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ENTREVISTA: CONHECENDO O PROGRAMA MD-PhD

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 27 de mar. de 2022
  • 5 min de leitura


O Programa de Treinamento em Pesquisa Médica, conhecido também como MD-PhD, é, essencialmente, uma via pela qual alunos do curso de Medicina podem cursar simultaneamente a graduação e a pós-graduação em nível de doutorado (sim, sem a necessidade de concluir um mestrado!). A entrada no programa tem início a partir do 8o período da graduação, e tem duração de 4 anos. No Brasil, esse programa foi implementado em 1995, devido a uma iniciativa pioneira do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, em 2008, o programa passou a ser financiado pelo Governo Federal. Atualmente, esse projeto é ofertado por diversas faculdades públicas e privadas. De acordo com o edital publicado pela UFRJ, o objetivo da iniciativa é integrar as práticas de pesquisa básica com a prática clínica, de forma a capacitar os alunos para uma carreira em pesquisa médica. Assim sendo, é seguro dizer que o MD-PhD é um programa de estímulo ao exercício da ciência e, por esse motivo, extremamente relevante. Tão por isso, o jornal “A Sístole” convidou a aluna Maria Sampaio para contar um pouco a respeito de sua experiência pessoal enquanto participante do programa.


Maria é graduanda em medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, atualmente no 10o período, e é doutoranda do programa de MD-PhD do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF-UFRJ) no Laboratório de Cardiologia Celular e Molecular (LCCM). No momento, trabalha como pesquisadora assistente do projeto "Genômica e Proteômica de Aortopatias em Pacientes com Valva Aórtica Bicúspide". É também CEO e Co-Founder da Coractium - uma startup de ciência brasileira.


Em suas palavras, como você definiria o programa MD-PhD?

É um programa que te concede esse direito de carregar um título muito especial - que pode ser traduzido em qualquer lugar do mundo como "médico-cientista". Ser aprovado no programa, no entanto, só significa que você está autorizado a perseguir isso, mas o resto do trabalho fica por sua conta.


Como foi sua trajetória dentro do projeto? Quando tudo teve início?

Eu ingressei no projeto durante o 8o período da graduação. No momento em que você estiver aplicando para uma bolsa de MD-PhD, em frente a banca que irá te selecionar (ou não), praticamente a única coisa que eles estarão avaliando é: você teve uma trajetória científica? Você foi capaz de estruturar um projeto e entender como a ciência funciona? Do início ao fim? Se um aluno não tiver experimentado e aprendido tudo isso ao longo da faculdade, dificilmente ele será aprovado. Por isso, é obrigatória a participação ativa em projetos de iniciação científica. Eu fiz iniciação desde o início da faculdade. Eu me envolvi e comecei a gostar de pesquisa, mas também tinha muito interesse na área de cirurgia cardíaca. Foi nesse momento que eu pensei: será que o programa (MD-PhD) não deveria ser montado de forma que nós, médicos, possamos fazer pesquisa, mas ao mesmo tempo estar dentro do hospital? No momento em que eu consegui montar um projeto que envolvesse o hospital e que envolvesse a rotina que eu queria ter - além de achar um tema que eu realmente gostasse e ao qual eu pudesse me dedicar durante 4 anos - aí eu senti que poderia aplicar para o programa.


Você sempre teve interesse em ir para a área de pesquisa?

No início da faculdade, eu pensava como todo mundo - que só existem duas possibilidades - virar professor universitário ou ser médico. Eu gosto de medicina tanto quanto qualquer outro estudante, gosto do contato com o paciente e tudo mais. Comecei, então, a fazer iniciação científica como sendo uma atividade da faculdade, também porque é muito importante pro currículo e que, além disso, eu gostava. Porém, ao longo do curso eu fui entendendo que é você quem é responsável pela sua trajetória, e eu acho que o MD-PhD é muito sobre isso - é você quem estará ali, naquele momento, criando a especialidade que você quer que te defina. Quando eu comecei a entender isso eu percebi que sim, pra minha vida, eu queria ciência.


Atualmente, como é sua rotina?

Como o meu projeto tem a ver com hospital - eu coleto amostras de cirurgia - sempre tento balizar o meu internato para encaixar nisso. Se tenho algum tempo livre, eu vou pro laboratório, se eu preciso, e posso, faltar em alguma aula, eu falto. Eu realmente não deixo meu doutorado de lado, e faço, sim, concessões por ele. Mas pelo que vejo, a rotina das pessoas que participam do programa varia muito - tem gente que prefere fazer menos coisas relacionadas ao doutorado durante o internato e deixar o trabalho mais pesado pra depois da graduação... De forma geral, eu diria que é muito possível conciliar a graduação com a pós-graduação.


Você acha que existe algum “perfil certo” de aluno para o projeto?

Sim... Tem que ser um aluno que sabe o que quer. Não existe espaço pra dúvida nesse momento, porque é exatamente isso que a banca estará avaliando na pessoa. Também tem que ser uma pessoa que, a partir do momento em que decidiu ser cientista, encheu a sua rotina de atividades científicas. Além disso, o aluno tem que ter uma certa sagacidade, porque a participação no projeto requer muita autonomia.


Você acha que a participação no programa é incompatível com o objetivo de fazer residência médica?

É proibido fazer residência médica enquanto estiver participando do programa. E realmente, a rotina do programa é incompatível com a da residência, seria impossível. Porém, o plano de fazer residência não é nada incompatível com a participação no programa. Tem gente que encurta um pouco o doutorado para começar a residência... Tem gente que estuda para a prova de residência durante o doutorado... Quase todas as pessoas que eu conheço planejam fazer ou fizeram um após o outro.


Você acha que existe algum ponto fraco na execução desse projeto dentro da universidade?

Eu acho que é pouco divulgado. Eu entendo que exista um filtro interno na academia, no sentido de “queremos selecionar alunos que sabem se virar”, mas as circunstâncias de vida de cada um são muito múltiplas. Então, podem existir alunos que, por melhores e mais autônomos que sejam, por qualquer motivo, não acharam informações importantes a respeito do programa, pelo simples fato de que elas não estavam disponíveis. O que eu diria para a universidade, se fosse possível, então, seria: divulgue. Fora isso eu acho o programa o máximo, não sei porque todo mundo não faz!


Você acredita que o cenário político-social brasileiro atual, com o negacionismo científico tão em alta, ameaça o programa?

Se você perguntar para mim, eu respondo que o cenário político-social atual atrapalha tudo que se move. Para ser prejudicado por esse cenário basta estar vivo. Em relação ao MD-Phd especificamente, eu não percebo nada de tão diferente... Os cortes de bolsas, realmente, são uma situação muito crítica. Se existe algum limitante, de fato, ao programa MD-PhD é que existe um número limitado de bolsas disponíveis. Porém, é verdade, também, que no último ano, muitas bolsas ficaram, inclusive, ociosas - porque pouca gente aplicou para o programa. Então sim, acho que o cenário atual atrapalha tudo - por causa dos cortes de bolsa, do não incentivo à ciência, da desvalorização do cientista...

Você já sentiu insegurança em relação a se tornar uma cientista no Brasil? Até por conta de um discurso de que essa é uma área sem muito futuro?

Não. É algo que eu amo e, ainda mais se tem poucas pessoas ocupando esse espaço, me sinto mais encorajada em dizer: sou eu quem vou ocupar. Mas, eu acho que outras pessoas têm que procurar ocupá-lo também. Se ciência não tem futuro, o que tem? Tecnologia, saúde, bem-estar, computadores, inteligência artificial.... se isso não tem futuro, o que é o passado?


Para os alunos que já sabem que gostariam de participar do programa, você tem algum conselho final?

Eu só diria que vale muito a pena. Apenas. Nunca conheci ninguém que optou pelo programa e se arrependeu. Nunca. Não entendo porque todos não vão! Nada se compara.



SAIBA MAIS

A startup Coractium, fundada pela nossa entrevistada, tem como objetivo a criação de soluções que mudem a realidade da ciência e dos cientistas no Brasil. Muito do material produzido por essa empresa - criada por cientistas e para cientistas - é relativo à participação no programa MD-PhD. Para mais informações, acesse:

https://www.coractium.com/

 
 
 

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