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HISTÓRIA DA SAÚDE: HIPÓCRATES

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 26 de jul. de 2022
  • 5 min de leitura


Por Leandro dos Santos de Oliveira e Caio Vinicius


“Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém.”. Essa é uma das promessas presentes no Juramento de Hipócrates, considerado o mais famoso médico da antiguidade, o pai da medicina ocidental e uma das maiores figuras da história da saúde. Dados os escassos registros existentes sobre sua vida, Hipócrates adquiriu uma condição quase mitológica, na qual se torna difícil distinguir o que é verdade e o que é ficção sobre esse personagem. Para trazer luz aos fatos e esclarecer algumas controvérsias, o Jornal A Sístole traz no quadro História da Saúde a vida e obra de Hipócrates.


Hipócrates nasceu na ilha de Kos, Grécia, em 460 a. C. Neste período, a prática médica era conectada à superstição, à mágica e ao sobrenatural, sendo executada por sacerdotes, que passavam seus conhecimentos de geração em geração. Hipócrates adquiriu seus primeiros conhecimentos médicos nesse contexto, aprendendo com seu pai, Heráclides, e complementando sua formação com aulas de retórica e filosofia. Porém, logo rompeu com as tradições familiares ao entender que as doenças humanas não eram castigos divinos e que poderiam ser explicadas racionalmente. Ele estabeleceu a Escola de Kos, na qual ensinava medicina para aqueles que buscavam “aprender a Arte” em troca de pagamento e jura às regras estabelecidas por ele.


Hipócrates foi contemporâneo de Sócrates e Platão, sendo também citado nos textos de Aristóteles. Entre 440 e 360 a. C., Hipócrates e seus pupilos escreveram muitos tratados médicos, porém só 60 destes sobreviveram ao incêndio na Grande Biblioteca de Alexandria, sendo todos compilados sob o título Corpus Hippocraticum. Por esse motivo, é difícil separar as ideias de Hipócrates de seus alunos, mas é inegável que os textos apresentam influência direta do médico grego.


Contribuições de Hipócrates

Sem dúvida, a principal contribuição de Hipócrates foi utilizar o método científico e racional no estudo e exercício da prática médica. Ao separar a medicina do divino, o médico grego foi capaz de estudar condições consideradas sobrenaturais como doenças com causa natural - por exemplo, a epilepsia. Ele também defendia a análise e revisão de todos os conhecimentos pré-existentes, um conceito até hoje aplicado por pesquisadores na produção científica nos artigos de revisão da literatura, e a busca incessante pela evolução da medicina.


Hipócrates reconhecia como imprescindível ao médico a habilidade de comunicar de forma simples e compreensível às pessoas as causas das doenças e seus tratamentos e de individualizar a terapêutica, considerando as peculiaridades de cada um. Ele também se destacou ao dar ênfase ao impacto do estilo de vida no desenvolvimento de doenças. Um exemplo disso foram suas observações sobre o povo Cita, nas quais ele correlacionou corretamente obesidade com menor fertilidade e expectativa de vida.


Apesar da autoria nebulosa e das várias adaptações sofridas, o Juramento de Hipócrates inspirou vários códigos de ética médica existentes até hoje, mantendo-se como um exemplo do espírito de boa fé e prontidão para cuidar do paciente, ao prezar pelo seu bem sem que isso cause prejuízo, desejável a todos os médicos.


A teoria dos 4 humores

Conforme A Natureza do Homem, único texto do compilado que tem autoria declaradamente atribuída a Hipócrates, o médico grego acreditava que a saúde humana era derivada do balanço de 4 fluidos corporais (humores):


● o sangue, armazenado no fígado e levado ao coração, sendo quente e úmido;

● a fleuma, que corresponde às secreções de mucosas, provém do cérebro e é fria e úmida por natureza;

● a bile negra, que é produzida no baço e no estômago, sendo fria e seca;

● a bile amarela, produzida pelo fígado e sendo quente e seca.


Para Hipócrates, dieta e estilo de vida inadequados causavam desbalanços nesses fluidos e geravam “vapores” que provocavam os sintomas dos enfermos. O papel do médico era, então, equilibrar esses humores por meio de uma adaptação da dieta e do estilo de

vida do paciente de acordo com os sinais e sintomas.


A teoria dos 4 humores não foi criada por Hipócrates: ela já era mencionada por

outros estudiosos mesopotâmicos anos antes. Entretanto, foi Hipócrates que aplicou esta teoria à interpretação do processo saúde-doença humano, noção que foi popularizada por Galeno, médico grego que viveu entre 129 e 216 DC, e que persistiu até o século XVII.


Juramento de Hipócrates

"Eu juro, por Apolo médico, por Esculápio, Hígia e Panacea, e tomo por testemunhas todos os deuses e todas as deusas, cumprir, segundo meu poder e minha razão, a promessa que se segue:

Estimar, tanto quanto a meus pais, aquele que me ensinou esta arte; fazer vida comum e, se necessário for, com ele partilhar meus bens; ter seus filhos por meus próprios irmãos; ensinar-lhes esta arte, se eles tiverem necessidade de aprendê-la, sem remuneração e nem compromisso escrito; fazer participar dos preceitos, das lições e de todo o resto do ensino, meus filhos, os de meu mestre e os discípulos inscritos segundo os regulamentos da profissão, porém, só a estes.

Aplicarei os regimes para o bem do doente segundo o meu poder e entendimento, nunca para causar dano ou mal a alguém.

A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.

Conservarei imaculada minha vida e minha arte.

Não praticarei a talha, mesmo sobre um calculoso confirmado; deixarei essa operação aos práticos que disso cuidam.

Em toda casa, aí entrarei para o bem dos doentes, mantendo-me longe de todo o dano voluntário e de toda a sedução, sobretudo dos prazeres do amor, com as mulheres ou com os homens livres ou escravizados.

Àquilo que no exercício ou fora do exercício da profissão e no convívio da sociedade, eu tiver visto ou ouvido, que não seja preciso divulgar, eu conservarei inteiramente secreto.

Se eu cumprir este juramento com fidelidade, que me seja dado gozar felizmente da vida e da minha profissão, honrado para sempre entre os homens; se eu dele me afastar ou infringir, o contrário aconteça."


Por fim, um dos legados mais populares de Hipócrates, repetido em todas as formaturas de Medicina Brasil afora, é o seu juramento. Nesse sentido, apesar de tratar de modo louvável a respeito da ética e moral ao longo do tratamento entre médico e paciente, temos que concordar que ouvir estudantes de medicina recém-formados jurando em nome de Apolo médico, Esculápio, Hígia e Panacea chega a soar, no mínimo, estranho.


Somado a isso, diante da prática médica como conhecemos hoje, não faz sentido um juramento que não faça sequer menção do papel do médico na preservação da Saúde da Comunidade e na prevenção de enfermidades, o que evidencia ainda mais o quão antiquado se mostra esse juramento, que ainda trata de temas como o sexo com escravizados do paciente e a realização da talha (prática antiga que consiste na extração de corpos estranhos de orgãos como bexiga ou vesícula biliar).


O Jornal A Sístole reconhece o papel fundamental de Hipócrates no tratamento metodológico e racionalizado da medicina, mas enxerga como antiquada a realização de um juramento de mais de 2000 anos atrás que não representa plenamente a visão atual da medicina que pensa o processo cuidado-doença de forma holística e social.


REFERÊNCIAS

VARELLA, Drauzio. O Juramento de Hipócrates. Drauzio Varela.uol, 2011. Disponível em: https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/o-juramento-de-hipocrates-artigo/amp/. Acesso em 10 jul, 2022.

SMITH, Wesley D. HIPPOCRATES. Britannica. Disponível em: https://www.britannica.com/biography/Hippocrates. Acesso em: 10 jul, 2022. TSIOMPANOU, E.

MARKETOS, S. G. Hippocrates: timeless still. PUBMED CENTRAL, 2013. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3704070/. Acesso em 10 jul, 2022.

HIPOCRATES, Galen & the four humors. The color works. Disponível em: https://www.thecolourworks.com/hippocrates-galen-the-four-humours/. Acesso em: 10 jul, 2022.











 
 
 

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