COISAS QUE VOCÊ PRECISA SABER ANTES DE 2021 ACABAR: CRISE HÍDRICA
- Jornal A Sístole
- 23 de dez. de 2021
- 3 min de leitura

A maior seca dos últimos 91 anos
por Júlia Lourenço e Luiza Lino
Falar de crise hídrica em um país que detém 12% da água doce do planeta, segundo a Agência Nacional de Água, parece paradoxal. Contudo, essa é a realidade no Brasil em 2021. A Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que a seca pode ser a próxima "pandemia", uma vez que neste ano foi registrada a pior estiagem das últimas nove décadas. Tal cenário é resultado de um conjunto de fatores, como a escassez de chuvas, a redução dos níveis dos reservatórios, o crescimento da demanda de energia, o desmatamento de florestas e a falta de medidas governamentais eficazes.
Como agravante, a distribuição desse recurso é um grande problema no Brasil, visto que há uma perda de cerca de 40% da água destinada para consumo da população apenas nessa logística. Nessa conjuntura, a queda na disponibilidade de água eleva o preço da energia elétrica, em virtude do aumento no uso das usinas termelétricas, as quais são mais poluentes e fornecem energia de maior custo. Assim, além da carência no abastecimento de água tratada, o povo brasileiro precisa enfrentar outras problemáticas que se relacionam intimamente com o contexto sanitário global, como a recessão econômica e a alta de preços dos alimentos - a agricultura, por exemplo, consome cerca de 70% da água no planeta, segundo o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação.
A quem e como isso impacta?
A água é um recurso natural essencial para o desenvolvimento e a manutenção da vida. O acesso à água potável, assegurado no país pela Lei de Saneamento Básico de 2007, é também reconhecido pela ONU como um direito humano essencial desde 2010. Contudo, de acordo com o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em 2018, cerca de 16% dos brasileiros não tinham acesso à água tratada e 47% viviam em locais sem rede de esgoto. No contexto da crise hídrica, uma vez que a água é um recurso dotado de valor monetário na sociedade contemporânea, espera-se que a população mais afetada seja a mais carente.
Considerando ainda o impacto socioeconômico e o recorde nas taxas de desemprego observados nesses quase dois anos de curso da pandemia de COVID-19, não é difícil concluir o perfil da população mais vulnerável a contrair o vírus da doença. Nesse sentido, muitos cidadãos foram privados da medida mais simples de proteção: lavagem das mãos com água e sabão, a qual deveria estar ao alcance de todos.
O próprio contato com a água contaminada pode causar inúmeras doenças, como a esquistossomose, a leptospirose, a giardíase e a cólera. Além disso, no cenário de seca, a menor umidade do ar e a emissão de gases tóxicos oriundos das queimadas podem contribuir para o surgimento e/ou agravamento de doenças respiratórias, como asma, rinite e bronquite. Nesse cenário de crise histórica, o acesso desigual à água potável direciona o problema para um patamar ainda mais grave: a violação do direito à saúde e, consequentemente, à própria vida.
Referências:
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Crise hídrica se agrava e vira mais um entrave para o crescimento da economia brasileira [Internet]. 1˙ de setembro de 2021 [citado 4˙ de dezembro de 2021]. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/crise-da-agua/noticia/2021/09/01/crise-hidrica-se-agrava-e-vira-mais-um-entrave-para-o-crescimento-da-economia-brasileira.ghtm
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