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ENTREVISTA: CRIANÇAS VÃO AO PSICÓLOGO?

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 27 de jun. de 2021
  • 4 min de leitura


Um diálogo sobre a psicologia infantil e os seus benefícios para o desenvolvimento da criança



Entrevistado

Rafael Damasceno Soares

Psicólogo de Adultos e Crianças

Com um (ou quase dois) pés a mais nos atendimentos das crianças e acompanhamento/orientação de pais.


Mediadora: Karine M Corrêa

Talvez, quando você pense em uma consulta com psicólogo, você imagine um paciente jovem ou adulto, mas, na prática, não há limite mínimo de idade para ter acompanhamento psicológico. O período da infância é repleto de descobertas e transformações, com diversas emoções em ebulição e, muitas vezes, a criança não entende e não sabe lidar com esses sentimentos. O atendimento psicológico desde a infância pode auxiliar nesse processo de desenvolvimento emocional, contribuindo para o desenvolvimento de jovens e adultos aptos para lidarem com os seus sentimentos.

Assim, entendendo a importância do tema e a necessidade de desmistificar a consulta psicológica com crianças, o Jornal A Sístole convidou Rafael Damasceno Soares, Psicólogo de Adultos e Crianças, para responder algumas questões sobre o assunto.


1. Como funciona uma consulta psicológica com crianças? Os pais participam das sessões?


Geralmente, o atendimento das crianças é realizado somente com as crianças. Os pais, na maioria das vezes, não participam do atendimento. Acredito que a interferência da presença do pai ou da mãe na consulta poderia trazer uma repressão na questão da abertura da criança aos assuntos conversados clinicamente.


Além disso, algumas demandas das crianças poderiam ser interpretadas ou reprimidas pelos pais, como uma maneira dos próprios pais se “defenderem” no meio da consulta. Esse movimento não permitiria o acesso tanto da criança, quanto o meu como terapeuta a questões pertinentes e importantes para um trabalho efetivo.


Apesar disso, existem momentos em que os pais/responsáveis são chamados para participar das atividades no consultório junto com a criança. Nesses momentos de interação, os responsáveis têm a oportunidade de aprender e conhecer estratégias que a criança aprendeu durante as consultas. Isso ajuda tanto a criança a fixar os aprendizados, mas também ensina aos responsáveis estratégias de controle emocional, reconhecimento das emoções, controle da ansiedade e outras questões mais.



2. Existe algum perfil específico de criança que se beneficia do acompanhamento com psicólogo?


Todas as crianças podem ser beneficiadas pelo acompanhamento psicológico. Infelizmente, acreditamos que nossas demandas e questões surgem apenas na fase adulta.


Estimularmos o desenvolvimento psicológico das crianças contribui para que tenhamos adultos mais emocionalmente saudáveis, capazes de lidar de maneira mais assertiva em situações desagradáveis da vida. Portanto, não acredito que exista um perfil específico, acredito que todas as crianças possam ser beneficiadas de alguma forma com o processo terapêutico (mesmo que de maneira breve).



3. Existe algum método ou algo que deva ser evitado com o objetivo de criar filhos emocionalmente saudáveis?


Essa é uma ótima pergunta! Acredito que precisamos, de maneira mais urgente do que responder uma fórmula ou um método para criar filhos emocionalmente saudáveis, nos aprofundarmos em compreender o que seria “ser emocionalmente saudável”.


Ainda hoje em palestras, aulas ou diálogos, me deparo com pais que acreditam fielmente na possibilidade do filho estar melhor emocionalmente caso a criança deixe de chorar ou sentir raiva. Contudo, quanto mais os seus filhos deixarem de chorar e sentir raiva, menos emocionalmente saudáveis eles estão.


Pode parecer curioso, talvez até mesmo estranho ler (ou ouvir, no caso dos pais que fazem parte desse grupo de orientação) que seus filhos, mesmo com a terapia, não deixarão de sentir raiva ou chorar. Porém, trazer para os pais a percepção de que a raiva e o choro existirão independente do processo terapêutico e que, através da terapia, a raiva e o choro poderão ser melhor compreendidos e administrados pelas criança e pelos próprios pais, é o caminho que acredito ser fundamental para a criação de filhos emocionalmente saudáveis.


Precisamos compreender e permitir que a criança sinta e viva as emoções, que possa sentir raiva ou choro e que está tudo bem sentir raiva e chorar. Mas além de trazer essa realidade, estar disposto a ouvir da criança os motivos pelos quais ela sente raiva ou está chorando.


Trouxe esses dois exemplos, pois são os que mais frequentemente trabalho com o grupo de orientação de pais. E acredito que seja um ponto onde muitos pais não se atentam durante o processo de proporcionar uma criação emocionalmente saudável aos seus filhos.



4. Quais estratégias os pais podem utilizar para lidar com crianças ansiosas?


Existem diversas estratégias que podem ser utilizadas, falarei 3 delas aqui para não nos estendermos muito.


1- Diminua a autocobrança. Crianças que se cobram muito, ou que são estimuladas a uma cobrança indevida pelos próprios pais, tendem a desenvolver uma ansiedade maior. Estimule a criança para que ela aceite que o tempo é algo importante e não imediato, nem o trabalho completamente entregue, nem sempre estamos 100%. Que em alguns dias vamos produzir mais, outros menos. E está tudo bem.


2- Estimule a prática de exercícios físicos. A criança precisa canalizar a energia e distribuí-la para algum lugar. Antes as crianças demandavam essa energia na escola, na hora do recreio ou em atividades fora de casa. Já perceberam quantas crianças estão com demandas relacionadas à ansiedade durante a pandemia?


3- Exercícios de respiração e relaxamento. Ensine para a criança maneiras de reconhecer e perceber a própria respiração, para que em momentos de ansiedade a criança consiga fazer esse exercício e retornar ao controle emocional.



Por fim, Rafael deixa uma mensagem para os nossos leitores:

Acredito que apenas uma frase, uma que busco pensar sobre ela todos os dias e utilizar como uma ferramenta para me colocar no mundo e em tudo o que faço.


“Cada momento é uma oportunidade de elevar a potência da nossa própria existência, do outro que está conosco fisicamente, nos lendo, nos ouvindo e daqueles que indiretamente serão impactados através daquele momento de transformação.”



Quer saber mais sobre o tema? Acompanhe o nosso convidado no Instagram: @rafaelsoarespsi.

A Equipe A Sístole agradece ao Rafael pela disponibilidade e confiança no nosso trabalho!

 
 
 

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