O cuidado à mulher no puerpério
- Jornal A Sístole
- 3 de nov. de 2022
- 4 min de leitura

Por Helena Goudard
O puerpério é o período de pós-parto e vai do dia do nascimento até a volta da menstruação da mulher. Muito se fala sobre o atendimento neonatal nesse período, enquanto, infelizmente, a atenção à mulher é marginalizada- entretanto, o cuidado de ambos é indissociável, já que a saúde da mãe e da criança se influenciam mutuamente.
Esse período pode durar até 45 dias e divide-se em três: o imediato, do 1º ao 10º dia do pós-parto; o tardio, do 11º ao 42º dia do pós-parto; e o remoto, a partir do 43º dia.Durante esse momento, a mãe passa por muitas alterações hormonais, físicas e emocionais, não apenas por não estar mais grávida, mas também por amamentar o bebê. As transformações, internas e externas, da gestação e do parto podem fazê-la sentir-se mais frágil e insegura, mas esses sentimentos costumam ser passageiros, e uma rede de apoio é essencial nesse processo para oferecê-la cuidado e proteção.
Assim, durante essa etapa, a mulher deve ser atendida em sua totalidade, em uma atuação multidisciplinar que considere o seu contexto sociocultural e familiar em sua integralidade- não focando apenas nos aspectos biológicos, mas considerando as suas outras dimensões (social, econômica, histórica, política e cultural). Os profissionais devem ponderar, também, as demandas individuais apresentadas por cada paciente, com uma escuta sensível e em uma assistência humanizada e resolutiva, que propicie à mulher suporte e ferramentas para cuidar de si e do filho.
Nas primeiras horas após o parto, é importante levantar-se e andar, para diminuir o risco de trombose, melhorar o trânsito intestinal e contribuir para o bem-estar da mulher. Já a primeira consulta deve ser realizada de 7 a 10 dias após o parto, considerando que boa parte das situações de morbidade e mortalidade materna e neonatal acontecem nesse intervalo. A mulher deve, então, receber orientações do serviço de saúde acerca das mudanças em seu corpo, seus direitos (reprodutivos, sociais e trabalhistas), higiene, alimentação, atividades físicas, atividade sexual, informando sobre prevenção de DST/Aids, cuidado com as mamas (reforçando a orientação sobre o aleitamento e considerando a situação das mulheres que não puderem amamentar), os cuidados com o recém-nascido e sobre planejamento familiar e uso de métodos contraceptivos. Ademais, outra consulta deve ser marcada para o final desse período.
Alguns aspectos que a mulher pode perceber em seu corpo incluem:
- Mamas mais duras, já que estão repletas de leite. Se a mulher não puder amamentar, o médico pode receitar uma medicação para que ele seque. Para aliviar o desconforto, pode-se colocar uma compressa morna nos seios e/ou amamentar a cada 3 horas;
-Barriga inchada, visto que o útero ainda não está em seu tamanho normal. Algumas mulheres podem ter diástase abdominal, um afastamento dos músculos da parede abdominal, e que pode ser corrigida com alguns exercícios. Amamentar e usar cinta abdominal ajudam o útero a se restabelecer, além de exercícios abdominais para fortalecer o abdômen e, consequentemente, reduzir a flacidez da barriga;
- Cólicas ao amamentar, devido às contrações que fazem o útero retornar ao tamanho original e que são, muitas vezes, estimuladas por esse processo. Esse desconforto abdominal não deve durar mais de 20 dias, já que o útero diminui cerca de 1 cm por dia. O uso de compressas quentes sobre a região traz algum alívio;
- Sangramento vaginal, pois as secreções do útero saem aos poucos. O aspecto é semelhante ao da menstruação, mas esse sangramento denomina-se lóquios, que começa intenso nos primeiros dias e tende a diminuir com o passar do tempo. A recomendação é que se use um absorvente de maior capacidade absortiva e tamanho e observar o odor e a cor do sangue, para identificar rapidamente os sinais de infecção, como mau cheiro, principalmente por mais de 4 dias. Nesses casos, deve-se buscar assistência médica o mais rápido possível;
- Dilatação e inchaço da vagina, em caso de parto normal, nos primeiros dias do pós-parto, que deve cessar em até duas semanas. É recomendado lavar a região externa com água e sabão até três vezes por dia. As relações sexuais deverão aguardar, em média, 40 dias, tempo para o organismo se recuperar. Independentemente do tipo de parto, é comum que a vagina fique ressecada e poderá haver algum desconforto durante a relação, mas essa situação é passageira;
- Apesar da incontinência urinária estar mais relacionada ao parto comum, também pode acontecer em casos de cesárea. Ela corresponde à uma vontade repentina de urinar, difícil de controlar, e perdas de urina na calcinha. Se o problema persistir, o melhor é buscar a fisioterapia pélvica;
- O retorno da menstruação, que depende da amamentação: com amamentação exclusiva e livre demanda do bebê, a menstruação tende a voltar em aproximadamente 6 meses, mas é sempre recomendado usar métodos contraceptivos extra para não engravidar nesse período. Caso a mulher não amamente, a menstruação volta em 1 ou 2 meses. É necessário que os métodos contraceptivos sejam discutidos com o profissional de saúde para que o planejamento familiar seja realizado sem prejuízo à mulher e ao bebê, em caso de amamentação.
REFERÊNCIAS
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Manual técnico - Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada. 2006. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_pre_natal_puerperio_3ed.pdf>. Acesso em: 3 out. 2022.
ANDRADE, Raquel Dully et al. Factors related to women's health in puerperium and repercussions on child health. Escola Anna Nery - Revista de Enfermagem, v. 19, n. 1, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20150025. Acesso em: 3 out. 2022.
CORRÊA, Maria Suely Medeiros et al. Acolhimento no cuidado à saúde da mulher no puerpério. Cadernos de Saúde Pública, v. 33, n. 3, 2017a. Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311x00136215. Acesso em: 3 out. 2022.
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