OS BENEFÍCIOS DE UM LONGO ABRAÇO
- Jornal A Sístole
- 3 de jun. de 2021
- 3 min de leitura

Por Karine Teotônio
“O melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”, já diz a canção da banda Jota Quest. Costumamos abraçar outras pessoas quando estamos animados, felizes, tristes ou como uma forma de consolo, porém, a necessidade de distanciamento social gerada pela pandemia fez com que apertos de mão e abraços se tornassem gestos de um passado distante. Agora, nós sentimos falta de um abraço tanto pelo afeto, calor e sensação de conforto, quanto pelos seus muitos benefícios à saúde, conforme mostram estudos.
Em 2013, um estudo realizado pelo neurofisiologista Jürgen Sandkühler, da Universidade Médica de Viena, na Áustria, mostrou que ser acolhido entre os braços de outra pessoa que confiamos reduz a quantidade de dois hormônios do estresse, o cortisol e a norepinefrina, além de aumentar a concentração de ocitocina, promovendo bem-estar, redução da pressão arterial e melhora da memória (1). Por outro lado, abraçar uma pessoa com a qual possuímos desafetos produz efeito contrário, induzindo ao estresse.
Um outro estudo, realizado pelo neurocientista Francis McGlone, da Universidade de Liverpool, apontou que as fibras nervosas presentes na pele respondem a toques carinhosos do mesmo modo que os receptores de dor e, quando estimuladas, podem, inclusive, diminuir a atividade nos nervos que transportam a sensação de dor (2). A psicóloga Karen Grewn, da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, também pesquisou sobre os efeitos do abraço e concluiu que o gesto pode aliviar a dor, visto que o cérebro recebe primeiro os sinais de alívio em relação à sensação de dor (3). Já Sheldon Cohen, em outro estudo, apontou que quem recebeu mais abraços teve o risco de infecções reduzido e também enfrentou melhor os conflitos que surgiram (4).
Então, o que podemos fazer neste momento de pandemia em que não podemos nos abraçar? Uma das opções de demonstração de afago pode ser a utilização das palavras para manifestar os mais diversos sentimentos, além de gestos de atenção. O que vale, no fim das contas, é abraçar a afetividade que está em nosso alcance. Por fim, é válido ressaltar que os benefícios que um abraço produz não são poucos. Contudo, ainda são necessárias mais pesquisas a fim de estudar a sensibilidade física e as reações durante o ato, para que, em caso de boas respostas, o abraço torne-se uma parte vital dos programas de bem-estar público.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. Sandkühler J, Lee J (2013) How to erase memory traces of pain and fear Trends Neurosci, 36(6): 343-352
2. MCGLONE, Francis; WESSBERG, Johan; OLAUSSON, Håkan. Discriminative and affective touch: sensing and feeling. Neuron, v. 82, n. 4, p. 737-755, 2014.
3. Grewen, K. M., Girdler, S. S., Amico, J., Light, K. C. (2005) Effects of partner support on resting oxytocin, cortisol, no blood pressure before and after warm partner contact. Psychosomatic Medicine, 67, 531–538.
4. COHEN, Sheldon et al. Does hugging provide stress-buffering social support? A study of susceptibility to upper respiratory infection and illness. Psychological science, v. 26, n. 2, p. 135-147, 2015.
5. Cohen S, Janicki-Deverts D, Miller GE. Psychological Stress and Disease. JAMA. 2007;298(14):1685–1687. doi:10.1001/jama.298.14.1685
6. MORRISON, India. Keep calm and cuddle on: social touch as a stress buffer. Adaptive Human Behavior and Physiology, v. 2, p. 344-362, 2016.
7. PHILLIPS, Anna C. et al. The association between life events, social support, and antibody status following thymus-dependent and thymus-independent vaccinations in healthy young adults. Brain, behavior, and immunity, v. 19, n. 4, p. 325-333, 2005.
8. Lehr L. J. (2009) A hug: The miracle drug. Retrieved from www.HelpINeedaHug.com. [not archival]
9. Forsell, LM e Åström, JA (2012) 'Meanings of Hugging: From Greeting Behavior to Touching Implications', Comprehensive Psychology.
Comments