. Ao perceber que indivíduos de áreas rurais que tinham contato com vacas contaminadas não contraíam, posteriormente, o vírus humano, Edward Jenner aplicou uma dose da varíola bovina em um menino de 8 anos, que desenvolveu a forma branda da doença. Após a recuperação do garoto, Jenner injetou o vírus em sua forma mais letal, também extraído de um bovino, e a criança não ficou doente. Eis que foi desenvolvida, portanto, a primeira vacina no mundo.
Em 1904, Oswaldo Cruz impulsionou a obrigatoriedade da vacinação no Brasil, diante do número alarmante de mortes por varíola. Essa imposição não foi bem recebida pela população, o que desencadeou a Revolta da Vacina no Rio de Janeiro – a população recusava prevenção, e os profissionais de saúde insistiam na imunização à força. Corria na cidade o boato de que quem recebesse o vírus inoculado ficaria com feições bovinas. O medo assolava a população, e a História conta que o saldo foi de 945 prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos.
Em 1908, um surto epidêmico de varíola atingiu a cidade do Rio de Janeiro, sendo reportadas de 6.000 a 9.000 mortes causadas pela doença. Em um movimento contrário ao ocorrido anteriormente, a população carioca desejou ser vacinada. É fato que a introdução da vacina não foi pacífica em terras brasileiras. Dentre inúmeros aspectos que tornaram esse movimento mais difícil, está, principalmente, a falta de informação. A sociedade não compreendia a importância da imunização, os possíveis efeitos adversos desta, e não se conformavam com a injeção de um conteúdo bovino em seus corpos.
No século XXI, o mundo tem registros de quantas mortes foram evitadas pela vacinação, já que essa é responsável pela erradicação e pelo controle de várias doenças ao redor do globo. Dentre elas, no Brasil, destacam-se:
Varíola: a doença que originou a tecnologia das vacinas que conhecemos hoje foi considerada oficialmente erradicada pela OMS em 1980, graças à vacinação. A taxa de letalidade por varíola era de 30%, e estima-se que a moléstia matou de 300 a 500 milhões de pessoas em todo o mundo.

Poliomielite: em 1953, houve um grande surto de poliomielite no Rio de Janeiro. A população se indignava com as autoridades da época, pois os jornais veiculavam notícias que negavam a presença da epidemia. O vírus causa a paralisia infantil e é transmitido por via fecal-oral e por gotículas. Em 1971, o Plano Nacional de Imunização (PNI) que conhecemos hoje, após várias modificações, foi instituído, e as vacinas contra poliomielite foram inseridas. A doença não é considerada erradicada, pois ainda há casos no mundo. No Brasil, a pólio está eliminada desde 1994. Mundialmente, em 1988, havia 350 mil casos estimados. Em 2018, 29 casos foram notificados – nenhum no Brasil.

Difteria: a vacinação contra a difteria, doença que pode atingir mais de 20% de taxa de letalidade a depender da faixa etária acometida, está no PNI desde os primeiros meses de vida do brasileiro, disponível com as vacinas DTP, dT e DTPa. Na década de 1920, há registros de 13.000 a 15.000 mortes por ano apenas nos Estados Unidos, durante a pandemia de difteria e, em 1990, o Brasil notificava mais de 600 casos por ano. A introdução da vacina DTP é a grande responsável pelo controle da difteria – apenas 2 casos confirmados foram notificados em território brasileiro no ano de 2020.

Sarampo: os últimos casos de sarampo no Brasil haviam sido notificados nos anos 2000. Em 2018, a OMS declarou uma nova epidemia de sarampo no país, decorrente da queda nos níveis de imunização – ou seja, a população está se vacinando menos, e, por isso, há espaço para novos casos da doença. A taxa de letalidade do sarampo é cerca de 10% nos países em desenvolvimento, e calcula-se que a vacina tenha prevenido 1,4 milhão de mortes no mundo.

Outras doenças também permanecem controladas devido à vacinação, como rubéola, caxumba, tétano, casos mais graves de tuberculose, febre amarela e coqueluche. O Programa Nacional de Imunização é referência mundial e tem resultados excelentes quando se trata de prevenção. Para manter a excelência, além da produção científica e da boa gestão pública, a população precisa manter a vacinação em dia. Dessa maneira, além de permitir os atuais níveis de controle, também seremos capazes de controlar novas doenças, como esperamos com a COVID-19. Já conferiu seu cartão de vacinação hoje?
Referências
1. Campos, André Luiz Vieira de, Nascimento, Dilene Raimundo do e Maranhão, Eduardo. A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização. História, Ciências, Saúde-Manguinhos [online]. 2003, v. 10, suppl 2 [Acessado 14 Julho 2021] , pp. 573-600. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-59702003000500007>. Epub 09 Mar 2004. ISSN 1678-4758. https://doi.org/10.1590/S0104-59702003000500007.
2. PAHO Health Information Platform - Immunization, Paho.org, disponível em: <http://ais.paho.org/phip/viz/im_vaccinepreventablediseases.asp>, acesso em: 14 Jul. 2021.
3. A Revolta da Vacina, Fiocruz, disponível em: <https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2>, acesso em: 14 Jul. 2021.
4. Imunização, uma descoberta da ciência que vem salvando vidas desde o século XVIII, Butantan.gov.br, disponível em: <https://butantan.gov.br/noticias/imunizacao-uma-descoberta-da-ciencia-que-vem-salvando-vidas-desde-o-seculo-xviii>, acesso em: 14 Jul. 2021.
5. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, Atualização epidemiológica: Difteria (22 de setembro de 2020), Paho.org, 2020.
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