Espiritualidade e Saúde
- Jornal A Sístole
- 14 de jul. de 2022
- 2 min de leitura

Por: Helena Vieira
À princípio, no senso comum do que é a ciência, saúde e espiritualidade parecem áreas heterogêneas e incomunicáveis na medicina contemporânea. Entretanto, estudos recentes revelam a importância do diálogo entre o cuidado à saúde e à dimensão espiritual do paciente, seja na prática clínica diária, seja na formação médica. Além disso, nota-se essa dissociação como um marco dos tempos atuais, já que desde os primórdios da humanidade essas esferas mostraram-se correlacionadas.
A concepção contemporânea de saúde, determinada pela Organização Mundial de Saúde, por si só, já desmistifica a imiscibilidade imposta a esses temas (ideia essa baseada no modelo biomecânico de ensino e vivência médicos). Entende-se que o bem-estar do indivíduo pressupõe a relação entre seus mais variados aspectos – psicológico, econômico, social, entre outros marcadores de diferença – em sua integralidade, o que inclui as crenças religiosas que carrega na sua história.
Essa conexão entre o sagrado e o processo saúde-doença, quando reconhecida pelos profissionais de saúde em sua heterogeneidade, sem a imposição de hegemonias culturais, permite que o paciente receba um atendimento individualizado e, principalmente, humanizado. É de suma importância que essa aproximação de saberes não ocorra de maneira hierárquica, mas horizontalmente, para que não haja imposição de vivências. Com esse objetivo, a formação médica deveria abranger abordagens filosófico-espiritualistas, para que assim, o formado saiba atender às demandas espirituais e religiosas de seus pacientes.
As instâncias não-materiais contribuem positivamente no enfrentamento de doenças e agravos, por meio do suporte e da perspectiva do acometido, de forma a ressignificar o tratamento, a cura ou a fatalidade desse. Práticas religiosas são, portanto, “lugares de acolhimento, de cura e de saúde”, diretamente relacionadas à qualidade de vida. Isso é particularmente perceptível na saúde mental e em pacientes sob cuidados paliativos, mas não somente, já que também foram associadas à diminuição de comportamentos de risco em jovens. Além disso, essa busca e ligação com o divino interfere diretamente nas decisões relacionadas a tratamentos, com direitos e necessidades que precisam ser respeitados.
Assim, há um impacto no corpo social em que o paciente convive, seus hábitos, hobbies e comportamentos mediante a influência de uma religiosidade, que também pode aconselhar a adoção de hábitos e condutas saudáveis, além de confortar o paciente em seu estado. Essa relação é endossada pela psiquiatria moderna, embora a maior parte dos atuantes da saúde não incluam essa pauta na anamnese e nem mesmo apliquem-na no cuidado.
Referências:
(1) THIENGO, Priscila Cristina da Silva et al. ESPIRITUALIDADE E RELIGIOSIDADE NO CUIDADO EM SAÚDE: REVISÃO INTEGRATIVA. Cogitare Enfermagem, [S.l.], v. 24, mar. 2019. ISSN 2176-9133. Doi:http://dx.doi.org/10.5380/ce.v24i0.58692. Disponível em: <https://revistas.ufpr.br/cogitare/article/view/58692>. Acesso em: 22 jun. 2022.
(2) TEIXEIRA, M. Z. Interconexão entre saúde, espiritualidade e religiosidade: importância do ensino, da pesquisa e da assistência na educação médica. Revista de Medicina, [S. l.], v. 99, n. 2, p. 134-147, 2020. DOI: 10.11606/issn.1679-9836.v99i2p134-147. Disponível em: <https://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/149273>. Acesso em: 22 jun. 2022.
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