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PARTO DE LÓTUS

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 12 de jul. de 2022
  • 2 min de leitura


Por Luiza Rangel


No transcorrer dos tempos, a forma de parir e a sua assistência sofreram várias transformações. Nessa transição do olhar sobre o parto, o nascimento de Lótus surge de modo ainda tímido e com pouca evidência e embasamento científico. Essa prática consiste na permanência do cordão umbilical ligado ao bebê por alguns dias após o parto, como forma de manter conectado o binômio bebê-placenta, até que o cordão se desprenda naturalmente, o que geralmente ocorre entre sete e dez dias.


Os entusiastas da prática defendem uma transição comedida da separação da placenta e do recém-nascido, pela percepção de que a placenta foi um órgão que esteve conectado ao bebê durante todo o seu desenvolvimento e, assim, entendem que essa nova vida tem o direito de liberar a placenta quando se sentir pronta para isso. A ideia é permitir que o cordão desidrate de forma natural enquanto a placenta é mantida sob cuidados, envolta por lavanda, alecrim e/ou ervas para diminuir odores.


Apesar das informações ainda limitadas sobre essa prática, alguns critérios biológicos já foram bem esclarecidos. Não existe benefício da permanência do cordão umbilical além do tempo preconizado para o clampeamento tardio (1-3 minutos) no que tange a redução da anemia neonatal, já que, após três minutos, 90% do sangue do cordão já refluiu para o bebê. Além disso, esse tecido orgânico apresenta risco de infecção neonatal. No entanto, até o momento, não existem muitos relatos sobre o parto de Lótus para que se possa estabelecer relações de causalidade de forma mais eficiente.


Na busca de estudos retrospectivos, um estudo realizado no Hospital Infantil CS Mott da Universidade de Michigan, de 2014 a 2017, construiu uma revisão dos prontuários de mulheres que optaram pelo parto de Lótus. Essa instituição apresenta uma média de 4.500 partos por ano e, nesses 33 meses de estudo, foram evidenciados como amostra apenas seis nascimentos de lótus. Não houve evidência de infecção neonatal e dois bebês apresentaram icterícia. Outro estudo, publicado em 2018 pela Universidade de Cambridge, relatou o caso de um bebê fruto dessa prática que desenvolveu infecção pulmonar e endocardite no primeiro dia de vida. Excluídas outras possíveis causas, inferiu-se que o nascimento de Lótus pode ter contribuído como fator causal desses agravos.


Nesse processo de desconstrução e transformação da forma de nascer, compreender o papel ativo da mulher na tomada de decisão é estar disposto a ouvir e estudar para fornecer informação, tanto dos benefícios, quanto dos riscos. Diante dos poucos casos vivenciados e relatados dessa prática, existe ainda uma grande deficiência de informações por parte dos profissionais de saúde. Ainda assim, buscar conhecer os relatos existentes é importante para que se estabeleça um cuidado baseado em ciência. Conhecer as evidências científicas disponíveis é essencial para a construção de um aconselhamento científico sem preconceitos, pois o cuidado de qualidade pressupõe respeito à autonomia da paciente e não a interposição de crenças pessoais.

 

 

Referências:

1. Monroe KK, Rubin A, Mychaliska KP, Skoczylas M, Burrows HL. Nascimento de Lótus: Relato de

Série de Casos sobre Não Separação Umbilical. Pediatria Clínica . 2019;58(1):88-

94. doi: 10.1177/0009922818806843

2. Westfall, R. Um relato etnográfico do nascimento de lótus . Obstetrícia Hoje Parteira

Int. 2003 ;(66): 34 – 36

3. Ittleman, Benjamin R., and Joanne S. Szabo. "Staphylococcus lugdunensis sepsis and endocarditis in

a newborn following lotus birth." Cardiology in the Young 28.11 (2018): 1367-1369.

 
 
 

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