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ENTREVISTA: UMA CONVERSA SOBRE A SAÚDE MENTAL NO CURSO DE MEDICINA

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 22 de abr. de 2020
  • 3 min de leitura


Por Karine Corrêa e Ramila Tostes


O estresse no ambiente universitário é cada vez mais frequente. Quando se pensa nos cursos da área da saúde, como a Medicina, é irônico observar que a saúde dos futuros profissionais é impactada negativamente pela graduação. Os dados apontam, inclusive, que 30% dos estudantes de Medicina desenvolvem problemas psicológicos ao longo do curso, o que já é observado no campus Macaé. A estudante do 5º período, Laura (nome fictício), relata ter desenvolvido transtorno de ansiedade devido a pressão vivenciada no ambiente universitário:

“No caso da medicina, o fato do curso ser integral já acarreta estresse, uma vez que o aluno fica na faculdade de 8 as 17h. Tudo bem, é compreensível por conta da carga horária que é obrigatória oferecer. (…) Infelizmente, ainda encontramos discentes que creem que o aluno é uma máquina e deve só estudar, acumulando uma infinita quantidade de matéria que humanamente é impossível assimilar. Assim, este, muitas vezes, acaba decorando o conteúdo e não aprendendo, se frustra e o estresse aumenta ainda mais.”

Quando questionada sobre os métodos para lidar com o estresse, a universitária preza por suas atividades de lazer, mesmo com a falta de tempo:

“Faço acompanhamento psiquiátrico com medicamento e psicológico, uma vez que devido a faculdade adquiri transtorno de ansiedade; além de me obrigar a não deixar de fazer coisas que gosto por conta da faculdade, como ir à igreja, ver séries, encontrar amigos…”

Por outro viés de análise, em contato com um dos membros docentes da UFRJ - Campus Macaé, o psiquiatra Júlio Cesar Silveira Gomes Pinto, nos relata sua percepção, como professor, acerca da relação entre a vivência do estudante no Curso de Medicina e a saúde mental do mesmo:

“A vivência que percebo é de medo, falta de tempo, pouco lazer, enorme pressão das obrigações e competitividade. Isto também acontece em outros cursos de medicina, outras graduações e pós-graduações. Sinal dos tempos em que vivemos. As consequências para a saúde mental são: nível muito alto de estresse, ansiedade, irritação, tristeza (chegando à depressão), sensação de incapacidade e de falta de sentido.”

No que tange às ações práticas e institucionais que podem ser realizadas em prol de uma maior promoção/proteção à saúde mental dos estudantes, o professor argumenta:

“Existem problemas nos métodos de ensino que são difíceis de resolver, mas é possível. Também é necessário abordar os problemas entre professores e alunos, entre professores e entre alunos. Os métodos de ensino, desde cedo na vida do estudante, valorizam muito mais a memorização de conteúdos do que a construção conjunta do conhecimento. Precisamos estar atentos para as relações entre alterações de métodos de ensino e promoção da saúde mental do conjunto de pessoas envolvidas no ensino-aprendizagem. Implantar estudos visando práticas de ensino mais participativas é um caminho a ser percorrido. Devemos promover constante debate a respeito do que acontece no nosso curso de medicina. Debater claramente os problemas e zelar para que as discussões tenham consequências construtivas. Instalar espaços de discussão a respeito da saúde mental de todos que convivem no ambiente de ensino. Promover a cada momento um ambiente que evite competição, pressa, pressões indevidas e que inclua atividades que deem prazer. Desenvolver ações necessárias e instalar equipamentos no campus para o apoio integral ao estudante.”

Diversos fatores tornam o ambiente universitário uma fonte de estresse na vida dos estudantes, por isso é importante conversar sobre a saúde mental dos alunos e possíveis formas de implementar estratégias para que a universidade não seja um dos grandes agentes responsáveis pelo adoecimento dos futuros profissionais de saúde.


 
 
 

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