Histórias não registradas em prontuários: Sob o olhar dos usuários

Mediado por: Leandro dos Santos de Oliveira

Com contribuições de: Beatriz Goudard e Prof. Alessandra Aniceto

​Nesta matéria do quadro publicações científicas, o Jornal A Sístole divulga o livro “Histórias não registradas em prontuários: sob o olhar dos usuários”, lançado em junho de 2022, tendo como organizadores docentes da disciplina de propedêutica médica, e como autores estudantes de medicina que passaram pelo quarto período do curso entre os anos de 2020 e 2021, todos representantes do Centro Multidisciplinar UFRJ-Macaé.

O trabalho surgiu a partir das experiências dos autores com uma dinâmica de ensino utilizada pelos professores Alessandra Aniceto, Ramon Reis e Mônica Andrade no módulo de Relação Médico(a)-Paciente da disciplina supracitada, que se baseia numa Metodologia Ativa de Ensino-Aprendizagem criada pela professora Mônica Andrade – “O olhar do paciente sobre o(a) médico(a)”. Este método instigava os alunos a entrevistarem um voluntário, questionando-o  de modo aberto sobre quem foi o pior e o melhor médico que o atendeu na vida, e o porquê dessa impressão. Os relatos eram discutidos a posteriori em uma sessão de tutoria com outros alunos e professores da disciplina, gerando reflexões acerca das percepções dos entrevistados sobre os cenários vivenciados por eles e sobre os elementos que constroem (ou destroem) o vínculo entre o cuidador e quem é cuidado, dentre outros temas pertinentes à saúde humana.

Segundo a professora Alessandra Aniceto, uma das organizadoras do livro, a atividade não foi iniciada tendo a construção de um livro como objetivo desde o começo. A ideia da publicação surgiu como reação ao enorme impacto emocional dos relatos compartilhados pelos estudantes, que impeliu os professores a convidarem os alunos da disciplina a redigirem estes relatos em formato de narrativa com o objetivo de compartilhar as experiências marcantes dessa atividade com outros acadêmicos e profissionais da área da saúde em todo o Brasil, suscitando o questionamento: “o que compõe o bom e o mau médico?”.

Deste esforço, surgiu a obra: uma coletânea de 19 textos escritos por acadêmicos de medicina que incluem narrativas reais, protagonizadas por pessoas de diferentes origens, crenças e visões de mundo, além de análises críticas e reflexões dos discentes sobre as histórias documentadas. A publicação, que conta com um prefácio redigido pelo médico sanitarista e pesquisador Prof. Dr. Emerson Merhy, traz depoimentos fortes e tocantes, os quais evidenciam com clareza que a percepção de “bom ou mau médico” está ligada a boa ou má relação médico-paciente e seus múltiplos componentes.

Ainda sobre este tópico, a aluna Beatriz Goudard (M6), uma das autoras do livro, discorre:

“Acredito que um bom médico deve, primeiramente, ter uma qualidade técnica de excelência. Mas, apesar de essa característica ser fundamental, ela não é única. Um bom médico precisa enxergar o paciente além de sua doença, com seus aspectos de subjetividade e história por trás do momento de dor. É preciso saber ouvir o outro, a ter empatia e a saber orientar o paciente sem julgamentos. Um bom médico precisa essencialmente ser humano. E como pudemos ver com meu relato e dos demais colegas, um mau médico é aquele que não tem cuidado com o outro, que não faz questão de conhecer o paciente além de sua queixa. Inclusive, existem profissionais que sequer ouvem de maneira adequada a queixa do paciente. Portanto, um mau médico, resumidamente, é alguém que não olha o paciente como um ser humano, com necessidades e desejos que precisam ser priorizados.“

De acordo com a apresentação do livro, os professores organizadores consideram que a dinâmica obteve êxito em ensinar aos acadêmicos o valor do “investimento do(a) profissional médico(a) na relação estabelecida com as pessoas sob seu cuidado.”. “[...] Acredito que me aprofundar no assunto com meus colegas, pesquisar e refletir sobre a importância da humanização do atendimento médico fizeram com que eu tomasse certas atitudes e características de um médico como primordiais para meu entendimento do que é ser um bom profissional na área da saúde.”, relata Beatriz Goudard.

Os autores do texto apresentarão o material no Congresso Brasileiro de Educação Médica (COBEM), que ocorrerá em Foz do Iguaçu, PR, de 3 a 6 de Novembro de 2022, e no Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva da Abrasco (Abrascão), a ser realizado em Salvador, BA, de 21 a 24 de Novembro. Já o livro se encontra disponível na íntegra para download gratuito em formato PDF e EPub no site da Editora Rede Unida.

“Espero que essa produção consiga tocar vocês da maneira que nos tocaram. Acredito que a melhor maneira de entender o problema de uma questão é através de relatos de experiências anteriores. Com isso, nosso livro traz vivências das mais variadas que conseguem apresentar características e atitudes de um bom e mau profissional da saúde de maneira leve e comovente. A leitura irá te aproximar da subjetividade humana ao perceber expectativas, dores e necessidades de pacientes de diferentes faixas etárias e classes sociais. Desejo uma ótima leitura a todos e qualquer dúvida, nós, discentes e docentes, estamos à disposição!” – Beatriz Goudard

Autores:

Organização:

Alessandra Aniceto Ferreira de Figueirêdo

Mônica Gomes de Andrade

Ramon Reis dos Santos Ferreira

Autores das narrativas:

Adelaide Rodrigues de Moura

Ana Carolina de Matos Machado Cunha

Bárbara da Silva Ferreira

Beatriz do Valle Goudard

Cecília Santos de Brito

Daniella Rodrigues David

Eduarda Machado Nascimento

Ellen dos Santos Brito

Gabriel Marcelino Barbosa

Gabrielle de Matos Amorim

Giulia Amorelli Maia de Almeida

Juliana de Oliveira Mansur Pacheco

Lara Satler Cosmo de Resende

Lorena Faria de Oliveira

Luísa Lisbôa Machado

Nathanielle Silva de Andrade

Pedro Victor dos Santos Monteiro

Rafaela Espíndola Costa

Ramon Werner Heringer Gutierrez

Rodrigo de Oliveira Cardoso Müller

Sara Cangussu Braga

Taís Caroline dos Santos Silva

Thaís Maria Paim Oliveira

Thyeli Spacini