ESPAÇO ABERTO: LUAN LIMOEIRO

Medicina não é saúde

No entanto é grave e séria

Medicina só é saúde

Quando se permite contagiar de afeto

Tocar além da pele

Prescrever a fala

Descolonizar os corpos

E entender que somos frutos da terra

Pois, em tudo que me ataca os nervos

Se resolve no neurologista

Nem tudo que me sangra o coração

É cardiopatia

Nem tudo que me cansam as pernas

É caso de angiologia

Nem tudo em mim é osso, músculo e sangue

O que em mim circula quase sempre é suor, lágrima e desejo

O meu pulsar, não se justifica pelas contrações periódicas do miocárdio

Foi cautelosamente construído a doses prolongadas de sortilégio e primaveras

Não procure na casca o que, aos olhos cegados pela rotina médica, não enxergam mais

Guarde o estetoscópio, pois, para me auscultar, só precisa ler as palavras que, no rosto mudo, gritam minha queixa.