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Entrevista: “A literatura enquanto processo de cuidado”

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 23 de ago. de 2022
  • 3 min de leitura


Mediação: Ramila C. L. Tostes


Com Fernanda Antunes


“Da Literatura, do Nordeste, da sala de aula, Dra. emLetras,  Professora do Centro Multidisciplinar UFRJ Macaé e do Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde da UFRJ, também coordena o Projeto de Extensão Narrativas Femininas e o Grupo de Pesquisa LECIÊNCIAS (Literaturas e Escritas na Educação em Ciências).”



1) Como você enxerga a inserção da literatura na formação crítico-afetiva do profissional de saúde? E de que forma você acredita que isso pode contribuir para uma boa relação médico-paciente?


A leitura literária, enquanto arte, faz emergir várias questões sociais que nos atravessam. A literatura tem esse poder de denunciar realidades e anunciar também novas possibilidades de construção de um mundo outro. Ao nos permitir o contato com narrativas plurais, ela nos forma e humaniza. Ao profissional da saúde, ler é um caminho potente para uma formação crítico-afetiva, que considereemoções, experiências, visões de mundo diversas, auxiliando na reflexão sobre as relações médico-paciente.



2) Hoje não existe nenhuma matéria obrigatória na grade curricular do curso de medicina que vise ampliar o espectro literário dos estudantes. No entanto, diante do fato de que a literatura é vista como uma ferramenta de expansão da capacidade criativa e empática dos seres humanos, você considera que existe espaço para adoção de uma disciplina nesse sentido nos cursos médicos?


Gosto de pensar que sim! Mas há caminhos para além do currículo pautado em disciplinas, tais como projetos de leitura e de extensão. Acredito muito na potência formativa extensionista, coletiva e seria uma maneira também de, pela leitura, vivermos uma experiência de trocas e reflexões. O professor e crítico literário Antônio Cândido dizia que a literatura pode transcender as normas estabelecidas. Então, que possamos pensar em espaços outros formativos a partir da literatura e de outras artes.



3) Diante do cenário atual, marcado pela pressa, avanço da tecnologia digital e, de certa forma, pela mecanização das relações humanas, você julga que a literatura vem sendo vista como algo "ultrapassado"ao estabelecermos formas de contato? E como você percebe um possível impacto disso no que construímos como sociedade agora e para o futuro?


Se pensarmos nas formas atuais de leitura, para além do livro físico, e da necessidade de letramentos outros, de fato, como incentivar a literatura diante dessa conjuntura?No entanto, acredito que esta arte pode ser impulsionada também nos contextos digitais (vejam os booktubers!).Para além, acredito que um livro proporciona uma experiência de enfrentamento do caos, nos salvando dessa mecanização das relações humanas, nos levando a sonhar utopias agora e a imaginar um futuro de esperança.



4) Com as demandas universitárias, muitas vezes em formato de leitura, grande parte dos estudantes queixa-se de falta de tempo ou mesmo de uma certa exaustão ao tentar manter ou começar o hábito da leitura. No seu entendimento, isso pode ser revertido? E se sim, como?


Acredito ser o primeiro passo entender que atividades formativas vão além do currículo e da sala de aula. Ler, dançar, pintar, fotografar também são experiências formativas importantes e que podem impulsionar criatividade, afetividade, cuidado e fruição. Tudo isso nosproporciona experiências que nos ajudam também a lidar com os desafios de um cotidiano científico sempre pautado em demandas urgentes.



5) Como recado final, gostaríamos de receber algumasdicas de obras literárias que você julga importante, ou mesmo essenciais, para a formação dos nossos atuais e futuros profissionais do cuidado em saúde.


Sou uma grande incentivadora de obras literárias de autoria feminina. Então minhas dicas são: Becos da Memória e Olhos d’água, da autora Conceição Evaristo; Redemoinho em dia quente, de Jarid Arraes; O peso do pássaro morto, de Aline Bei; Quarto de Despejo, de Carolina Maria de Jesus. Ficam essas indicações e o desejo de construirmos na UFRJ Macaé um projeto de leitura coletivo, de arte literária enquanto formação e cuidado! À disposição!

 
 
 

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