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Conhecendo as especialidades: especialização em Epidemiologia de Campo

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 2 de ago. de 2022
  • 4 min de leitura

 

por Luiza Lino

 

A palavra “epidemiologia” possui sua origem no grego (epi= sobre; demos= população, povo; logos= estudo) e,portanto, etimologicamente, significa “estudo sobre uma população”. A epidemiologia de campo, por sua vez, busca aplicar os princípios e métodos epidemiológicos na rotina dos serviços de saúde pública, utilizando-os como base para a implantação de ações e programas de intervenção frente a problemas de saúde, que sejam imediatos e oportunos. A demanda por uma resposta imediata e oportuna significa que o estudo se desenvolve no terreno onde ocorre o problema e que essa investigação tem duração e extensão limitadas no tempo.


John Snow, médico inglês considerado o "pai" da epidemiologia moderna, foi um dos primeiros praticantes da epidemiologia de campo. Em 1854, diante de um surto de cólera na cidade de Londres, Snow conseguiu estabelecer uma relação entre a doença e uma fonte de água específica, por meio da análise dos prontuários de pacientes que adoeceram e/ou evoluíram a óbito por diarréia e da realização de entrevistas com os familiares destes pacientes. Como resultado de suas observações e coleta de dados, a fonte de água foi interditada e o surto da doença foi controlado, mesmo sem o conhecimento do agente etiológico da cólera (Vibrio Cholerae), o qual só foi isolado em 1883, por Robert Koch.


Os Programas de Treinamento em Epidemiologia de Campo, ou FETP (Field Epidemiology Training Program), como são conhecidos internacionalmente, possuem o objetivo de fortalecer a capacidade nacional tanto das ações de vigilância em saúde quanto das ações de preparação e respostas às emergências em saúde pública, nas três esferas de gestão - federal, estadual e municipal. No Brasil, o programa de capacitação que cumpre esse papel é o EpiSUS - Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde, o qual é dividido em três módulos: fundamental, intermediário e avançado.

Implementado em 2017, o módulo fundamental possui como público alvo profissionais do SUS que atuam nas áreas da vigilância em saúde, atenção em saúde e laboratório. Possui duração de três meses (176 horas), havendo três momentos presenciais, intercalados com trabalhos a serem desenvolvidos no território de trabalho. É oferecido por meio de parceria entre a Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde, e as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde.


O módulo avançado, implementado no ano 2000, possui duração de dois anos (cerca de 3.600 horas - 80% prática e 20% teórica) e exige dedicação exclusiva, em tempo integral. O público alvo para este módulo são profissionais graduados com experiência profissional e pós-graduação em saúde pública ou áreas afins. O treinamento é concentrado em Brasília (DF) e sediado na SVS do Mato Grosso do Sul (MS). Durante o treinamento, os profissionais são alocados em áreas técnicas e participam de investigações epidemiológicas, em apoio às unidades federativas, na vigência de situações e emergências em saúde pública.


Implementado em 2020, já no contexto da pandemia de Covid-19, o módulo intermediário é representado por uma Especialização em Epidemiologia de Campo, a qual é realizada por meio de parceria entre a SVS/MS e a Escola de Governo Fiocruz (EGF), em Brasília. Consiste em uma especialização lato sensu e possui duração de oito meses (564 horas), sendo composta por módulos presenciais mensais e atividades à distância. A proposta de formação foi inspirada no CDC (Centers for Disease Control and Prevention), dos Estados Unidos. Não exige dedicação exclusiva e possui como público alvo profissionais com formação de nível superior, preferencialmente na área da saúde, com experiência profissional comprovada de pelo menos um (1) ano nas áreas de saúde pública. Inicialmente, foi realizado um teste com uma turma de 20 alunos e, com o sucesso da proposta e a pressão por mais profissionais capacitados, o projeto foi ampliado. Em dezembro de 2021, foram formados 753 especialistas, em todas as regiões do país. Para 2022, a expectativa é formar mais 800 epidemiologistas de campo. Com esses números, o Brasil alcança a meta do regulamento sanitário internacional, que é de um epidemiologista de campo para cada 200 mil habitantes, denotando a importância dessa formação para a saúde pública nacional.


O epidemiologista de campo deve sair do curso apto a: confirmar a ocorrência do evento de saúde pública, como um surto ou epidemia; organizar o trabalho de campo; realizar a busca ativa de casos; caracterizar tempo, lugar e pessoas envolvidas; gerar hipótese e adotar medidas de controle imediato; avaliar hipóteses aplicando métodos de análise exploratória; desencadear as medidas de controle específicas; avaliar medidas de controle e prevenção; preparar relatório técnico da investigação de campo, comunicando seus resultados. Desse modo, poderá atuar na investigação de casos, na resposta laboratorial, na coordenação e na liderança em níveis federais da saúde, em portos, aeroportos e fronteiras, na avaliação de risco, gerenciamento clínico, capacitação e desenvolvimento da força de trabalho e também no suporte operacional e logístico. Uma outra forma de atuação, em evidência no cenário pandêmico vigente, é o desenvolvimento de guias e matérias de comunicação e compartilhamento de informação para profissionais de saúde e para o público em geral.


 

Referências:

 

De Princípios M. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE Organização Mundial da Saúde -Representação Brasil [Internet]. Available from: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/modulo_principios_epidemiologia_5.pdf

 

Epidemiologia de campo é um dos destaques da I Mostra da Escola de Governo Fiocruz-Brasília – Fiocruz Brasília [Internet]. [cited 2022 Jul 13]. Available from: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/epidemiologia-de-campo-e-um-dos-destaques-da-i-mostra-da-escola-de-governo-fiocruz-brasilia/

 

EpiSUS Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do Sistema Único de Saúde [Internet]. [cited 2022 Jul 13]. Available from: https://episus.saude.gov.br/docs/folder_episus_11_2019.pdf

 

Especialização forma epidemiologistas de campo para responder às necessidades e emergências em saúde – Fiocruz Brasília [Internet]. [cited 2022 Jul 13]. Available from: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/especializacao-forma-epidemiologistas-de-campo-para-responder-as-necessidades-e-emergencias-em-saude/

 

Fiocruz Brasília vai formar 800 epidemiologistas de campo – Fiocruz Brasília [Internet]. [cited 2022 Jul 13]. Available from: https://www.fiocruzbrasilia.fiocruz.br/fiocruz-brasilia-vai-formar-800-epidemiologistas-de-campo/

 

Macário EM. A formação de epidemiologistas de campo por meio do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do SUS - EPISUS. Handlenet [Internet]. 2013 [cited 2022 Jul 13]; Available from: http://hdl.handle.net/10183/99162

 

Termo de Referência Curso de Especialização em Epidemiologia de Campo - EpiSUS — Português (Brasil) [Internet]. www.gov.br. [cited 2022 Jul 13]. Available from: https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/svs/episus/termo-de-referenica-curso-de-especializacao-em-epidemiologia-de-campo-episus_alunos_versao-final_07-04.pdf/view

 
 
 

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