O AGROTÓXICO É POP? IMPACTO NA SAÚDE DEVIDO AO USO DE PESTICIDAS
- Jornal A Sístole
- 13 de jan. de 2022
- 3 min de leitura

Por Karine M. Corrêa
A Guerra do Vietnã, ocorrida entre 1946 e 1954, apresentou ao mundo o uso de pesticidas como armas químicas. Em um cenário distinto, em maio deste ano imagens divulgadas mostraram o derramamento de agrotóxico por aviões em uma comunidade da zona rural de Buriti, no Maranhão. Foram atingidas crianças, adultos e idosos, sendo que pelo menos nove pessoas desenvolveram sintomas de intoxicação aguda pela exposição ao pesticida. Os agrotóxicos têm como função principal o combate a “pragas” que comprometem a produção de alimentos, no entanto, muitos estão associados à contaminação do solo, dos rios e do ar, causando danos à saúde do homem e dos animais. Considerando que atualmente o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos em todo o mundo, o jornal “A Sístole” reuniu informações sobre a correlação entre os pesticidas e a saúde da nossa população.
COMO OCORRE A INTOXICAÇÃO POR PESTICIDAS?
A intoxicação por agrotóxicos pode ocorrer por contato direto - no manuseio do produto, por exemplo - ou por contato indireto, com contaminação de água e alimentos ingeridos. Em contato com a pele e mucosas, pelo contato por inalação ou ingestão, esses compostos entram no organismo e podem causar diversas alterações. De modo geral, a intoxicação aguda pode causar náuseas e vômitos, tontura, desorientação, dificuldade para respirar, sudorese e salivação excessiva, diarreia e, em casos mais graves, coma e morte.
Quando a intoxicação é crônica, ou seja, surge após meses ou anos de exposição ao pesticida, os sintomas mais comuns são alterações de comportamento, como irritabilidade, ansiedade, alteração do sono, depressão, cefaleia, fadiga e formigamentos, podendo causar, também, cânceres como o linfoma não Hodgkin, óbitos fetais, alterações reprodutivas e perdas auditivas. O principal grupo atingido por essas condições são os trabalhadores expostos ao agrotóxico, mas, para além disso, poucos estudos estão disponíveis sobre a exposição alimentar aos pesticidas.
EM CASO DE EXPOSIÇÃO, O QUE FAZER?
Os primeiros socorros devem ser pensados de acordo com a forma de exposição ao produto. Vale ressaltar que é essencial buscar atendimento médico.
Pesticida em contato com a pele:
● Deve-se retirar a roupa suja e guardá-la em um saco plástico;
● Lavar a pele exposta com água corrente em abundância por, pelo menos, 10 minutos, incluindo cabelos e regiões de dobra (axilas, por exemplo);
● Se agente tóxico em pó ou sólido, remover o excesso com pano seco;
● Caso o material tenha atingido os olhos, lavar com água corrente por 20 minutos, pelo menos.
Pesticida inalado:
● Levar a vítima para um local arejado;
● Afrouxar as roupas;
Pesticida ingerido:
● Só se recomenda induzir o vômito caso esteja escrito no rótulo do produto;
● Em pessoas desmaiadas ou crianças menores de 3 anos, o vômito não deve ser induzido;
● Não fazer o intoxicado beber leite ou álcool.
Ademais, medidas precisam ser tomadas para evitar a contaminação. Elas vão desde o armazenamento adequado do produto, longe de crianças e em ambiente seguro, ao uso de equipamentos de proteção individual por trabalhadores. Além disso, para evitar a exposição aos agrotóxicos dos alimentos, recomenda-se lavar bem os produtos e optar pelo consumo de itens orgânicos (que são mais caros e, para muitos, inacessíveis).
Desse modo, precisamos entender a necessidade de cautela no uso desses produtos para preservar a saúde da população. Os agrotóxicos não serão banidos, pelo contrário, a liberação desses itens tem aumentado nos últimos anos, mas é preciso refletir que muitos dos pesticidas usados no Brasil são banidos na Europa justamente por estarem associados a danos para a saúde. Também, a pulverização de agrotóxicos utilizando aviões – atividade permitida no Brasil e que resultou na intoxicação ocorrida em Buriti, no Maranhão – é uma prática banida na União Europeia pelo risco de contaminação de rios e comunidades rurais. Assim, todos perdem com um governo que prioriza o agronegócio em detrimento da saúde da população. O agrotóxico, afinal, não é pop.
REFERÊNCIAS
COMUNIDADE é intoxicada por agrotóxico lançado de avião em Buriti, no Maranhão. [S. l.], 6 maio 2021. Disponível em: https://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2021/05/06/comunidade-e-intoxicada-por-agrotoxico-lancado-de-aviao-em-buriti-no-maranhao.ghtml.
Lopes, C. V. A., & Albuquerque, G. S. C. D. (2018). Agrotóxicos e seus impactos na saúde humana e ambiental: uma revisão sistemática. Saúde em debate, 42, 518-534.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública. Diretrizes brasileiras para o diagnóstico e Tratamento de intoxicação por agrotóxicos [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Saúde Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública. – Brasília: Ministério da Saúde, 2020.
BRASIL é 2º maior comprador mundial de agrotóxicos proibidos na Europa: Brasil comprou 10 mil toneladas de agrotóxicos em 2018, e 12 mil em 2019. [S. l.], 11 set. 2020. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2020/09/11/brasil-e-2-maior-comprador-mundial-de-agrotoxicos-proibidos-na-europa.
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