CONHECENDO AS ESPECIALIDADES - CUIDADOS PALIATIVOS
- Jornal A Sístole
- 22 de nov. de 2022
- 4 min de leitura

AUTORAS: Beatriz R. Galhardi e Laura Rapeli
O QUE É CUIDADO PALIATIVO E SEU BREVE HISTÓRICO NO BRASIL
O termo “paliativo”, na língua portuguesa, é definido como “algo que causa alívio temporário” ou “que diminui um problema; que atrasa uma dificuldade ou crise”. Essas definições trazem consigo denotações de cuidado para além da perspectiva pura e simples de cura. A origem latina do termo, no entanto, remonta ao termo “palliare” - que significa “encobrir com o manto”. Ao refletirmos a respeito dessa origem etiológica, o verdadeiro significado daquilo a que se é, atualmente, referido como “cuidados paliativos” na área da saúde se torna muito mais tangível: o acolhimento.
Em 2002, a Organização Mundial de Saúde (OMS) atualizou a definição de cuidados paliativos como a abordagem que promove qualidade de vida para pacientes(adultos e crianças) e seus familiares que enfrentam doenças que ameaçam a vida. Embora algumas iniciativas isoladas a respeito de Cuidados Paliativos venham sendo encontradas desde os anos 70 no Brasil, foi em 2009 que o Conselho Federal de Medicina incluiu esses Cuidados Paliativos como princípio fundamental, em seu Código de ética Médica.
Já em 2018, uma resolução federal incluiu os cuidados paliativos à Rede de Atenção à Saúde (RAS), ou seja, tornou-se um serviço de cuidado continuado e existente em todos os níveis de atenção à saúde.
COMO É O TRABALHO DE UM PROFISSIONAL PALIATIVISTA?
O desenvolvimento da área de cuidados paliativos no Brasil é, portanto, muito recente. Tendo em vista a delicadeza envolvida na assistência a pacientes sob esses cuidados, é facilmente compreensível a necessidade de atuação de toda uma equipe multidisciplinar para o fornecimento integral desses cuidados aos indivíduos. Nesse sentido, o médico paliativista assume o posto de coordenador dessa equipe multidisciplinar, de tal modo que é ele o responsável por instruir o paciente e sua família e fornecer o suporte para suas dores físicas e emocionais, tendo por objetivo final estabelecer um bem-estar para o paciente.
A arte de ser um profissional de saúde paliativista se baseia em oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível até o momento de sua morte. Trata-se de equilibrar o conhecimento científico, as tecnologias, as medidas prolongadoras de vida com o humanismo e a mortalidade humana, garantindo dignidade e a capacidade de se morrer em paz.
Ao contrário do que muitos acreditam, o cuidado paliativo não é destinado apenas ao paciente em fim de vida, mas deve ser iniciado precocemente com o diagnóstico difícil. Dessa forma, inicia-se o cuidado paliativo sem excluir o tratamento curativo, buscando tratar todos os elementos que impactam na "dor total" do paciente, seja ela física, psicossocial ou espiritual.
Assim, a equipe multiprofissional – formada por médico, assistente social, psicólogo, enfermeiro, nutricionista, fisioterapeuta, farmacêutico e assistente espiritual – apresenta-se como o ideal para garantir esse suporte adequado aos pacientes considerados "fora de possibilidade de cura". Os profissionais de saúde paliativos podem atuar na casa do paciente, em um hospital ou unidade de saúde, ou em um hospice (clínicas especializadas no cuidado de pacientes com doenças crônicas ou em estágio avançado).
Os cuidados paliativos vêm enfrentando diversos desafios para se consolidarem como serviço de saúde básico no Brasil. Segundo um levantamento da Academia Nacional de Cuidados Paliativos, menos de 10% dos hospitais apresentam a equipe de cuidados paliativos.
RESIDÊNCIA/ESPECIALIZAÇÃO EM CUIDADOS PALIATIVOS
Atualmente, é perceptível uma deficiência na matriz curricular da formação médica voltada para os Cuidados Paliativos. A temática só é abordada em 14% dos cursos de medicina do país e, dentre esses, apenas 6% em caráter obrigatório. A maior parte da educação em cuidados paliativos pelos médicos, portanto, advém de especializações e pós-graduações.
A área da Medicina Paliativa foi aprovada como nova área de atuação em agosto de 2011, pela Comissão Mista de Especialidades, a qual é formada pela Associação Médica Brasileira e pelo Conselho Federal de Medicina.
A partir do reconhecimento da Medicina Paliativa como área de atuação, diversos programas de residência começam a inserir o ensino em cuidados paliativos no currículo, por exemplo, de pediatria, cancerologia, geriatria e gerontologia, medicina da família e comunidade, anestesiologia e clínica médica. Além disso, começam a surgir modalidades próprias e específicas de residência em cuidados paliativos. Pelo fato de ser uma movimentação muito recente, porém, ainda não há muitas instituições que ofertam essa modalidade. Até o momento, apenas 15 instituições de ensino oferecem o curso. Dessas, 7 se concentram na região sudeste. Na região Norte, não há nenhuma instituição que disponibilize a residência. No Centro-Oeste, apenas uma.
De modo geral, a residência em Cuidados Paliativos apresenta duração de 2 anos. No entanto, ainda não há muita padronização na forma como o curso é organizado dentre as instituições. Em alguns lugares no qual o curso está instalado, como no Instituto Nacional de Câncer do Rio de Janeiro ou no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, não é necessário nenhum pré-requisito para ingressar na residência. Em outros, como na Santa Casa da Misericórdia de Porto Alegre, é necessário que o candidato já tenha o título de residência em Clínica Médica e em Medicina da Família e Comunidade.
CONCLUSÃO
O Brasil é extremamente deficitário, portanto, na oferta de atenção em cuidados paliativos, atualmente. O país recebeu a classificação 3A pelo Atlas Global de Cuidado Paliativo, publicado em 2020. Essa classificação significa que o desenvolvimento do cuidado paliativo na região é irregular e recebe pouco apoio, que as fontes de financiamento são fortemente dependentes de doações, que são encontrados poucos serviços de cuidado paliativo em comparação ao tamanho da população e que o sistema de saúde está muito atrasado na integração desses serviços. Tal realidade coloca o Brasil na 42ª posição no ranking de qualidade de morte, atrás de países como África do Sul, Uruguai, Argentina e Malásia. Tão por isso, é importante abordar e transmitir o conhecimento a respeito da área de atuação da Medicina Paliativa - principalmente, no meio acadêmico.
SAIBA MAIS:
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REFERÊNCIAS:
manual cuidados paliativos ANCP - 2012
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