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DESAFIOS DA FORMAÇÃO MÉDICA LIVRE DOS ESTIGMAS DA GORDOFOBIA

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 12 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura


Autora convidada: Giulia Facina

Acadêmica do 6º ano de Medicina – UERJ

Criadora de conteúdo


Mediado por Karine Corrêa e Ramila Tostes

Não é de hoje que a medicina dita muitos dos valores da nossa sociedade. Ideais, opiniões, preconceitos e regras em que acreditamos são diariamente determinados por ela. Os conceitos do que é beleza, do que é saúde e do que é tido como “padrão” estão inclusos nisso. Desta forma, médicas e médicos acabam possuindo uma posição de poder pautada em argumentos de autoridade e suas falas são, muitas vezes, tidas como verdades absolutas.


Tendo isso em vista, uma formação médica livre de preconceitos, estigmas e generalizações é imprescindível para termos profissionais mais inclusivos e centrados no indivíduo, uma realidade muito diferente da que temos atualmente.


Nesse momento, vários questionamentos surgem à cabeça: por que temos uma medicina tão padronizadora? O que podemos fazer para modificar esse cenário? Então, vamos por partes. Eu acredito em alguns motivos que fazem a nossa medicina ser o que ela é hoje, principalmente no que tange a gordofobia médica.


O primeiro deles é acadêmico. Todos os anos milhares de aulas sobre obesidade são ministradas. A detalhamos exaustivamente de todos os ângulos possíveis até sabermos todos os receptores envolvidos e tratamentos disponíveis. Agora, quantas aulas sobre transtornos alimentares temos de forma tão aprofundada? Dessa forma, ensinamos cada vez mais futuros médicos e médicas a terem um olhar patologizante para as pessoas gordas.


O segundo deles é estrutural. Qual o padrão de estudante de medicina (e consequentemente de profissional) que temos? Brancos, magros e com dinheiro. Obviamente evoluímos bastante nesse quesito (principalmente com as cotas raciais), mas ainda existe um caminho muito grande pela frente para termos uma medicina mais democrática e inclusiva. Quanto maior a diversidade de pessoas se formando médicas menor a probabilidade de que preconceitos sejam reproduzidos.


Agora falando sobre gordofobia médica especificamente. Para você que nunca ouviu falar sobre o assunto, ela envolve perda de direitos, dificuldade de acesso à saúde e, muitas vezes, negligência. Um número absurdo de pessoas gordas já teve atendimento negado ou um diagnóstico mal feito só por conta de preconceito com seu peso. Posso dar exemplos mais conhecidos como a falta de manguitos de tamanho adequado (podendo superestimar a pressão arterial) e a ausência de macas disponíveis, até exemplos mais complexos como profissionais supondo que tudo o que a pessoa sente é devido ao excesso de peso quando isso não é verdade.


Nesse momento, vamos ter uma conversa “sincerona”. Aprendemos várias vezes sobre individualização do cuidado e método clínico centrado na pessoa, mas quantas vezes de fato vemos sendo colocado em prática? A medicina que aprendemos na teoria está longe de ser a praticada no dia-a-dia. Estamos o tempo inteiro padronizando e colocando pacientes em caixinhas. Um grande exemplo disso é a quantidade de cirurgias bariátricas prescritas sem indicação para toda pessoa gorda que já existiu. O quão preocupados com a saúde das pessoas gordas realmente estamos? Ao meu ver, esse detalhe foi esquecido em nome de uma padronização que acaba nos adoecendo ainda mais.


Agora, proponho um exercício. Toda vez que forem atender pessoas gordas (ou qualquer outro paciente), leve em conta o indivíduo como um todo. Será que tudo o que aquela pessoa está sentindo é por conta do excesso de peso ou tem algo mais aí? Será que meu preconceito está me fazendo deixar algo passar? Com milhões de doenças existentes no mundo será que tudo o que a pessoa tem é justificado pelo peso dela? Fica a reflexão.

Por fim, se quisermos de fato ter uma medicina inclusiva, precisamos lutar para democratizar o acesso à universidade deixando ela o mais colorida e diversa possível. Nossos pacientes agradecem.

A equipe do Jornal "A Sístole" agradece à Giulia pela disponibilidade e confiança em nosso trabalho.

 
 
 

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