GINECOLOGIA DO ESPORTE
- Jornal A Sístole
- 10 de ago. de 2021
- 3 min de leitura

Por Júlia Maltez e Gabriela Gomes
O QUE É A GINECOLOGIA DO ESPORTE?
A ginecologia do esporte não é uma subespecialidade propriamente dita, mas sim uma área de atuação voltada à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento das particularidades associadas a mulheres que praticam atividade física, sejam elas amadoras ou profissionais. Trata-se de uma área com um olhar essencialmente multidisciplinar e interprofissional, abrangendo medicina, nutrição, fisioterapia, psicologia, dentre outras áreas. No Brasil, a médica Tathiana Parmigiano é pioneira em oferecer esses cuidados de forma individualizada para diversas mulheres, incluindo as principais atletas do país.
A TRÍADE DA MULHER ATLETA E O PORQUÊ DA GINECOLOGIA DO ESPORTE
Em 1922, foi descrita a “tríade da mulher atleta”, uma síndrome que tem como substrato a baixa disponibilidade energética propiciada por um gasto metabólico que supera o consumo, geralmente reduzido. Os seus três componentes principais são:
Distúrbios alimentares: podem ir desde uma restrição à ingesta alimentar até anorexia ou bulimia nervosa, tendo como consequências o aumento da morbimortalidade e redução do desempenho esportivo.
Amenorreia (ausência de menstruação): de origem hipotalâmica, com alteração da pulsatilidade de GnRH e, consequentemente, de LH e FSH, criando um estado de hipoestrogenismo semelhante à menopausa.
Osteoporose: perda de massa óssea com fragilidade esquelética e maior risco de fraturas.
Hoje, sabemos que outras alterações menstruais podem estar associadas a esse quadro, como menarca tardia, alterações de 2ª fase do ciclo e ciclos anovulatórios. Para além da tríade da mulher atleta, as esportistas também podem sofrer com perda ou incontinência urinária, e com outros sintomas clássicos da fase pré-menstrual, como cefaleia e/ou dismenorreia (cólica).
Nessa perspectiva, a ginecologia do esporte constrói um cuidado continuado junto a essas mulheres, reduzindo os sintomas da TPM; planejando o ciclo menstrual em relação aos treinos e competições, a fim de prevenir as alterações já citadas, como a incontinência urinária, auxiliando na escolha do melhor método contraceptivo ou até programando uma futura gestação, dentre outras ações.
E QUAL É A RELAÇÃO DO CICLO MENSTRUAL COM O DESEMPENHO ESPORTIVO?
Sabe-se que os hormônios sexuais femininos, em especial a flutuação estrogênio-progesterona, afetam vários sistemas fisiológicos e parecem ter um importante papel na performance esportiva. Estudos revelam que durante a fase folicular, especialmente tardia, quando a produção de estrogênio é elevada, há um aumento da força muscular quando comparada às fases lútea e menstrual. A fase lútea, associada à diminuição do estrogênio e aumento da progesterona, mostrou maiores níveis de fadiga, assim como a fase menstrual.
Acredita-se que o pico estrogênico durante a fase folicular, principalmente, do 6º ao 13º dia, otimiza a força muscular pela elevação da disponibilidade e da captação de glicose pelas células musculares, enquanto a progesterona, aumentada na fase lútea, age de forma antagônica. Além disso, dismenorreia, irritabilidade e outros sintomas pré-menstruais foram associados à diminuição da performance esportiva. Portanto, de modo geral, as atletas relataram se sentir mais dispostas nos primeiros 14 dias do ciclo em comparação aos dias subsequentes.

[FONTE: https://helloclue.com/pt/artigos/ciclo-a-z/o-ciclo-menstrual-muito-alem-da-menstruacao]
PERSPECTIVAS FUTURAS
É importante citar que, desde 2007, o Colégio Americano de Medicina do Esporte reconhece a influência do ciclo menstrual sobre o desempenho esportivo e a cada ano cresce a produção de estudos sobre essa temática, o que deve ser comemorado, já que, em revisão recente, somente 4-13% dos estudos sobre esporte e medicina esportiva tinham mulheres como participantes. No entanto, apesar do crescimento, o número de estudos continua reduzido e alguns possuem natureza conflitante, devendo essa temática ser cada vez mais estudada a fim de elucidar questões ainda não totalmente respondidas.
Referências Bibliográficas
CONVERSA DE MÉDICO: Ginecologia do esporte para além do alto rendimento esportivo. Entrevistada: Dra. Tathiana Parmigiano. Entrevistadora: Dra. Gabriela Kuster. [S. I.]: Medscape, dez. 2020. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/64Wmtfb0C7hTFBX0VvnmUd?si=fPONwtRBRbivh9xWKUVUXw&dl_branch=1. Acesso em: 05 jul. 2021.
COSTELLO JT, BIEUZEN F, BLEAKLEY CM. Where are all the female participants in sports and exercise medicine research? Eur J Sport Sci.2014;14(8):847–51.
NEIS, C.; PIZZI, J. Influências do ciclo menstrual na performance de atletas: revisão de literatura. Arq. Cienc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 22, n. 2, p. 123-128, maio/ago. 2018.
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