CONHECENDO AS ESPECIALIDADES MÉDICAS: ORTOPEDIA
- Jornal A Sístole
- 14 de jul. de 2020
- 3 min de leitura
Por Karine Teotônio Campos
Dando início à série “Conhecendo as Especialidades Médicas”, o Jornal A Sístole conversou com um especialista da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) sobre as implicações, desafios e a atuação do médico-ortopedista no mercado de trabalho. O Dr. Pietro Mannarino, nosso convidado, é Supervisor do Programa de Residência Médica e chefe de Clínica do Serviço em Traumato-Ortopedia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF-UFRJ), além de professor Adjunto de Ortopedia da UFRJ.
1 - O que motivou a escolha da ortopedia como sua área de atuação?
Eu sempre gostei muito de ciências exatas e engenharia. Além disso, eu queria uma especialidade que conciliasse clínica e cirurgia e que me permitisse atingir autonomia profissional rapidamente, sendo preferencialmente de acesso direto. A ortopedia era a única especialidade que conciliava todos esses aspectos.
2 - Para você, o que significa ser ortopedista?
Eu acredito que ser ortopedista significa ser, acima de tudo, um especialista do movimento humano. As subespecialidades dentro da ortopedia são muito diversas, mas em última análise, todas visam à restauração ou preservação do movimento do corpo.
3 - Como é a rotina do médico ortopedista?
Isso é extremamente variável. A ortopedia oferece uma gama enorme de possibilidades. Para um ortopedista existem rotinas que envolvem a grande emergência, o atendimento ambulatorial, os procedimentos cirúrgicos, o treinamento esportivo ou a reabilitação osteomioarticular. Basicamente, existem rotinas na ortopedia para todos os gostos.
4 - Como é o mercado de trabalho e a remuneração do médico ortopedista?
O mercado de trabalho para a ortopedia é bom, porque a demanda pelos nossos serviços é sempre alta. Seja por conta das patologias traumáticas ou degenerativas, a ortopedia representa sempre um dos setores de maior movimento em qualquer unidade de saúde. A remuneração na ortopedia depende muito da competência técnica do profissional, da sua relação médico-paciente e da sua habilidade gerencial, mas creio que isso não seja muito diferente de outras especialidades.
5 - Quais os principais desafios enfrentados na ortopedia?
Infelizmente, a parte cirúrgica da ortopedia é extremamente dependente de materiais e implantes que não costumam ser baratos. Num contexto de desabastecimento rotineiro do SUS e eterna briga entre médicos e planos de saúde, muitas vezes a qualidade da assistência prestada pelos ortopedistas acaba sendo prejudicada. Além disso, é extremamente angustiante ver pacientes aguardando em filas intermináveis para realização de procedimentos.
6 - Quais as diferenças na atuação do ortopedista no trauma e na cirurgia eletiva?
Fundamentalmente, o que convencionamos chamar de cirurgia do trauma são as urgências em ortopedia (fraturas, luxações, lesões de anel pélvico...). Para mim, a maior diferença é que as cirurgias eletivas, em sua imensa maioria, seguem um script bem definido. Você é capaz de operar 100 vezes o mesmo procedimento e ter poucas surpresas, mas quando se fala em cirurgia do trauma, nenhum caso é igual ao outro. O ortopedista atuando no trauma nunca sabe ao certo com o que irá se deparar. Essa, para mim, é a grande beleza dessa subespecialidade.
7 - É importante incluir o ortopedista nos check-ups?
Sinceramente, não acredito que a avaliação ortopédica seja essencial num check-up de rotina. As doenças ortopédicas de uma forma geral cursam com dor, sinais flogísticos ou deformidades evidentes. Dessa forma, eu não recomendaria um rastreio ortopédico completo em um paciente totalmente assintomático, exceção feita para avaliação de rotina do quadril em recém-nascidos e da coluna em crianças pequenas.
8- Qual é a dedicação necessária que a pessoa interessada em seguir a carreira de Ortopedista e Traumatologista ganhar o título de especialista da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)?
A prova para obtenção do Título de Especialista em Ortopedia e Traumatologia (TEOT) é uma referência nacional de excelência. Na minha opinião, ela é imprescindível e uma excelente forma de avaliar os programas de residência médica (PRM) em sua capacidade de preparar seus residentes para a prova. No HUCFF, nos últimos 20 anos, acumulamos uma taxa de aprovação superior a 98%, algo sem paralelos em todo o Brasil. Sendo assim, um médico que esteja inserido em um PRM de alto nível como o da UFRJ, ao se dedicar à sua residência de forma padrão, tem toda a chance de obter o TEOT no final do curso.
9 - Qual dica você daria para quem deseja seguir a ortopedia hoje?
Minha maior dica aos futuros ortopedistas é: estudem anatomia. Como diria um dos grandes expoentes históricos dessa especialidade, a ortopedia se resume a muito conhecimento de anatomia e um pouco de bom senso. De resto, dedicação e empatia são mandatórios para qualquer um que deseje ser um bom médico. Nunca se esqueçam que todo paciente é o amor de alguém.
O jornal A Sístole agradece ao Dr. Pietro Mannarino pela sua disponibilidade e confiança no nosso trabalho.
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