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HPV e Câncer de Colo de Útero: Parte 2

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 24 de jan. de 2023
  • 5 min de leitura

Mediado por Wallace Soares e Wellyngton Luiz




6) Como é feito o tratamento do HPV?


Muitas pessoas acham que contrair o HPV é uma tragédia porque não tem cura. Não é isso, o HPV não tem tratamento, mas pode ter cura mesmo sem tratamento. A cura pode vir quando o vírus é eliminado pelo sistema imune do próprio paciente, o que nós chamamos de clearence viral.


Portanto, é importante destacar que o vírus não é tratado, pois não há medicamentos que combatem diretamente o vírus, como os antibióticos para as doenças bacterianas. O que é feito é o tratamento das lesões provocadas pelo vírus. Se houver lesão, é feita uma cirurgia de alta frequência para remoção da região do útero acometida. Nesse caso, a lesão retirada também passa por biópsia. Adicionalmente, é interessante fortalecer o sistema imune do paciente (receitando polivitamínicos e melhorando a alimentação, por exemplo), assim como manter os exames preventivos ao longo do tempo.


Além disso, tanto a biópsia quanto a cirurgia no colo do útero provocam uma lesão tecidual que atrai células do sistema imune para reconstituir a área afetada. Esse recrutamento das células de defesa auxilia no combate ao vírus, por isso essas intervenções possuem função terapêutica, estimulando uma regeneração tecidual que pode ajudar a resolver o problema.



7) Qual o caminho que um paciente deve percorrer no Sistema de Saúde para tratar o HPV?


O paciente deve procurar a unidade de saúde mais próxima caso tenha algum sintoma. Se a pessoa tiver um condiloma, terá que cauterizar ou tratar com pomadas. As mulheres na faixa etária de 25 a 65 anos devem procurar os serviços onde há coleta de preventivo. Ao receber o resultado, o profissional responsável pelo atendimento fará o encaminhamento para o ambulatório de patologia cervical onde trabalho - local de referência para diagnóstico e tratamento das lesões provocadas pelo HPV no trato genital feminino. Cada caso será conduzido individualmente conforme resultados de exames, biópsias, etc. O tratamento e seguimento indicados dependem de dados, como por exemplo a idade da paciente. Pacientes abaixo de 30 anos possuem uma chance maior de regressão espontânea das lesões.


Essas condutas adotadas por nós profissionais de saúde são estabelecidas pelas diretrizes brasileiras para rastreamento do câncer do colo de útero para pacientes com laudo citopatológico, como pode ser visto no fluxograma a seguir.

Fonte: Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, Ministério da Saúde.



8) Como as pessoas podem se proteger do HPV?


Como na maioria das vezes a via de transmissão é sexual, a forma mais segura de se proteger do HPV é a utilização do preservativo nas relações sexuais. Mesmo assim, a camisinha protege parcialmente, pois ainda pode ocorrer contato da pele durante a relação.


Uma forma bastante importante de prevenção é a vacina, que reduz drasticamente a incidência das doenças por HPV. A vacina não é um remédio que mata o vírus, mas um recurso essencial para estimular o sistema imunológico. No Brasil, existem dois tipos principais de vacina: a bivalente ou oncogênica, que protege contra os tipos de HPV de alto risco; e a quadrivalente, que protege contra os tipos de baixo e alto risco. Mais recentemente foi desenvolvida também a nonavalente, que é eficiente contra os 9 tipos mais comuns, mas ainda não se encontra disponível no Brasil. Em setembro deste ano, o Ministério da Saúde determinou a ampliação da vacinação contra o HPV para todas as crianças e adolescentes entre 9 e 14 anos, sejam meninos ou meninas. Além deles, a vacinação está disponível para indivíduos imunossuprimidos.


Do ponto de vista profilático, o imunizante deve ser aplicado antes de se iniciar a vida sexual; entretanto, continua sendo benéfico mesmo para quem recebe a dose após contrair o vírus. Desse modo, a vacina produz um pool de anticorpos, ou seja, estimula a produção de anticorpos específicos para o HPV e esse pool evita que lesões evoluam para quadros mais graves.


Uma outra questão a ser pontuada é que a cobertura de vacinação contra o HPV é muito baixa e, por ser uma doença sexualmente transmissível, as pessoas tendem a desvalorizar a sua importância. Como é difícil entender a relação entre um vírus e um câncer, pois as pessoas leigas pensam numa virose mais como uma gripe, é difícil conscientizar o quão importante é a vacinação.


Um outro dado interessante é que a vacina diminuiu entre 70 a 80% o número de infecções em países que aplicam o imunizante há mais tempo. A ideia é que, se vacinarmos um público muito grande, logo será possível erradicar o câncer de colo de útero. A Austrália foi um dos primeiros países a fazer a cobertura vacinal ampla, de forma que 80% dos jovens australianos tomaram a vacina de HPV. Em vista dessa ação, houve 80% de diminuição de todas as infecções pelos 4 tipos de vírus, 90% de redução das verrugas genitais e 70% de queda no número de lesões precursoras de câncer de colo de útero.


Por último, gostaria de ressaltar que a vacina está disponível em clínicas privadas, podendo ser aplicada até os 45 anos de idade. Aliás, às vezes o SUS faz campanhas fora da faixa etária de vacinação, ampliando o público-alvo, principalmente quando os lotes estão próximos do vencimento e ainda restam muitas doses. Eu acho uma pena porque nós sabemos que sobra muita vacina, por isso acredito que cada gestor local deveria ampliar a faixa etária dentro das suas possibilidades.



9) Quais são as novas tendências e avanços da ciência para investigar o HPV?


Atualmente, está havendo uma mudança de tendência no rastreio de lesões em vários países e eu acredito que, em breve, chegará no Brasil. A ideia é trocar o preventivo tradicional, ou seja, o exame papanicolau, pela pesquisa do DNA-HPV. Assim, caso seja testado DNA-HPV positivo, só então o paciente é encaminhado para rastreio.

No Brasil, como os testes de biologia molecular são muito caros, fica mais barato fazer exames preventivos do que de biologia molecular. Isso acontece porque o preventivo é feito por pessoas trabalhando e a mão-de-obra brasileira, infelizmente, é muito desvalorizada. Por outro lado, o que é caro aqui é a tecnologia. Nos países mais desenvolvidos, como os EUA, acontece o contrário: lá é mais barato fazer testes de biologia molecular do que pagar a mão-de-obra do citotécnico ou do patologista que interpreta os resultados.


A longo prazo, espera-se que o Brasil siga essa tendência porque o teste molecular de DNA-HPV permite um intervalo de tempo maior entre as consultas, logo o custo do paciente no sistema de saúde fica menor. Entretanto, como se trata de uma mudança de paradigma, vai demorar para os gestores em saúde se atualizarem. Aliás, na cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo, foi criado um projeto-piloto para provar que sai mais barato para o SUS fazer esse tipo de testagem.


Portanto, a tendência mundial é a realização do teste de DNA-HPV e, se for detectado um vírus de alto risco, o paciente irá direto para a colposcopia, pois o preventivo também poderá acusar um falso negativo mesmo que a pessoa tenha uma lesão.

Por fim, uma coisa importante de se dizer é que a citologia - o exame que fazemos atualmente no Brasil - é um teste extremamente sensível, por isso, quando o preventivo dá alguma coisa, provavelmente a paciente apresenta uma lesão. Nesse caso, o colposcopista se dedica a procurar a lesão porque provavelmente conseguirá encontrá-la. Em contrapartida, se a citologia não indicar alterações, não é possível afirmar com certeza que a paciente não possui uma lesão.


Referências bibliográficas:

● Diretrizes Brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero/ Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede - 2ed. rev. atual - Rio de Janeiro: INCA, 2016.

● Indaiatuba é destaque em uma das principais revistas científicas do mundo com projeto de rastreamento de DNA de HPV. Assessoria de imprensa Roche, Unicamp e Prefeitura de Indaiatuba, 2021. Disponível em: https://www.indaiatuba.sp.gov.br/relacoes-institucionais/imprensa/noticias/30490/.


 
 
 

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