PRESS RELEASE: ANTICONCEPÇÃO NA ADOLESCÊNCIA, O QUE VOCÊ PRECISA SABER
- Jornal A Sístole
- 10 de set. de 2020
- 4 min de leitura

por Cíntia Reis e Karine Corrêa
O período da adolescência, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estende-se dos 10 aos 19 anos e é caracterizado por grandes transformações biopsicossociais na vida dos indivíduos. Uma das transformações que podem ocorrer na adolescência é o início da vida sexual, a qual muitas vezes não é acompanhada de orientação acerca dos métodos de prevenção de doenças e gestações, visto que a sexualidade ainda é um tabu no Brasil. Além disso, na maioria das vezes, o uso de contraceptivos é posterior ao início da vida sexual. Como consequência, os dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 930 adolescentes dão à luz todos os dias, totalizando mais de 434,5 mil mães adolescentes por ano. Dois terços dessas gestações não são planejadas e são mais frequentes entre meninas em situação de maior vulnerabilidade social.
Entende-se que a contracepção é responsabilidade do homem e da mulher, no entanto, o que se observa na sociedade é uma culpabilização das mulheres no caso de gestações não planejadas. Somado a isso, ainda há uma mistificação do uso de métodos contraceptivos na adolescência, o que gera medo nessa população jovem. Compreendendo a importância da anticoncepção e do direito ao planejamento familiar, o Jornal “A Sístole” abordará algumas informações essenciais sobre a temática.
Um passo importante, que muitas vezes só é dado após o início da vida sexual, é a visita ao ginecologista. Por isso, nessa primeira consulta, é preciso que o profissional – seja homem ou mulher – acolha essa paciente para que ela se sinta segura em compartilhar suas dúvidas, sem medo de julgamentos. Assim, caso a adolescente informe o desejo de usar um método contraceptivo, é responsabilidade do profissional de saúde oferecer informações sobre os métodos disponíveis, além de apresentar os benefícios e efeitos colaterais associados, levando em consideração a história clínica da paciente. Munida de informações, cabe à adolescente escolher o método que desejar e que melhor atenda ao seu planejamento de vida.
Outro ponto que vale destacar é o direito de escolha das adolescentes. De acordo com a OMS, nenhum método contraceptivo reversível deve ser contraindicado baseando-se unicamente na idade. Assim, o estudo “Contraceptive CHOICE Project”, realizado nos Estados Unidos, reuniu 1404 adolescentes entre 15 e 19 anos e ofereceu informações e acesso gratuito aos métodos contraceptivos, permitindo que as mulheres fizessem sua escolha de prevenção. O resultado encontrado foi uma maior adesão ao método e, por consequência, um menor número de gestações, nascimentos e abortos. Além disso, a maioria das jovens, quando informadas, optou por métodos reversíveis de longa duração, tais como DIU e anticoncepcionais injetáveis ou intradérmicos. Entretanto, na realidade brasileira, o que se observa é uma baixa adesão aos métodos de longa duração, o que pode ser explicado pelo maior investimento inicial, pela menor difusão de informações sobre, pela falta de treinamento dos profissionais e pelos mitos associados a esse tipo de método.
Ademais, uma questão que surge quando se fala sobre anticoncepção é a infertilidade. Existe uma crença popular que mulheres que fazem uso de anticoncepcionais por tempo prolongado se tornarão inférteis ou terão dificuldade de engravidar no futuro. No entanto, especialistas afirmam que após a interrupção do uso, o tempo de concepção é equivalente ao de uma mulher que não fazia uso do método. É importante ressaltar, entretanto, que o envelhecimento reduz a fertilidade das mulheres, assim, a escolha de ser mãe no final da idade fértil pode resultar em dificuldades na concepção.
Por fim, cabe ressaltar que a sociedade brasileira se baseia em valores religiosos e paternalistas, o que faz com que muitos defendam a abstinência sexual como o único método contraceptivo para os jovens. De fato, o diálogo sobre o tema é de grande importância, principalmente ao abordar aspectos relevantes para o início da vida sexual, como maturidade física e emocional. Todavia, a abstinência sexual não deve ser imposta e, quando escolhida, deve estar associada à educação sexual.
Desse modo, reafirma-se que a prevenção é de responsabilidade do casal. A educação sexual deve ser feita por familiares, profissionais de saúde e pelas escolas para que os jovens recebam as informações necessárias, a fim de terem uma vida sexual segura.
REFERÊNCIAS:
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