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HPV e Câncer de Colo de Útero: Parte 1

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 19 de jan. de 2023
  • 5 min de leitura

Mediado por Wallace Soares e Wellyngton Luiz


1) O que é o HPV e quais doenças esse vírus pode causar?

O HPV é o Papiloma Vírus Humano e existem mais de 100 tipos. Na maioria das

vezes, a transmissão ocorre por relação sexual, podendo levar ao desenvolvimento de algumas doenças. Geralmente o HPV é assintomático, mas quando causa algum sintoma dependerá do tipo de HPV adquirido e do sistema imunológico da pessoa.

O vírus pode ser dividido em dois grandes grupos: os HPVs de baixo risco e os HPVs de alto risco. No grupo de baixo risco, o vírus pode causar os condilomas e as verrugas genitais; já os tipos virais de alto risco tendem a causar lesões intraepiteliais de baixo (nic1) e alto grau (nic 2 e 3), as quais podem ser precursoras do câncer de colo uterino. Essas lesões podem ser detectadas por meio da coleta do exame preventivo, também chamado de papanicolau, esfregaço cervicovaginal ou colpocitologia. Aqui, gostaria de fazer uma diferenciação importante que é não confundir o HPV de alto risco com lesão de alto grau. As expressões de baixo ou alto risco se atribuem ao vírus, para dizer se esse vírus é motivo de preocupação maior, por comumente causar lesões potencialmente mais graves, ou se é um vírus “banal” que só necessita de acompanhamento. Por outro lado, dizer que a lesão é de baixo ou alto grau significa avaliar a gravidade da lesão que já foi causada pelo HPV.

O HPV possui tropismo pelo aparelho urogenital, ou seja, preferência por essa região do corpo, mas também pode afetar outros locais, como o reto e a orofaringe. Uma vez instalado no corpo humano, provoca doenças que, geralmente, são facilmente resolvidas, como as verrugas genitais e os condilomas - lesões mais simples e brandas. Entretanto, alguns casos podem evoluir para doenças mais graves, como câncer de colo de útero, vulva, vagina, pênis, canal anal e orofaringe.


2) De que forma o HPV pode ser transmitido? Homens e mulheres possuem risco de contraí-lo?

Quando damos a notícia de que o exame foi positivo para HPV, os pacientes ficam muito assustados, como se fosse uma infecção muito rara ou grave. Entretanto, estima-se que entre 75 a 80% da população mundial será acometida por pelo menos um dos tipos do HPV em algum momento da vida, seja homem ou mulher.

Embora na maioria das vezes seja adquirido por via sexual, também existem outros meios de transmissão. Em uma pesquisa feita pelo Doutor José Maria Barcelos, que buscava avaliar de que forma o vírus entra no organismo humano, colheu-se material do canal vaginal de bebês natimortos do sexo feminino. Como o HPV foi encontrado em algumas dessas meninas, percebeu-se que o vírus pode ser transmitido verticalmente de mãe para filho, embora existiram controvérsias.

Em uma outra pesquisa, os cientistas colheram amostras de superfícies de banheiros públicos de shoppings e rodoviárias, como maçanetas, pias, torneiras e vasos sanitários. Como resultado, encontraram HPV em várias dessas superfícies, porém em menor quantidade nas tampas dos vasos sanitários dos banheiros femininos. Apesar disso, não foi possível estabelecer a relação de que o HPV encontrado nesses locais fosse capaz de infectar as pessoas, pois a presença do vírus no meio não significa necessariamente que possa ser transmitido para o corpo humano.


3) Como é feito o diagnóstico do HPV?

O diagnóstico da virose HPV é muito difícil de ser estabelecido, podendo ser feito por PCR (pesquisa direta pelo DNA do vírus) ou captura híbrida, porém esses exames são caros e não são de rotina.

O mais comum é que numa consulta com o ginecologista ou enfermeiro se faça a coleta do exame preventivo ou papanicolau. Ao analisar as células no microscópio, podem ser detectadas lesões sugestivas de HPV. Se houver lesão e, dependendo do grau dessa lesão, pede-se o exame de colposcopia, em que o médico insere alguns corantes no colo do útero que têm afinidade pelas lesões do HPV; depois, em um colposcópio, que é um equipamento que aumenta a imagem, é feita a análise minuciosa da vagina e do colo uterino. Se houver lesão suspeita, é feita a biópsia dessa lesão e o resultado confirmará o diagnóstico previamente acusado pelo preventivo. Após a realização da biópsia, a paciente recebe o tratamento adequado.

Por isso, existe o protocolo de rastreio, que deve ser feito mesmo nas mulheres que não manifestam sintomas. A detecção acontece por meio do exame, pois o próprio câncer de colo de útero nos estágios iniciais é assintomático, então o HPV pode estar provocando uma lesão grave sem a paciente sentir nada num primeiro momento.


4) Por que o diagnóstico de HPV pode ser muito impactante?

Quando eu dou a notícia de HPV positivo para um casal é muito comum que um cônjuge acuse o outro pela doença, sugerindo que possa ter existido uma possível traição. Essa relação não procede, pois além do HPV não ser transmitido exclusivamente por via sexual, não é possível determinar em que momento a pessoa adquiriu o vírus, podendo tê-lo por muito tempo sem manifestar sintomas.

Na minha atuação profissional, eu percebo que o HPV abala mais as pacientes por ser uma doença sexualmente transmissível do que pelo fato de poder causar complicações mais graves. O estigma associado ao vírus é muito forte, sendo um fator adicional para prejudicar a imunidade da paciente, que se sente culpada por tê-lo adquirido.

Uma outra questão a ser considerada é que, nos casais heterossexuais, os homens são mais assintomáticos que as mulheres, sendo muito difícil detectar o HPV no sexo masculino. Em vista disso, surgem muitos conflitos, pois o marido pode questionar como a esposa contraiu o vírus, já que ele não sente nenhum sintoma. Nesse caso, o homem deve ser encaminhado para o urologista para fazer o exame de peniscopia, que não necessariamente detectará alguma alteração no órgão genital. Isso não quer dizer que o homem não tenha o

vírus, mas sim que não possui uma lesão visível provocada pelo vírus. Portanto, uma coisa é o diagnóstico da virose HPV, outra coisa é o diagnóstico da doença provocada pelo HPV.

Além disso, um fato que me chama atenção é o impacto emocional que as lesões do HPV despertam nos pacientes. As verrugas e os condilomas, embora sejam manifestações de baixo risco do vírus, assustam e causam muito constrangimento pelo aspecto visual. Por outro lado, lesões sugestivas de neoplasia no colo uterino, que seriam motivo de maior preocupação, tendem a não gerar um temor tão grande por não serem de fácil visualização.


5) A infecção por HPV pode desaparecer nos indivíduos? Do que depende a progressão da doença?

Por quanto tempo a pessoa irá portar o vírus e quais complicações o HPV poderá causar no organismo dependerá do tipo do vírus adquirido e do sistema imunológico do paciente. Como o vírus pode ficar incubado por muitos anos na sua forma latente, isto é, sem manifestar sintomas, é possível que a pessoa seja portadora e não saiba.

Entretanto, o HPV pode se manifestar em momentos de queda de imunidade, sobretudo quando a pessoa está emocionalmente fragilizada, vivenciando depressão ou luto, por exemplo. Mesmo assim, a maioria das infecções são transitórias, ou seja, a pessoa adquire o HPV e consegue eliminá-lo naturalmente com a própria imunidade. Ao todo, apenas 5% das pessoas que adquiriram o HPV desenvolverão lesões mais sérias que inspiram mais cuidados.


Referências bibliográficas:

● Diretrizes Brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero/ Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Divisão de Detecção Precoce e Apoio à Organização de Rede - 2 ed. rev. atual - Rio de Janeiro: INCA, 2016.


 
 
 

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