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CONHECENDO AS ESPECIALIDADES: MEDICINA DE FAMÍLIA E COMUNIDADE

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 2 de mar. de 2021
  • 5 min de leitura


Entrevistada: Cíntia Baulé

Mediação: Ramila C. L. Tostes


1. Qual caminho um(a) recém formado(a) na graduação de medicina deve seguir, caso queira se tornar um(a) médico(a) de família?

"Existem dois caminhos para se tornar um médico de família: via a residência de Medicina de Família e Comunidade, que tem duração de 2 anos, ou através da prova de título realizada para Sociedade Brasileira de Medicina de família e Comunidade.

Para realizar a prova de título existem pré-requisitos: “Artigo 1º – Para a inscrição para o Exame de TEMFC, o candidato deverá ser graduado em medicina há pelo menos 2 (dois) anos, ter registro definitivo e estar em situação regular em Conselho(s) Regional(is) de Medicina no Brasil, além de também cumprir, no mínimo, um entre os dois critérios seguintes:

I – Ter concluído Programa de Residência Médica em Medicina de Família e Comunidade (MFC) – ou em sua denominação anterior, Medicina Geral Comunitária – credenciado pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM);

II – Ser profissional médico na área de Atenção Primária em Saúde (APS) por, no mínimo, 48 (quarenta e oito) meses, consecutivos ou não, contados até a data final de inscrição para este Exame de Suficiência. A atividade profissional deve ser assistencial, prestada a pessoas de todas as faixas etárias e realizada em cenário de prática da APS”

Fonte: http://www.sbmfc.org.br/concurso-atual/


2. Quando e por que a medicina de família e comunidade começou a fazer sentido para você como uma possível área de especialização?

"Entrei na faculdade em 2007 em um curso que estava atualizado dentro das Novas Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Medicina, portanto tive contato com a Atenção Primária em Saúde desde o primeiro ano da Faculdade. Já tínhamos disciplinas práticas em Unidades Básicas de Saúde de Curitiba, fazendo análise dos territórios e intervenções em educação em saúde. Ao longo dos 6 anos do curso sempre tivemos uma disciplina de Medicina de Família em que realizávamos atividades práticas nas UBS de atendimento clínico na unidade, visitas domiciliares etc. Ao longo deste tempo fui me apaixonando por essa área. Quando estava nas unidades me sentia “médica de verdade”. Tinha também muita dificuldade em escolher uma área de atuação específica, gostava da diversidade que era o trabalho na APS. Mas sentia muito preconceito com a área pelos professores das outras disciplinas e ao me formar não consegui decidir qual prova de residência prestar. Durante o último ano da faculdade prestei um concurso para a prefeitura de Curitiba e ao me formar fui convocada para atuar. Me formei no final de 2012, o Provab e o Programa Mais Medicos ainda eram muito recentes então optei por assumir o concurso. Fiquei um ano atuando em uma UBS e me apaixonei definitivamente pela especialidade, mas sentia muito forte o desejo de completar a minha formação com a residência. Sentia que só a graduação não foi suficiente para eu fazer o trabalho de forma completa. Como na época ainda não existia a possibilidade de fazer a residência como concursado eu optei por sair do concurso e fazer a residência. Essa experiência de atuar antes de fazer a residência foi muito boa, sinto que entrei mais madura e pude aproveitar melhor. Na época foi uma decisão financeira difícil pois saí de um salário de 12.000 para receber uma bolsa de 3.000. Hoje em dia isso é mais fácil por conta das complementações de bolsa que a maioria dos programas de residência em Medicina de Família têm. Hoje a maioria das residências em MFC ofertam uma complementação de bolsa em que o residente chega a receber 10.000 reais."


3. Quais as principais patologias clínicas você, enquanto médica de família, encontra na sua atuação?

"A atenção primária é a porta de entrada da assistência em saúde sendo assim, a gente atende de tudo. As principais patologias de atendimento dependem muito da população que está sendo assistida. Como a maior parte da minha vida eu atuei em áreas urbanas, eu atendo mais doenças crônicas não transmissíveis (Hipertensão, Diabetes, obesidade), saúde da mulher, pré-natal de baixo risco, saúde da criança, do homem, do trabalhador, do idoso, cuidados paliativos, doenças musculoesqueléticas, saúde mental, pequenos procedimentos, ISTs, doenças infectocontagiosas... Um dia nunca é igual ao outro."


4. Sabemos que a medicina de família e comunidade é muitas vezes considerada a base da pirâmide que configura a produção do cuidado em saúde, como você percebe isso no seu dia a dia?

"Acho que na questão anterior exemplifiquei isso. A base da pirâmide quer dizer que vamos atender tudo que chegar para ser atendido. Em geral resolvemos 80% dos problemas na própria unidade, os outros 20% são encaminhados para os serviços de maior complexidade. O médico de família nunca dá alta para o paciente, nós vamos acompanhá-lo até o fim da vida. E temos a preocupação com o acesso, o serviço tem que estar disponível para quando o paciente precisar."


5. Como podemos correlacionar a especialidade clínica de medicina de família e comunidade com as atenções primária, secundária e terciária de saúde, respectivamente?

"A Medicina de Família é a especialidade da Atenção primária. Isso não quer dizer que outras especialidades como Clínica Médica, Pediatria ou GO não possam atuar na APS. Essas outras especialidades atuam na APS, mas a MFC é a especialidade com a maior abrangência de atuação. E o MFC também não atua exclusivamente na APS, é possível um MFC atuar em serviços de atenção secundária e terciária também."


6. Estamos diante de um período conturbado para a valorização da estratégia de saúde da família, na qual sabemos, o(a) médico(a) de família possui um papel fundamental, sendo assim, como você tem encarado os diversos cortes orçamentários na área?

"Eu não tenho atuado no SUS desde o fim da minha residência. Então confesso que não tenho sentido na “pele” esses cortes. O que percebi é uma redução da disponibilidade de concursos e também uma precarização do serviço. Isso acaba gerando uma “migração” dos MFC para os serviços de saúde suplementar até porque a saúde suplementar tem buscado muito os MFCs nos últimos anos. Essa migração é muito ruim para os pacientes porque o MFC com o passar do tempo se torna cada vez mais “especialista em sua população” o que melhora muito o cuidado. Se os profissionais não ficam no serviço isso gera uma quebra grande no seguimento do cuidado. Eu acredito que um bom caminho para solucionar isso seria a criação de uma carreira de estado para a MFC, assim como é para legislativo. A SBMFC tem batido muito nesta tecla e tem lutado para conseguir isso. A SBMFC sempre foi uma sociedade com uma atuação grande em defesa do SUS."


7. Num momento histórico de multiplicação de notícias infundadas como o que estamos vivendo, existe alguma coisa desse teor, correlacionada com a medicina de família, que você gostaria de desmistificar para os(as) futuros(as) colegas de profissão, assim como para a população em geral?

"A primeira coisa MFC não é só o “Médico do postinho”, é uma especialidade médica repleta de especificidades e tecnologia. O SUS não é o único local de atuação do MFC, mas pela sua dimensão é onde tem maior necessidade. A MFC não é a especialidade de “encaminhamentos”, ao contrário buscamos ter uma alta taxa de resolutividade. Fazer não é MFC é estudar pouco, temos que estar sempre estudando se atualizando em todas as nossas áreas de atuação.

É uma especialidade encantadora, cheia de desafios, possibilidades e satisfação."


O Jornal A Sístole agradece à Cíntia Baulé pela disponibilidade e confiança em nosso trabalho.

 
 
 

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