Entrevista: A importância da realização do pré-natal

Autoras: Isadora Santana e Luiza Rangel

O início da assistência pré-natal não é tão recente quanto pensamos. Desde o século VI a.C, há relatos de aconselhamentos para gestantes escritos pelo médico hindu Susruta. No entanto, foi apenas no ano de 1901, na Escócia, que houve uma sistematização do acompanhamento e da criação de medidas de proteção visando a diminuição da mortalidade materna. No Brasil, apenas a partir dos anos 80, houve uma maior organização e valorização do atendimento à gestante. Hoje, o Ministério da Saúde considera a realização do pré-natal fundamental durante a gestação, tendo como objetivos a prevenção e/ou detecção precoce de patologias tanto maternas como fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante. O pré-natal deve começar assim que a mulher descobre que está grávida. No Brasil, a partir desse momento, o Ministério da Saúde recomenda que sejam realizadas, no mínimo, seis consultas (uma no primeiro trimestre da gravidez, duas no segundo e três no terceiro), sendo ideal que a primeira consulta aconteça no primeiro trimestre e que, até a 34a semana, sejam realizadas consultas mensais.

A fim de reiterar a importância da realização do pré-natal, a equipe do Jornal A Sístole entrevistou uma pediatra e uma enfermeira obstetra para discutir mais sobre o assunto.

Entrevista com a Fabricia Quintanilha, enfermeira obstetra com mestrado em Enfermagem:

Quando a gestante descobre que está esperando um bebê, um passo muito importante é procurar o profissional de saúde para iniciar o pré-natal. Mas, afinal, o que é e para o que serve o pré-natal?

“É a assistência prestada à gestante , dentro de um conjunto de medidas que promovem o desenvolvimento saudável da gravidez. O pré-natal representa papel fundamental na prevenção e/ ou detecção precoce de patologias, tanto maternas como fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante.”

Algumas mulheres por já terem feito o pré-natal anteriormente não veem necessidade de fazer o pré-natal em uma nova gestação. Do seu ponto de vista, qual a importância que cada pré-natal tem para cada gestação?

“O pré-natal é de extrema importância durante a gravidez, tem o objetivo de cuidar da saúde do bebê e da gestante, a partir dele é possível prevenir, identificar e tratar doenças que podem afetar tanto a gestante quanto o feto. Além disso, esse acompanhamento é fundamental em termos educativos, ou seja, uma mulher que foi bem acompanhada vai impactar de forma positiva no parto e também na vida dessa criança no decorrer de sua infância.”

Quais os malefícios da não realização do pré-natal para a mulher?

“Dificulta o diagnóstico precoce de alterações na gestação e na realização de condutas adequadas sobre condições que a gestante pode ser acometida, aumentando os riscos de morbimortalidade materno-infantil.”

Entrevista com a Pediatra, Dra Ana Clara Morett:

Quando a gestante descobre que está esperando um bebê, um passo muito importante é procurar o profissional de saúde para iniciar o pré-natal. Mas, afinal, o que é e para o que serve o pré-natal?

“A consulta pediátrica pré-natal é uma consulta onde a gestante procura o pediatra antes mesmo do bebê nascer. É uma excelente oportunidade de a família conhecer o pediatra que fará o acompanhamento daquela criança. A orientação para que a gestante passe por essa consulta pré-natal pediátrica tem fortes embasamentos científicos através de evidências muito claras na literatura à respeito dos seus benefícios. Essa consulta reduz os medos e angústias da família em relação à chegada do bebezinho e antecipa informações e estratégias para enfrentar e resolver situações do cotidiano desse bebê que está chegando. Na consulta, o pediatra avalia se houve intercorrências na gestação, fala sobre a transmissão vertical de algumas doenças como citomegalovírus, sífilis e toxoplasmose. Explica sobre o impacto disso na criança, fala sobre as vias de parto esclarecendo os riscos e os benefícios do parto vaginal e cesárea. Na consulta, também é abordado sobre amamentação, incentivando a mãe e desmistificando conceitos errados sobre o assunto. A gestante vai ser orientada sobre os testes de triagem neonatal, quando fazer e quais fazer, sobre os cuidados básicos com o bebê (cuidados com umbigo, posição segura de dormir, etc) sobre as vacinas, sobre sono, exterogestação e quando procurar a primeira consulta de puericultura com o pediatra depois que o bebê nascer. Então, a consulta pré-natal pediátrica é fundamental para todas as gestantes. É nela que se estabelece o canal de comunicação entre obstetra-família-pediatra.”

Algumas mulheres por já terem feito o pré-natal anteriormente não veem necessidade de fazer o pré-natal em uma nova gestação. Do seu ponto de vista, qual a importância que cada pré-natal tem para cada gestação?

“Cada gravidez é única e diferente da outra. Por isso, para cada bebê deve ser feita uma consulta pré-natal diferente. O pediatra individualiza as orientações em relação àquele bebê e àquela gestação. Por mais que seja a mesma mãe e a mesma barriga, sorologias maternas antes negativas podem soroconverter ou curvas glicêmicas antes normais podem se alterar e essa mãe desenvolver uma diabetes gestacional, por exemplo. Por isso é importante fazer o pré-natal pediátrico em cada gestação!”

Quais os malefícios da não realização do pré-natal para a criança?

“Os primeiros 1.000 dias de vida do bebê vão desde a concepção até os 2 anos de idade da criança. E esse período é decisivo para a saúde da criança. Tudo o que fazemos para a saúde desse bebê dentro dessa janela de oportunidades tem interferência para o resto da vida. A consulta pré-natal pediátrica atua no primeiro momento desses 1000 dias tendo um papel fundamental da definição da saúde dessa criança. A não realização dessa consulta aumenta morbimortalidade neonatal.”

REFERÊNCIAS

Cruz et al. Aspectos históricos, conceituais e organizativos do pré-natal / Historical, conceptual and organizational aspects of prenatal care. Rev. bras. ciênc. saúde ; 18(1): 87-94, 2014. Disponível em: https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-997618. Acesso: 6 nov 2022

BRASIL. Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA No 1/2022-SAPS/MS. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/documentos/financiamento/nota_tecnica_1_2022.pdf