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ENTREVISTA: DE PROFISSIONAL DA SAÚDE NA LINHA DE FRENTE DO COMBATE AO CORONAVÍRUS À PACIENTE

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 31 de mai. de 2020
  • 4 min de leitura


Por Francília Garcia Paes Barreto e Miguel Brito


Com Dra. Flávia Schueler

Médica dermatologista especialista pela SBD


No atual cenário da pandemia da COVID-19 acompanhamos diariamente a dura realidade nas unidades de saúde brasileiras, assim como dos profissionais de saúde atuantes na linha de frente. Pensando nisso, o Jornal A Sístole convidou a Dra. Flávia Schueler, Médica Dermatologista, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e pós graduada, também em dermatologia, pela Policlínica Geral do Rio de Janeiro, para relatar um pouco sobre o dia a dia do enfrentamento da COVID-19 e da triste experiência de ter se infectado e se tornado paciente logo na chegada da pandemia ao Brasil.

Dra. Flávia atua há 13 anos como médica socorrista no Hospital Público Municipal Dr. Fernando Pereira da Silva – HPM e há 2 anos no Hospital Unimed Costa do Sol – ambos na cidade de Macaé/RJ.

1. O trabalho de diversos setores tem sido fundamental nesse momento de distanciamento social e pandemia, mas reconhecer os esforços dos profissionais de saúde é muito importante, até para entendermos que vocês também são pessoas que estão sujeitas às mesmas mazelas da doença. Como é, para você, estar nessa linha de frente? E como foi estar nesse lugar de luta e ter vivenciado a COVID-19como paciente?


Antes do início da epidemia no Brasil tive muito medo, afinal era uma doença desconhecida, com alto índice de infectividade e não sabíamos o que estaria por vir. Logo no início da epidemia toda minha família foi infectada. Minha mãe apresentou a forma mais grave da doença e ficou internada por muitos dias. Foi um momento de muito temor pela vida da minha mãe, que ficou em estado grave e precisou ser entubada. Em seguida eu também fui infectada e foi uma situação muito difícil para mim. Tive medo, chorei muito e pensei em desistir, principalmente quando precisei voltar a trabalhar na enfermaria da COVID-19 no HPM. Hoje, depois de recuperada, assim como toda minha família, fico feliz em poder estar trabalhando, forte, saudável e ser capaz de salvar vidas. Hoje entendo ainda mais os sentimentos enfrentados pelos pacientes e seus familiares.


2. Apesar de ser o seu trabalho e de, enquanto estudantes ou já profissionais, estudarmos e nos programarmos para adentrar nesse universo de doenças e mortes, é possível dizer que o medo existe? Como é enfrentá-lo? Aqui falamos de saúde mental, então como você sente que o atual contexto impacta nesse quesito?

Sim. O medo existe e muito! Estar em contato com o desconhecido causa muito medo. Uma vez no plantão pensei até em pedir demissão, mas acho que o medo nos causa um autorreconhecimento, nos faz reagir e criar forças pra enfrentá-lo. Somos obrigados a sair da nossa zona de conforto. Depois de enfrentar a COVID-19 e agora estar ajudando pessoas a ficarem curadas me sinto muito glorificada e abençoada a cada plantão realizado. Os pacientes precisam de nós, médicos e profissionais de saúde, e nós precisamos estar prontos para exercer o cuidado necessário. Por diversas vezes temos a nossa saúde mental abalada, principalmente no momento que nos deparamos com o aumento do número de internações, do número de mortes e também quando temos alguém próximo passando pelo mesmo problema. Devemos buscar forças para alcançarmos o equilíbrio, seja através da fé e da religiosidade ou até mesmo da ajuda profissional se for necessário.


3. Percebemos, via meios de comunicação e redes sociais, diversos profissionais que estão se afastando de suas casas e mudando a rotina, seja para não infectar os familiares, seja para se doarem ainda mais a causa do combate ao vírus. Algo na sua rotina mudou após o desenrolar dos casos e a evolução do vírus aqui em Macaé?


Acho importante o isolamento do profissional de saúde assim como todos os cuidados com a higiene pessoal ao chegar em casa. Toda nossa rotina mudou. Além de trocar a roupa ao chegar no hospital, chegando em casa retiro toda a roupa e imediatamente já a coloco na máquina de lavar. Quando me infectei me isolei em um cômodo e evitei o contato com meus familiares. Não pude visitar meus sobrinhos recém nascidos, não visitei mais meus avós e quase ninguém da minha família, nem mesmo de máscara! Acho importante todo esse cuidado com as pessoas que amamos.



4. Em relação à cidade de Macaé, como tem sido esse atendimento? Ainda tem estrutura se comparado a todo o caos que estamos vendo em outras cidades?


Acho que o hospital está bem preparado. Já abriram vários leitos novos e as enfermarias estão preparadas para receber os pacientes com COVID. Temos equipamentos de proteção individual (EPIs) para os funcionários e percebo que tudo está funcionando bem. O isolamento social é muito importante para não haver superlotação das unidades.


5. Você poderia tecer algum relato para as pessoas da cidade de Macaé a respeito do que tem visto e vivido? O que você diria para a nossa população?


Eu diria para essas pessoas respeitarem o isolamento social e respeitarem as orientações do Ministério da Saúde. Façam a higienização correta das mãos. Usem álcool em gel, limpem seus objetos e suas casas e evitem sair às ruas. Só assim conseguiremos impedir o aumento da transmissibilidade. Gostaria também de dizer para os profissionais de saúde que procurem uma avaliação clínica assim que perceberem algum sintoma sugestivo. Precisamos ser positivos sempre, dar força aos necessitados e acreditar que vamos ser curados. Devemos ter paciência durante o tratamento e muita fé! Muitos pacientes estão saindo curados. Vamos continuar firmes nessa batalha!

 
 
 

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