MITOS E VERDADES DOS CONHECIMENTOS E DAS CRENÇAS POPULARES
- Jornal A Sístole
- 15 de out. de 2020
- 4 min de leitura

Por Julia Rocco e Karine Teotônio
A evolução da espécie humana é marcada por descobertas e experimentos. Inicialmente, os conhecimentos eram obtidos a partir de técnicas de experimentação e observação, com determinadas práticas sendo incorporadas às sociedades ao longo do tempo e passadas de geração a geração. Essa é a raiz do conhecimento popular, uma sabedoria muito antiga e valiosa.
Atualmente, com o avanço da tecnologia e metodologia científica, os experimentos são realizados e analisados de forma mais detalhada. É o denominado conhecimento científico, que usa a matemática e a estatística para testar hipóteses.
Mesmo na era do conhecimento cientificista embasado na comprovação experimental, as práticas e crenças populares são comuns e muito presentes na nossa cultura. Mas será que tudo aquilo que nossos avós e pais nos falaram tem comprovação científica?
1) Vacina da gripe pode causar gripe? Mito. A vacina da gripe é produzida a partir de vírus inativados e, portanto, incapazes de causar a doença. Possíveis efeitos adversos da vacina incluem vermelhidão local, febre e mal-estar. 2) Para o tratamento de queimaduras, posso usar pasta de dente, manteiga ou semelhantes? Mito. As queimaduras são lesões causadas por algum tipo de energia (térmica, química ou elétrica), com geração de calor causando danos na pele e tecidos, podendo ser de primeiro, segundo ou terceiro grau, de acordo com a intensidade e extensão. Os cuidados iniciais consistem em resfriar a área com água corrente (como da torneira) por aproximadamente 10 minutos e, se necessário, procurar atendimento médico. Usar outras substâncias pode acarretar infecções e piora do quadro.
3) “Pegar friagem vai te deixar resfriado ou vai atacar a rinite!” Mito e verdade. O resfriado é causado por vírus, cuja transmissão se dá pelo contato com gotículas contaminadas, por meio de objetos infectados e pelo ar, sendo necessário contato com o vírus para ficar doente. É mais comum ficar doente em baixas temperaturas, pois as pessoas ficam em ambientes mais fechados, dificultando a circulação do ar e propiciando a contaminação. No frio também costuma ocorrer uma redução da umidade do ar, causando ressecamento das vias aéreas superiores, o que facilita a ocorrência da doença. A rinite, por outro lado, é uma reação alérgica a alguns fatores como pólen, ácaros, pelos de animais e poeira, provocando a irritação da mucosa nasal. O clima frio também pode acarretar piora das crises de rinite alérgica.
4) Tomar vitamina C previne resfriado? Mito. Ainda que seja de grande importância pela ação antioxidante e outras funções, não há comprovação de que o uso de vitamina C consiga prevenir resfriados.
5) Pode entrar na água depois de comer? Mito e verdade. Ao fazer uma refeição, o organismo passa a dar prioridade para a digestão. Assim, ao realizar alguma atividade física intensa, os músculos passam a requerer mais sangue para supri-los de oxigênio, atrapalhando o processo digestivo. Por isso, deve-se esperar 50 minutos antes de qualquer atividade intensa. Não há contra-indicação, no entanto, a tomar banho depois das refeições, pois nenhum esforço físico relevante é exigido.
6) Água com açúcar acalma?
Mito. A crença de que água com açúcar acalma não tem embasamento científico, mas é possível que o efeito placebo produza a sensação relaxante. Em situações estressantes, o corpo também produz mais adrenalina aumentando o gasto de energia, que é resposto pelo açúcar. Muitas vezes, contudo, pode ocorrer o efeito contrário, pois o açúcar é metabolizado e transformado em glicose e frutose, importantes fontes de energia para o organismo.
7) “Ler no escuro prejudica a visão”.
Mito. Ler em lugares mais escuros não faz mal à saúde dos olhos de forma definitiva e não é responsável por causar condições como miopia ou astigmatismo, por exemplo. Apesar disso, é um hábito que aumenta o cansaço da visão, aumenta as dores de cabeça e também diminui a qualidade da leitura em geral.
8) “Chás podem ser usados para diminuir a insônia.”
Verdade. Alguns chás como os de laranja amarga, maracujá, camomila, erva-doce e passiflora, minimizam a insônia de estágio leve. Entretanto, dependendo do que causa a dificuldade de dormir, será preciso ir além do chazinho para obter sucesso no tratamento. Não se deve ingerir, contudo, chás indiscriminadamente, pois por serem plantas medicinais acabam agindo como medicamentos, possuindo indicações, contra-indicações, efeitos colaterais e podendo inclusive interagir com os remédios. Assim, há doses e modos específicos de uso dos chás.
Conclusão
Como vimos, o conhecimento popular é intuitivo e com possíveis tendências a erros, pois muitas vezes as informações transmitidas não possuem embasamento científico. Entretanto, é necessário salientar que, cada vez mais, a ciência tem estudado os conhecimentos populares, sendo muitas vezes comprovada a eficácia de algumas práticas. Não devemos descartar essa parte tão importante de nossa cultura. O ideal é a integração entre o conhecimento popular e o científico e, em caso de dúvidas, consultar um profissional da área da saúde.
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