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O uso indiscriminado de suplementos vitamínicos

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 20 de out. de 2022
  • 3 min de leitura

     

Por Wallace Soares e Júlia Lourenço

 

       ​Nas prateleiras das farmácias, não faltam opções de suplementos vitamínicos com a promessa milagrosa de melhorar a imunidade, a energia e a disposição: bastam alguns poucos comprimidos para fortalecer a saúde, combater o estresse, aliviar o cansaço e prevenir diversas doenças. No entanto, apesar da "ótima reputação" desses produtos, será que é realmente benéfico ingerir suplementos de vitaminas e sais minerais sem que haja carência desses micronutrientes?


Embora as vitaminas sejam fundamentais para o bom funcionamento do organismo, uma vez que regulam o metabolismo e agem como cofatores de reações químicas enzimáticas, na maior parte dos casos não há evidências científicas que justifiquem a indicação desses micronutrientes para indivíduos saudáveis que já consomem quantidades suficientes de vitaminas na alimentação. Assim, mesmo que a suplementação possa ser indicada em casos específicos – como o uso de ácido fólico por mulheres grávidas, o consumo de vitamina B12 por veganos e a adoção de vitamina D para quem reside em locais onde não é possível se expor ao sol regularmente – não há validação de benefícios significativos para as pessoas que são fundamentalmente saudáveis. Nesse sentido, podemos exemplificar com uma alegação bastante difundida: é a de que a vitamina C é capaz de atuar na prevenção e no tratamento de gripes e de resfriados, entretanto, estudos de meta-análise e ensaios terapêuticos demonstraram que a suplementação diária de vitamina C não traz benefícios significativos para a redução da incidência ou gravidade do resfriado comum (HEMILA e CHALKER, 2013; QUIDEL et al., 2018).


Além da ausência de comprovação dos efeitos prometidos pelos multivitamínicos, o uso indiscriminado pode provocar quadros de intoxicação. De acordo com a máxima atribuída ao médico e pai da toxicologia Paracelsus, “Dosis sola facit venenum”, isto é, a “dose faz o veneno”, qualquer substância ingerida em excesso pode trazer danos à saúde. Em vista disso, o consumo excessivo de vitaminas pode ser altamente prejudicial, principalmente as lipossolúveis – A, D, E e K – que não são facilmente excretadas e, por isso, tendem a se acumular no corpo humano. Por exemplo, o abuso de vitamina A pode causar lesões hepáticas, pele seca, queda de cabelo, fissuras nos lábios e interrupções no crescimento. Já o excesso de vitamina D, por sua vez, pode levar à hipercalcemia (excesso de cálcio no sangue), ao aumento da pressão arterial, a náuseas e a vômitos.


Em uma revisão realizada pela Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, uma associação americana que reúne especialistas para fornecer recomendações baseadas em estudos científicos, não foi possível demonstrar benefícios da suplementação com vitaminas na redução da mortalidade geral, por câncer ou doenças cardiovasculares. Segundo a entidade, que analisou diversos estudos com adultos saudáveis, sem deficiências nutricionais e outras enfermidades crônicas, a suplementação com vitaminas A, C, D, E e minerais, como cálcio e selênio, não mostrouefeitos benéficos estatisticamente relevantes em relação aos grupos que não suplementaram esses nutrientes.


Diante disso, se não há demonstração de eficácia para pessoas saudáveis, por que as vitaminas são tão populares? Na visão do Dr. Drauzio Varella, médico cancerologista e divulgador científico, os polivitamínicos fornecem a sensação de que estamos cuidando bem da saúde mesmo que não façamos esforço para desenvolver hábitos de vida mais saudáveis. Essa ilusão das vitaminas como uma panaceia capaz de prevenir todo tipo de doença – acrescida da publicidade de produtos vitamínicos que movimenta mais de 6 bilhões anuais só no Brasil – sustenta ainda mais a crença popular de que esses comprimidos são necessários e inofensivos, estimulando o consumo inconsequente.


Em suma, as vitaminas são fundamentais para a preservação da saúde, porém a obtenção desses nutrientes geralmente é suficiente em uma dieta equilibrada, o que torna a suplementação dispensável para pessoas saudáveis. Desse modo, para reduzir a desinformação, é importante ponderar se os benefícios alegados comercialmente se sustentam ou se são estratégias para aumentar as vendas com base em crenças pseudocientíficas. Em todo o caso, embora os polivitamínicos não demandem prescrição médica por não serem considerados medicamentos, é importante que a suplementação seja feita sempre sob orientação e acompanhamento de profissional especializado.  



Referências bibliográficas:

● BSOUL S. A.; TEREZHALMY G, T. Vitamin C in health and disease. J Contemp Dent Pract, v. 15, n. 5, p. 1-13, 2004;

● HEMILA, H.; CHALKER, E. Vitamin C for preventing and treating the common cold. Cochrane database of systematic reviews, n. 1, 2013;

● LEHNINGER, A. L.; NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios da bioquímica. 7 ed. São Paulo: Artmed, 2019;

● OLBRICH DOS SANTOS, K. M. O.; FILHO, A. A. B. Crenças sobre as vitaminas e consumo de produtos vitamínicos entre universitários de São Paulo. ALAN, Caracas, v. 52, n. 3, p. 241-248, 2002.

● QUIDEL, S. et al. What are the effects of vitamin C on the duration and severity of the common cold? Medwave, v. 18, n. 6, 2018;

● VARELLA, D. A crença nas vitaminas, 2022. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/a-crenca-nas-vitaminas/>. Acesso em 28 set. de 2022.

 

 
 
 

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