PRESS RELEASE: A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO NO COMBATE A INFECÇÕES
- Jornal A Sístole
- 16 de jul. de 2020
- 3 min de leitura

Por Luisa Erthal
Quando pensamos no combate a infecções, não há dúvidas que a grande estrela do organismo é o sistema imunológico. Extremamente complexo e composto de uma variedade de elementos, desde barreiras como a epiderme e mucosas, até células especializadas como macrófagos e linfócitos, o sistema imune possui um arsenal de defesas contra patógenos invasores. E um dos principais fatores que influencia no bom funcionamento desse sistema é a qualidade da nossa alimentação.
A relação mais direta entre alimentação e sistema imunológico se deve ao fato de que diversos componentes da nossa dieta têm ação direta sobre as nossas células de defesa. As vitaminas A, C, D e E, por exemplo, agem sobre os linfócitos e outras células imunes, estimulando sua atividade anti-inflamatória e antioxidante. Alguns lipídeos, como o ômega 3, também agem em receptores de linfócitos participando da regulação de sua atividade inflamatória.
Por outro lado, alguns alimentos, quando em excesso, podem ser prejudiciais ao sistema imunológico. O sal de cozinha em grandes quantidades pode desencadear ativação de linfócitos TH17 que, por sua vez, recrutam neutrófilos, células envolvidas com a resposta inflamatória. Por esse motivo, o sal já foi relacionado ao agravamento de doenças inflamatórias crônicas como a doença de Crohn e a colite ulcerativa.
Além da importância direta da alimentação para o funcionamento do nosso sistema imunológico, uma alimentação equilibrada também favorece a sobrevivência da microbiota do trato gastrointestinal, microrganismos fundamentais para a atuação do sistema imune. A microbiota residente ao longo do estômago, duodeno, jejuno, íleo, ceco, cólons e ânus é composta de cerca de 100 trilhões de bactérias comensais, de 1200 espécies diferentes. O cólon, sozinho, possui a maior comunidade microbiana do corpo todo, composta principalmente de bactérias anaeróbias.
Essas bactérias comensais que habitam o trato gastrointestinal exercem funções fundamentais no processo de digestão. Escherichia coli e espécies de bacteróides sintetizam vitamina K, importante para a homeostase sanguínea (a vitamina K que utilizamos é em parte obtida a partir da alimentação e em parte produzida por esses microrganismos). Outras bactérias também degradam carboidratos não digeríveis da nossa dieta, como celulose, pectina e outros componentes de fibras alimentares. Há também a que talvez seja a função mais importantes da microbiota intestinal no que tange ao combate de infecções: as bactérias comensais competem pelo nicho intestinal com outras bactérias patogênicas, impedindo que estas colonizem os intestinos e causem infecções. As bactérias residentes também conseguem se ligar a receptores das células epiteliais do intestino, inibindo vias inflamatórias, impedindo uma possível resposta inflamatória na região. Perturbações na diversidade dessa microbiota (disbiose) desencadeadas principalmente por uma alimentação desequilibrada, rica em alimentos com potencial inflamatório, como ultraprocessados, açúcares e sódio, têm sido relacionadas ao desenvolvimento de doenças tão diversas como as alergias, doenças autoimunes e inflamatórias crônicas , obesidade e até distúrbios neurológicos graves como o autismo.
Dessa forma, fica evidente a importância de manter uma alimentação equilibrada, de modo a proteger o nosso ambiente intestinal e combater possíveis infecções. Para melhorar a composição da nossa microbiota, podemos lançar mão de prebióticos e probióticos. Os prebióticos são alimentos que servem de nutrientes para os micróbios comensais intestinais, estimulando a proliferação deles e, portanto, o estabelecimento de um ambiente intestinal saudável. Diversos alimentos naturais entram nessa categoria, como cebola, tomate, banana, aveia, trigo, dentre outros. Os probióticos, por sua vez, são microorganismos vivos que são ingeridos e colonizam o intestino. Estes devem ser prescritos por profissionais de saúde de acordo com as necessidades de cada paciente.
Uma alimentação equilibrada é fundamental para a atuação do sistema imunológico. Em tempos de COVID-19 é imperativo pensar no impacto que as nossas escolhas alimentares de cada dia são capazes de exercer na nossa saúde. Investir em uma alimentação saudável é investir em um sistema imune saudável capaz de nos proporcionar bem-estar e longevidade.
REFERÊNCIAS
PENIDO, Alexandre. Brasileiros atingem maior índice de obesidade nos últimos treze anos. Ministério da Saúde, 25 de julho de 2019. Disponível em: <https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/45612-brasileiros-atingem-maior-indice-de-obesidade-nos-ultimos-treze-anos#:~:text=O%20Brasil%20nos%20%C3%BAltimos%20tr%C3%AAs,81%2C1%25%2C%20respectivamente.>. Acesso em: 11 de julho de 2020.
Especialistas da SBP debatem o impacto da microbiota intestinal pós-Covid. Sociedade Brasileira de Pediatria, 18 de junho de 2020. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/imprensa/detalhe/nid/especialistas-da-sbp-debatem-o-impacto-da-microbiota-intestinal-pos-covid/>. Acesso em: 11 de julho de 2020.
FARIA, Ana Caetano. O intestino e o sistema imune. Sociedade Brasileira de Imunologia, 29 de abril de 2019. Disponível em: <https://sbi.org.br/2019/04/29/o-intestino-e-o-sistema-imune/>. Acesso em: 11 de julho de 2020.
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