top of page
Buscar

DESUMANIZAÇÃO DE MÉDICOS E ENFERMEIROS NO CENÁRIO DA PANDEMIA

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 14 de abr. de 2022
  • 4 min de leitura

por Caio Vinicius

A Saúde Pública foi um dos setores mais afetados pelo cenário de pandemia da Sars-Cov-2. Recentemente, o surgimento da variante Ômicron, somada ao novo surto de Influenza, aumentaram ainda mais a pressão sobre o Sistema de Saúde Nacional. Diante desse quadro, era de se esperar que houvesse impactos negativos para as condições dos profissionais de saúde. Assim, nota-se um aumento nos casos de transtornos psicológicos e ondas de agressões dirigidas a esses trabalhadores, bem como uma escassez de verbas públicas, de tal modo que se percebe, hoje, um processo de desumanização dos médicos e enfermeiros que lidam diariamente com o estresse de um serviço de saúde sobrecarregado.


1. Aumento nos casos de transtornos psicológicos

Estar na linha de frente, sempre na iminência de uma possível contaminação pelo covid-19, é um fator de grande desgaste na saúde mental de médicos e enfermeiros, visto que isso coloca não só a saúde deles, mas também a de todas as suas respectivas famílias em risco. Ademais, o aumento da carga de trabalho por meio do prolongamento das jornadas, que é resultado da escassez de médicos e de outros profissionais de saúde simultâneo ao aumento do volume de pacientes, se destaca como fator de risco a esses profissionais.


No Brasil, há pesquisas em andamento para compreensão dos impactos na Saúde Mental dos profissionais de saúde nesse conturbado período. Em Brasília, um estudo avaliou médicos residentes em atuação durante a pandemia, nos meses de abril e junho de 2020, e apontou que 25% dos entrevistados afirmaram ter cogitado trocar de especialidade, devido à ansiedade. Entre os sintomas de ansiedade, os mais detectados foram incapacidade de relaxar, medo de que aconteça o pior e nervosismo, constatados de forma moderada em 41,7% dos participantes. Além disso, 83,3% afirmaram que a qualidade geral do sono esteve prejudicada e 75% apresentaram sonolência diurna.


2. Onda de agressões

Com a explosão recente nos números de internações, observa-se um sistema que já operava sobrecarregado e que vem agora trabalhando além da realidade. Com isso, ganha força uma onda de agressões que se manifesta em descaso e em desrespeito para com o trabalho de médicos e enfermeiros. Ademais, como já dito anteriormente, temos também muitos profissionais afastados por Covid ou síndrome gripal: em São Paulo, a Secretaria Municipal da Saúde registrava, até o dia 27 de janeiro, 4707 profissionais afastados - o triplo em relação ao início do mês. Assim, a demora no atendimento, aliada ao crescente aumento no número de casos de violência contra médicos e enfermeiros coloca em risco toda a estrutura social de cuidado.


Apesar de não haver estatísticas que mensurem essa violência atual, um levantamento do COREN (Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo) apontou que 40,9% dos profissionais de enfermagem sofreram agressões verbais e outros 9,5% foram vítimas de ataques físicos.


Segundo Michelle Fernandez, pesquisadora do Instituto de Ciência Política da UNB, os profissionais de saúde passam hoje por um processo de desumanização, muitas vezes sem conseguir almoçar, ir ao banheiro - tudo em prol do bom funcionamento da unidade de saúde.


Relato - Jornal Folha de São Paulo: No Rio de Janeiro o enfermeiro Ronaldo precisou chamar a Polícia Militar após sofrer agressões físicas. As verbais já viraram rotina. "As pessoas nos chamam de vagabundos, dizem que são elas que pagam os nossos salários. Chegam quando a unidade já está fechada e querem ser testadas, gritam, xingam."


Esse quadro responsabiliza os profissionais da linha de frente pelos problemas estruturais da Saúde, e ignora que o bom funcionamento de um sistema está, na verdade, associado a uma boa gestão dos recursos e do número de seus profissionais por parte do Estado.


3. Falta de Verbas Públicas

Para o enfrentamento da COVID-19, é imprescindível o uso de EPIs (Equipamentos de proteção individual) por todos os trabalhadores de saúde, que devem ser fornecidos pelos locais de trabalho gratuitamente.


No entanto, um estudo recente destacou que, apenas entre o período de abril a junho de 2020, houve mais de 15 reportagens nas quais profissionais de saúde de diferentes locais do Brasil mencionaram a falta de EPIs como um dos principais problemas no enfrentamento.


Relato: “A gente assina um papel que pegou a máscara N95 e os óculos. E aí, partir do momento [em] que você assinou, você não pode pegar outro. Então, você tem que manter isso aí, não sei por quanto tempo, que já está errado, porque a N95 tem uma validade”.


Em suma, toda essa pressão faz com que médicos e enfermeiros da linha de frente não possam oferecer os melhores cuidados para as pessoas infectadas. Portanto, esse cenário de descaso emocional e insegurança por falta de EPIs, somado à onda de agressões, tem levado a um quadro de desumanização de médicos e enfermeiros.


Referências Bibliográficas

SILVA, Luiz Sérgio et al. Condições de trabalho e falta de informações sobre o impacto da COVID-19 entre trabalhadores da saúde. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 45, 2020.

VEDOVATO, Tatiana Giovanelli et al. Trabalhadores (as) da saúde e a COVID-19: condições de trabalho à deriva? Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 46, 2021. DANTAS, Eder Samuel Oliveira. Saúde mental dos profissionais de saúde no Brasil no contexto da pandemia por Covid-19. Interface-Comunicação, Saúde, Educação, v. 25, 2021.

COLLUCCI, Cláudia. Ômicron sobrecarrega unidades de saúde e gera onda de agressões a profissionais. Folha de São Paulo, São Paulo, 30 de jan. de 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2022/01/omicron-sobrecarrega-unidades-d e-saude-e-gera-onda-de-agressoes-a-profissionais.shtml. Acesso em: 20 de fev. de 2022 BERGAMO, Mônica. Coren-SP pede informações sobre casos de agressões sofridas por enfermeiros. Folha de São Paulo, São Paulo, 18 de jan de 2022. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2022/01/coren-sp-pede-informaco es-sobre-casos-de-agressoes-sofridas-por-enfermeiros.shtml. Acesso em: 20 de fev. de 2022.

 
 
 

Comments


Post: Blog2_Post

Formulário de inscrição

Obrigado(a)

©2020 por Jornal A Sístole. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page