PRESS RELEASE: COMUNICAÇÃO NÃO-VIOLENTA
- Jornal A Sístole
- 22 de abr. de 2021
- 5 min de leitura

Por: Rachel Boechat e Guilherme Moraes
No dia 25 de janeiro de 2021, foi a estreia do programa Big Brother Brasil 21 (BBB21). O BBB é baseado em um jogo de eliminação de participantes por meio de múltiplas dinâmicas que culminam na escolha do público, através de votações, de qual participante deve ser eliminado a cada semana, até que um jogador chegue à final e ganhe 1 milhão e meio de reais. O programa é filmado em tempo integral, permitindo que os telespectadores cheguem a julgamentos e críticas sobre os participantes. Esses julgamentos, atualmente, são feitos de forma coletiva, considerando a influência das redes sociais. O Big Brother Brasil tem um grande alcance, tendo contado com 43 milhões de telespectadores durante a estreia, o que demonstra a relevância da crítica à política do cancelamento e ao julgamento gratuito promovidos pelo programa.
Muito comentados pela população brasileira durante o primeiro mês do programa foram os comportamentos violentos e agressivos contra o participante Lucas Penteado. Lucas entrou em conflito com outros participantes por desentendimentos comuns cotidianos. A maioria dos participantes criticou a postura do Lucas Penteado envolvendo temas de cunho político e social importantes. O resultado foi a exclusão diária do participante pelos outros jogadores. Essa história resultou no pedido do Lucas para deixar o programa e, consequentemente, a chance de ganhar o prêmio final.
Sabendo desse maléfico poder coletivo de exclusão e humilhação, a Equipe A Sístole considerou relevante debater sobre a Comunicação não-violenta, a fim de informar sobre maneiras pacíficas de interagir com outras pessoas.
A comunicação não-violenta (CNV) é um processo inicialmente idealizado e pesquisado pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg. Foi desenvolvida como estratégia de resposta honesta e empática a outras pessoas. O objetivo é de transformar continuamente as atitudes negativas dos outros, por meio do nosso desempenho em atitudes positivas. A CNV também pode ser amplamente aplicada em situações cotidianas que requerem que expressemos nossos pedidos ou que precisemos receber pedidos dos outros.
COMO FUNCIONA A CNV?
O autor descreve detalhadamente em seu livro sobre o tema: “Comunicação não-violenta. Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, dando inúmeros exemplos de ações e respostas a eventos desafiadores utilizando a técnica.
São quatro os componentes principais da CNV e eles podem ser aplicados em, praticamente, todos os contextos sociais de nossas vidas:
1. Observação do que não nos agrada em atitudes dos outros;
2. Sentimentos que nos são suscitados ao observarmos àquela atitude;
3. Necessidades que reconhecemos ligadas aos nossos sentimentos;
4. Pedidos que gostaríamos de fazer a outra pessoa para “enriquecer nossas vidas”;
Um exemplo da aplicação da CNV numa situação cotidiana:
“Uma mãe poderia expressar essas três coisas ao filho
adolescente dizendo, por exemplo: "Roberto, quando eu
vejo duas bolas de meias sujas debaixo da mesinha e mais
três perto da TV, fico irritada, porque preciso de mais
ordem no espaço que usamos em comum".
Ela imediatamente continuaria com o quarto componente
– um pedido bem específico: "Você poderia colocar suas
meias no seu quarto ou na lavadora?" Esse componente
enfoca o que estamos querendo da outra pessoa para
enriquecer nossa vida ou torná-la mais maravilhosa.”
(ROSENBERG, 2006, p. 25)
A CNV é uma via de mão dupla, que requer que nos expressemos com honestidade e recebamos o outro com empatia.
COMUNICAÇÕES ALIENANTES – EXEMPLOS DO QUE NÃO FAZER AO OUVIR O OUTRO:
1 - Não fazer julgamentos moralizadores. O autor sugere que comentários como “ela é preguiçosa” são, na verdade, uma expressão mais fidedigna de nossas própria necessidades e valores do que propriamente de características concretas de outras pessoas. Por este motivo, devemos “observar sem avaliar”. A classificação e o julgamento de outras pessoas são atitudes que estimulam a violência.
- Importância de “Observar sem avaliar” - Trecho da canção de Ruth Bebermeyer, citada no livro:
“Nunca vi um homem preguiçoso;
já vi um homem que nunca corria
enquanto eu o observava, e já vi
um homem que às vezes dormia
entre o almoço e o jantar, e ficava
em casa em dia de chuva;
mas ele não era preguiçoso.
Antes que você me chame de louca,
pense: ele era preguiçoso ou
apenas fazia coisas que rotulamos de "preguiçosas"?”
2 - Não fazer comparações. As comparações são também formas de julgamentos e, portanto, devem ser evitadas, ainda que positivamente.
3 - Não negar a responsabilidade por nossos atos. “Ficamos perigosos quando não temos consciência de nossa responsabilidade por nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos”, cita Marshall. De fato, a necessidade de honestidade perpassa o reconhecimento crítico de nossas próprias ações e configura uma etapa indelével da comunicação não-violenta.
4 - Não comunicar nossos desejos como EXIGÊNCIAS. Nossos pedidos devem ser fruto da análise de nossas próprias observações, sentimentos e necessidades. Esse reconhecimento da origem de nossos desejos deve estar claro para conseguirmos fazer pedidos com qualidade. “Nunca conseguimos forçar as pessoas a fazer nada”.
IDENTIFICANDO E EXPRESSANDO SENTIMENTOS
“Expressar nossa vulnerabilidade pode ajudar a resolver conflitos”. Marshall sugere, ainda, criar um vocabulário que nos ajudem a expressar sentimentos quando nossas necessidades estão sendo atendidas ou quando não estão sendo atendidas. Esse processo deve ser feito com calma, pois é ele que nos permitirá entender nossos próprios desejos e compreender que os sentimentos e necessidades dos outros.
ASSUMIR RESPONSABILIDADE POR NOSSOS SENTIMENTOS
Muitas vezes, tendemos a conferir ao outro a responsabilidade por nos suscitar determinados sentimentos. Rosenberg rebate veementemente essa ideia: “O que os outros fazem pode ser o estímulo para nossos sentimentos, mas não a causa”.
Assim, nossos sentimentos são, em primeira análise, fruto direto de nossas observações e necessidades próprias e, por isso, precisamos encontrar esta conexão.
Além disso, não é inteligente suprimir ou simular sentimentos (ou a falta deles), já que eles podem ajudar-nos a expor e satisfazer nossas necessidades. Marshall completa: “Se não valorizarmos nossas necessidades, os outros também podem não valorizá-las”.
PEDIR AQUILO QUE ENRIQUECERÁ NOSSA VIDA
As necessidades básicas do ser humano são muito parecidas. Todos necessitamos de lazer, celebração, autonomia, completude de necessidades fisiológicas etc.
Reconhecer este aspecto é o primeiro passo para valorizarmos nossas necessidades e PEDIR, sem exigir, aquilo que queremos. Ademais, quando não deixamos claros os sentimentos e necessidades que levaram aquele pedido, é possível que nossas solicitações pareçam exigências. Daí a importância de seguir integralmente o método proposto na CNV.
A utilização de uma linguagem positiva, clara, sem frases vagas, abstratas ou ambíguas também é essencial no nosso pedido.
POSSUIR AUTOCOMPAIXÃO
Os erros que cometemos e as atitudes que nos arrependemos precisam receber o mesmo tratamento não violento que as atitudes e erros dos outros. A autocompaixão é parte de um processo compassivo contínuo de concentração nos aspectos que desejamos e não nos que deram errado.
Essa compreensão pode nos ajudar a ter cada vez mais consciência sobre as escolhas que fazemos com um fim em mente. Unindo este aspecto com o resto da CNV, devemos ser capazes de analisar quais necessidades nossa próxima escolha irá atender.
RECEBER COM EMPATIA
Esta é a outra parte da CNV. Devemos estar atentos no que os outros estão observando, quais são seus sentimentos, necessidades e pedidos. Não devemos arranhar soluções, conselhos, fatos educacionais ou competições pelo sofrimento. Em muitas ocasiões, apenas a escuta atenta basta. Só após conferirmos ao outro a ampla oportunidade de expressão é que poderemos entender e ajudá-los a satisfazer os seus pedidos.
Referência: ROSENBERG, M. Comunicação não-violenta: técnicas para aprimorar
relacionamentos pessoais e profissionais; São Paulo: Ágora, 2006.
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