Elucidando Termos: Alexitimia
- Jornal A Sístole
- 7 de mar. de 2023
- 3 min de leitura

por Carolina Daré
As raízes gregas do termo nos dão pistas: “a” significa negação; “lex” remete à “palavra”, já “timia” refere-se à “emoção ou sentimento”. Inferindo um sentido ao termo, poderíamos pensar que representa a situação de “ficar sem palavras”. Recorrendo às referências acadêmicas, encontramos que trata-se da definição clínica psicológica de pacientes que não conseguem expressar suas emoções e, portanto, possuem dificuldades em criar vínculos e nutrir relações de afetos com outros.
O que causa essa condição ainda é motivo de estudo, dentre as hipóteses, temos as disfunções de neurodesenvolvimento, a ocorrência de traumas cerebrais e, ainda, a vivência de eventos adversos durante a infância e adolescência. Nesse último ponto, alguns pesquisadores destacam que a negligência vivenciada por uma criança pode, inclusive, privar seu cérebro da modulação necessária de conexões neuronais associadas aos sentimentos.
Na alexitimia, há inibição não só da expressividade, mas também da sensibilidade do indivíduo, que costuma ser descrito como racional e objetivo, com um mundo interior pouco imaginativo e escasso em sonhos.
Ainda que consideradas as limitações metodológicas dos estudos e o nível de evidência disponível atualmente, é notável a quantidade desses que associam a alexitimia às mais variadas condições. Em graus diferentes, foi verificada sua associação em pacientes: que praticam o abuso de álcool e substâncias ilícitas1; com psoríase2; com autismo3; com a Doença de Parkinson4; com Anorexia Nervosa5; com Transtorno de Estresse Pós Traumático6; com doenças psicossomáticas7; entre outros.
Em grande parte desses estudos, aplicou-se o Toronto Alexithymia Scale (TAS)8 aos sujeitos da pesquisa. Trata-se de um teste com 20 sentenças (como “Quando estou chateado, não sei se estou triste, assustado ou com raiva.”) às quais se deve responder se você discorda, concorda ou não concorda nem discorda. De acordo com a pontuação obtida, o resultado será positivo ou negativo para a condição.
A exploração do termo pode gerar numerosas linhas de pesquisas. Quanto mais sabemos, mais perguntas surgem. Ao conhecer o significado de “alexitimia”, a reflexão que me surgiu foi: por que o processo de confusão ou embotamento emocional se interliga a condições fisiológicas dos mais variados sistemas? Nesse sentido, a condição reforça a necessidade de uma concepção integral de saúde, certo?
E você? Surgiu alguma hipótese ou questionamento? Compartilhe aqui nos comentários!
REFERÊNCIAS
1. HONKALAMPI, Kirsi; JOKELA, Markus; LEHTO, Soili M.; et al. Association between alexithymia and substance use: A systematic review and meta‐analysis. Scandinavian Journal of Psychology, v. 63, n. 5, p. 427–438, 2022. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/35436351/>. Acesso em: 28 jan. 2023.
2. TANG, Fu-You; XIONG, Qin; GAN, Ting; et al. The prevalence of alexithymia in psoriasis: A systematic review and meta-analysis. Journal of Psychosomatic Research, v. 161, p. 111017, 2022. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36041345/>. Acesso em: 28 jan. 2023.
3. KINNAIRD, Emma; STEWART, Catherine ; TCHANTURIA, Kate. Investigating alexithymia in autism: A systematic review and meta-analysis. European Psychiatry, v. 55, p. 80–89, 2019. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30399531/>. Acesso em: 28 jan. 2023.
4. ASSOGNA, Francesca; CRAVELLO, Luca; ORFEI, Maria Donata; et al. Alexithymia in Parkinson’s disease: A systematic review of the literature. Parkinsonism & Related Disorders, v. 28, p. 1–11, 2016. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27086264/>. Acesso em: 28 jan. 2023.
5. ARUNAGIRI, Vinushini ; REILLY, Erin E. Revisiting alexithymia as an important construct in the treatment of anorexia nervosa: a proposal for future research. Eating Disorders, v. 30, n. 3, p. 267–278, 2020. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32966162/>. Acesso em: 28 jan. 2023.
6. YEHUDA, Rachel; STEINER, Ann; KAHANA, Boaz; et al. Alexithymia in holocaust survivors with and without PTSD. Journal of Traumatic Stress, v. 10, n. 1, p. 93–100, 1997. Disponível em: <https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jts.2490100108?sid=nlm%3Apubmed>. Acesso em: 28 jan. 2023.
7. KANO, Michiko ; FUKUDO, Shin. The alexithymic brain: the neural pathways linking alexithymia to physical disorders. BioPsychoSocial Medicine, v. 7, n. 1, p. 1, 2013. Disponível em: <https://bpsmedicine.biomedcentral.com/articles/10.1186/1751-0759-7-1>. Acesso em: 28 jan. 2023.
8. ENGELBRECHT, Natalie. Toronto Alexithymia Scale (TAS-20). Embrace Autism. Disponível em: <https://embrace-autism.com/toronto-alexithymia-scale/>. Acesso em: 28 jan. 2023.
9. CARNEIRO, Berenice Victor ; YOSHIDA, Elisa Medici Pizão. Alexitimia: uma revisão do conceito. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 25, n. 1, p. 103–108, 2009. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ptp/a/WxJrZhZ9Nn78jyQqJD5ZyKp/?lang=pt#:~:text=Alexitimia%20 %C3%A9%20um%20termo%20empregado,sem%20palavras%20para%20as%20emo%C3 %A7%C3%B5es%22%20.>. Acesso em: 27 jan. 2023.
10. FREIRE, Luís. Alexitimia: dificuldade de expressão ou ausência de sentimento? Uma análise teórica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. 1, p. 15–24, 2010. Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ptp/a/hYtYQV8tvhSbsfPNxKB3qDk/?lang=pt>. Acesso em: 27 jan. 2023.
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