DOR E ARTE: AS DORES CRÔNICAS E A PERCEPÇÃO DE QUEM SOFRE
- Jornal A Sístole
- 20 de abr. de 2021
- 2 min de leitura

Por Miguel Soares de Brito Júnior
Inúmeras literaturas revelam os fatores que influenciam na eclosão das dores crônicas, mas, por não caber generalizações e universalidades, outros estudos também afirmam que as diferenças socioculturais interferem na percepção dos quadros. As dores crônicas provocam impactos na vida dos sujeitos que são acometidos, como, físicos, psicológicos e sociais, que são difíceis de serem ajustados e que prejudicam várias esferas desses indivíduos.
As dores, quanto mais persistentes, mais apresentam um caráter de frustração, tanto pelos pacientes, quanto para os familiares e para os profissionais de saúde. Somado a isso, deve-se levar em conta a incapacidade ocasionada pelos efeitos adversos dos fármacos. Assim sendo, ao compreender como cada um entende o sofrimento da dor crônica em sua vida, permite que o tratamento ganhe um viés mais singular, em especial com o auxílio de uma equipe multidisciplinar.
As influências culturais estão no cerne das questões que envolvem as dores crônicas. Reconhecendo a importância de se observar os fatores subjetivos por detrás do desenvolvimento da dor, um trabalho intitulado “Retrato da Dor” foi desenvolvido em 1998. Assim, foi possível observar que nem todos os pacientes que possuíam o mesmo diagnóstico, apresentavam a mesma compreensão sobre as dores que possuíam. Esse instrumento foi mantido, portanto, como uma referência para a avaliação psicológica dos pacientes que ingressavam, por exemplo, no Grupo de Dor do IOT HCFMUSP.
Em 2008 surgiu um movimento chamado “PainSTORY”, desenvolvido em países europeus e constatando que os pacientes apresentavam, de fato, diferentes significados para as dores, valorizando a importância do discurso individual e a validade das formas de expressão, das narrativas. Ainda há poucos instrumentos projetivos nos estudos psicológicos sobre avaliação e tratamento das dores crônicas. Essas técnicas requerem que os indivíduos utilizem suas características de personalidade, bem como experiências de vida.
O estudo com os 150 pacientes indicados pelo “Grupo de Dor” do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Universidade de São Paulo, através de parceria estabelecida com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, evidenciou que os aspectos emocionais desempenham papéis importantes na maneira como os sujeitos interpretam e utilizam os próprios recursos para lidarem com o surgimento das dores e, assim, reforçando que negligenciar o discurso pode acarretar em prejuízos no percurso terapêutico.
É válido destacar que as análises das narrativas favorecem a construção de um importante
elemento a ser considerado pelos profissionais de saúde. A análise dos Retratos permitiu que os desenhos fossem agrupados em oito categorias: cenas, monstros, objetos, formas geométricas, formas irregulares e rabiscos, corpo humano inteiro, partes do corpo e miscelânea.
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