Hipocondria: mania de doença
- Jornal A Sístole
- 4 de ago. de 2022
- 3 min de leitura

Por Cibele Loiola
Você já deve ter ficado preocupado ao sentir uma dor na cabeça, ou ansioso para ir ao médico por achar que está doente. Isso é normal, afinal, é fundamental nos mantermos atentos às nossas condições de saúde. Porém, essa aflição pode ser patológica, quando em excesso, o que caracteriza a hipocondria.
A hipocondria é um tipo de transtorno somatoforme, condição na qual sintomas físicos são apresentados e persistem, mesmo com a garantia médica de que não há nenhuma doença . No que se refere ao tema abordado, há uma preocupação excessiva com o adoecimento, a ponto de prejudicar diretamente a qualidade de vida do paciente. Entre os sintomas, estão a constante necessidade de ir ao médico e de realizar exames, a recusa a aceitar a opinião dos profissionais de saúde, principalmente quando estes afirmam que o paciente está saudável e a obsessão por qualquer sintoma, por mais simples e inofensivo que possa ser.
O “transtorno de ansiedade por doença”, termo mais atualizado para se referir à hipocondria, pode surgir em qualquer idade, sendo mais comum entre os 20 e 30 anos, e cerca de 4% a 9% da população brasileira é atingida. De acordo com o Hospital Albert Einstein, mais de 150 mil pessoas no país são acometidas anualmente por essa condição psíquica. O diagnóstico da hipocondria pode ser feito por um psiquiatra ou por um psicólogo através da observação comportamental do paciente.
As causas desse transtorno ainda não são muito compreendidas, mas existem estudos que relatam alterações na morfologia e no funcionamento cerebral de um hipocondríaco em comparação a um indivíduo saudável. Segundo as pesquisas existentes, as áreas corticais afetadas estariam relacionadas à autoconsciência e a certos aspectos da memória, além da ocorrência de uma possível diminuição da conectividade cerebral entre áreas funcionais. Entretanto, a discordância entre alguns resultados e os poucos estudos existentes corroboram a necessidade de mais pesquisas no assunto, a fim de compreender melhor a fisiopatologia da hipocondria.
Ademais, o transtorno atinge diferentes áreas da vida do paciente, podendo levar, inclusive, à invalidez. Em alguns casos, o indivíduo dedica grande parte do seu tempo à investigação acerca de determinada doença, deixando de lado suas obrigações diárias. As atividades sociais e de saúde também são prejudicadas pelo medo de desenvolver qualquer doença ou lesão ao praticar um exercício ou até sair de casa.
No contexto da pandemia de Covid-19, essa situação se agravou. Fatores como o isolamento social, mudanças de comportamentos e o medo da infecção e da morte deixaram muitos indivíduos mais suscetíveis ao desenvolvimento do transtorno de ansiedade por doença, principalmente aqueles que já sofriam de ansiedade. Relacionado a isso, a cibercondria, busca excessiva de informações sobre patologias na internet, foi um quadro crescente durante o isolamento e contribuiu para o aumento dos casos de ansiedade e de hipocondria.
Como consequência disso, os quadros tendem a perdurar mesmo com o fim da pandemia. Por isso, é de extrema importância que os profissionais saibam diagnosticar corretamente o transtorno e manejar de forma respeitosa e equitativa, levando em consideração os aspectos biopsicossociais e culturais de cada indivíduo. Assim, os pacientes podem progredir de maneira mais satisfatória, o que gera impactos positivos no bem estar de toda a sociedade. Além disso, com um cuidado direcionado e atento dos profissionais, os impactos da pandemia podem ser minimizados a longo prazo.
Referências
BAGUINHO, Matheus Ventura Leonardo et al. HIPOCONDRIA E SAÚDE MENTAL NO CONTEXTO DA PANDEMIA DO COVID-19.
VAZ GUIMARÃES, Tiago Oliveira. Gestão do Doente Hipocondríaco. 2021. Tese de Doutorado. Universidade da Beira Interior (Portugal).
RAMIREZ, Gonzalo. Hipocondria: o que é, sintomas, causas e tratamento. Tua saúde, 2022. Disponível em: <https://www.tuasaude.com/mania-de-doenca/>
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