Discriminação dentro e fora de quadras – O caso do Intermed 2022
- Jornal A Sístole
- 15 de dez. de 2022
- 3 min de leitura

Por Julia Rocco e Júlia Lourenço
Entre os dias 7 e 12 de outubro, em Vassouras-RJ, ocorreu o Intermed, uma competição entre faculdades de Medicina. Durante os 5 dias de evento, diversas instituições de ensino do Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, incluindo faculdades particulares e públicas, jogam entre si em diversas modalidades esportivas, como handebol, futsal, vôlei, basquete, além de natação, cabo de guerra e cheerleading. Entretanto, o que era para ser um momento de integração entre atléticas, jogadores e torcida tornou-se palco para um episódio de discriminação.
Em um dos jogos da competição, alunos da UNIG (Universidade Iguaçu), fizeram coro cantando contra a faculdade oponente: “Eu sou playboy. Não tenho culpa se seu pai é motoboy”. O vídeo repercutiu negativamente nas redes sociais, causando revolta devido ao tom desrespeitoso dessa fala, que discrimina o outro devido a sua classe social e condição financeira. A Universidade e o Diretório Acadêmico se pronunciaram repudiando e lamentando o ocorrido. Como punição, a Liga Intermed RJ-ES (LIRE), responsável pela organização do evento, determinou a expulsão da torcida, criação de um comitê para avaliação dos “gritos de guerra”, medidas a serem adotadas em futuros casos e, ainda, estabeleceu que a faculdade deverá doar uma motocicleta à prefeitura de Vassouras.
De fato, esse episódio ocorrido em jogos universitários não é um caso isolado e podemos encontra-lo até mesmo em esportes profissionais. Dentre esses, o futebol é a modalidade que mais registra atitudes preconceituosas, tais como racismo, LGBTfobia e xenofobia, segundo o levantamento de denúncias de 2021 realizado pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Como exemplo, tem-se o caso do jogador Vinícius Júnior, atacante de 22 anos do Real Madrid e da seleção brasileira, que sofreu racismo de um empresário espanhol, o qual acusou o jogador de “macaquices” e, ainda, disse que o lugar do jogador comemorar seus gols era no Sambódromo. Como resposta, o jogador publicou um vídeo em suas redes sociais dizendo “Dizem que a felicidade incomoda. A felicidade de um preto brasileiro na Europa incomoda muito mais”, e complementou contando que o racismo que sofre no futebol vem desde quando jogava no Flamengo, anos atrás.
Outro exemplo de caso de racismo, foi o que ocorreu em 2020, durante uma confusão em uma partida de futebol de PSG X Olympique de Marseille, na qual o jogador Neymar afirma ter sido chamado de “macaco” pelo jogador espanhol Álvaro Gonçales, tal atitude fez com que o brasileiro desse um tapa na cabeça de Gonçales e fosse expulso de campo. Posteriormente, nas redes sociais, Neymar publicou “Eu sou negro. Filho de negro. Neto e bisneto de negro. Tenho orgulho e não me vejo diferente de ninguém. Ontem eu queria que os responsáveis pelo jogo (árbitro, auxiliares) se posicionassem de modo imparcial e entendessem que não cabe tal atitude preconceituosa.”.
Já o machismo no esporte vem desde a sexualização do corpo feminino, até a desvalorização de atletas mulheres, que leva à grande diferença nos salários de atletas homens e mulheres e, também, à falta de investimento nas categorias femininas de diversas modalidades. Tem-se o caso recente ocorrido nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020, em que houve a discussão acerca dos uniformes das jogadoras. O time feminino de ginástica artística da Alemanha vestiu-se de macacões - que iam até o tornozelo - ao invés dos collants, a fim de combater a sexualização do corpo das mulheres. Além disso, as atletas de Handebol de praia da Noruega afirmaram que, dias antes do início da olimpíada, foram multadas pela federação europeia da modalidade pelo uso de “roupas inapropriadas”. Isso ocorreu devido ao fato de elas jogarem de shorts ao invés de biquínis durante a Euro de Handebol Feminino 2021.
Em suma, percebemos que a discriminação para com o outro está bastante presente no esporte, independente da modalidade e tipo de competição. Fato esse que contraria o espírito esportivo que determina, principalmente, o respeito ao adversário dentro e fora de quadra. Assim, como foi feito no Intermed deste ano, é necessário que medidas sejam tomadas a fim de impedir que episódios de cunho preconceituoso continuem a ocorrer, para que com isso o esporte mantenha seu objetivo de integração, competição e diversão.
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