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Cigarros Eletrônicos: um novo futuro para o tabagismo?”

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 3 de mar. de 2022
  • 6 min de leitura


INTRODUÇÃO

Muito populares atualmente, os cigarros eletrônicos - também conhecidos como pods ou vapes - são considerados inofensivos e, até mesmo, benéficos por muita gente. Mas será que realmente são?

Eles estão no mercado há aproximadamente 20 anos e foram lançados como uma suposta ferramenta para auxiliar as pessoas no processo de parada do tabagismo. Essencialmente, esses dispositivos são aparelhos eletrônicos alimentados por uma bateria, contendo um espaço para o cartucho ou refil, onde fica a nicotina líquida. Durante a tragada, um sensor é ativado, induzindo o funcionamento do aparelho. Todavia, tem se questionado a eficácia da utilização desses dispositivos para esse fim terapêutico, bem como os supostos benefícios desses utensílios. Tendo em vista as incertezas em relação aos cigarros eletrônicos, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decretou, em 2009, a proibição dacomercialização, da importação e da propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), por meio de uma resolução que se encontra vigente até o momento atual.

No entanto, com o passar do tempo, diversos estudos têm sido realizados para melhor esclarecer a polêmica a respeito desses dispositivos modernos. Dessa forma, quais são os malefícios e a problemática envolvidos no consumo de DEFs?

E-LIQUIDS

O mecanismo de funcionamento dos cigarros eletrônicos difere bastante do cigarro tradicional. No ato de tragar os DEFs, o usuário absorve os vapores gerados a partir de soluções conhecidas como e-liquids - que contêm nicotina -além de várias outras substâncias, como solventes, água, aromatizantes, flavorizantes e outros aditivos.

A nicotina é conhecida por seu alto potencial de causar dependência química, além de alterações no sistema nervoso e cardiovascular. Outro elemento danoso presente nos cigarros eletrônicos são os solventes, que estão contidos nos e-liquids. Os mais utilizados são a glicerina e o propilenoglicol - ambos se decompõem em altas temperaturas, produzindo compostos como o formaldeído, acetaldeído, acroleína e acetona, os quais apresentam potencial de provocar lesões nas células (citotóxico), aumentar o risco do desenvolvimento de câncer e de várias outras doenças, tais como enfisema pulmonar e dermatite. Somado a isso, há uma preocupação particular a respeito dos cigarros eletrônicos, a qual está relacionada ao fato de que uma tragada nesses dispositivos têm maior duração se comparada ao cigarro convencional e, portanto, o tempo de exposição às substâncias nocivas é maior. Além disso, é crescente o número de casos de intoxicação por ingestão acidental do e-liquid presente nos cartuchos.

Outro ponto relevante é que, em contato com os e-liquids, o material que compõe os dispositivos eletrônicos pode soltar metais pesados nessa solução e, consequentemente, no aerossol que será inalado. Foram detectados metais como alumínio, chumbo, cádmio e níquel no vapor dos DEFs. O chumbo e o cádmio, por exemplo, são agentes carcinógenos e teratogênicos. A exposição alta e repetida ao chumbo também pode provocar danos ao sistema nervoso central, levando ao comprometimento das funções motoras. De modo geral, o Ministério da Saúde concluiu que todos os elementos encontrados no vapor dos DEFs são conhecidos por causar desconforto e doenças respiratórias,alguns ainda afetam a reprodução e o desenvolvimento e outros são cancerígenos.

os flavorizantes e aromatizantes cumprem um papel importante na aceitação dos DEFs, pois reduzem a aversão à fumaça - uma vez que apresentam sabores e odores agradáveis - também diminuem a percepção de risco.

Além dos danos biológicos e químicos causados pelo uso dos vapes, há também o risco de acidente por explosão do dispositivo devido a falhas no funcionamento da bateria.

Os cigarros eletrônicos representam, ainda, um risco para pessoas que não fumam. Isso porque estudos detectaram a presença de cotinina - um metabólito da nicotina - no sangue de indivíduos expostos passivamente ao vapor dos DEFs, em valores semelhantes aos encontrados em pessoas expostas passivamente à fumaça do cigarro tradicional.

DANOS PULMONARES DIRETOS

Um estudo realizado em 2019, através do relato de uma série de casos, demonstrou diversos impactos pulmonares diretos do uso de cigarros eletrônicos, conhecidos pela sigla em inglês EVALI (E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury). Nesse estudo, 98% dos pacientesapresentaram queixas respiratórias, como tosse, dispneia (sensação de falta de ar), hipoxemia (baixa saturação de oxigênio), dentre outros. Em várias pesquisas, foi visto que todos os pacientes usuários de DEF apresentaram exames de radiografia e tomografia alterados. As alterações mais relatadas foram opacificações em vidro fosco (presente em diversas doenças pulmonares), derrame pleural, fibrose, adenopatia mediastinal, além de padrões típicos de inflamação pulmonar (pneumonite) e dos brônquios (bronquite).

EFEITOS SISTÊMICOS

O uso dos cigarros eletrônicos também foi associado ao acometimento, nos usuários, de inflamações gastrointestinais. As alterações provocadas pelo uso de tais dispositivos interferem na motilidade do trato gastrointestinal, podendo causar diarréia e vômito.

​No que diz respeito ao sistema cardiovascular, os efeitos nocivos também são extensos. Dentre esses efeitos, a aterosclerose (um estreitamento das artérias devido ao acúmulo de gordura), a trombose (formação de coágulos nos vasos sanguíneos), a doença cardíaca coronariana (obstrução das artérias coronárias) e a hipertensão (aumento da pressão sanguínea em níveis maiores do que o esperado) podem ser citados.

Ademais, o uso dos cigarros eletrônicos tem sido associado, também, com a promoção de maior risco para a saúde bucal. Isso porque, na presença do fluido do dispositivo, as bactérias da biota oral - importantes para o nosso organismo - têm seu crescimento reduzido, de modo a favorecer, portanto, o aparecimento de doenças como a gengivite e outras inflamações periodontais.

CONCLUSÃO

Os cigarros tradicionais foram gradativamente perdendo o seu apelo entre a população brasileira. Tal processo é resultado, especialmente, de um esforço do Ministério da Saúde que, por meio (principalmente) da Política Nacional de Controle do Tabaco, tem desenvolvido diversas ações para a redução da prevalência desse hábito entre os indivíduos - as advertências sanitárias que são colocadas atrás dos maços de cigarro são algumas das ilustrações desse esforço, por exemplo. Como resultado, o percentual de adultos fumantes diminuiu de 34,8%, em 1989, para 12,6%, de acordo com os dados mais recentes de 2019. Concomitantemente a esse contexto, os cigarros eletrônicos acabaram ganhando o seu espaço. E é justamente essa a problemática por trás de tais dispositivos.

Como já foi pontuado, os cigarros eletrônicos apresentam, sim, diversos malefícios para a saúde. No entanto, muitas pessoas acreditam que, por serem à base de vapor e por serem diferentes dos cigarros tradicionais, eles não seriam prejudiciais. Por conta da propagação desse discurso, os cigarros eletrônicos acabaram se popularizandoentre os mais jovens. Tais dispositivos foram apropriados, também, pelos indivíduos que já apresentavam dependência ao cigarro tradicional, como uma forma de, supostamente, atenuar esse vício. Porém, estudos recentes concluíram que o risco de iniciação ao tabagismo é expressivamente maior entre usuários de cigarro eletrônico - o uso de tais dispositivos representava um risco três vezes e meia maior de o indivíduo experimentar o cigarro tradicional e quatro vezes maior de o indivíduo se tornar um usuário do cigarro tradicional.

Nesse sentido, percebe-se que, além dos riscos próprios do ato de fumar o cigarro eletrônico em si, esses aparelhos também representam uma ameaça à Saúde Pública, por irem na contramão dos avanços já obtidos na diminuição da prevalência do tabagismo entre a população. Por isso, é importante se manter informado, e evitar o uso de determinados dispositivos, tais como os cigarros eletrônicos, sob falsos pretextos. Dessa forma, atentando-se às informações disponíveis, é possível tomar uma escolha consciente.

CURIOSIDADE:

Com o intuito de avançar nos estudos a respeito dos dispositivos eletrônicos para fumar, a ANVISA disponibilizou um formulário eletrônico para que os médicos notifiquem possíveis casos de doenças pulmonares causadas por esses dispositivos. Esse formulário está disponível no site do Ministério da Saúde.

REFERÊNCIAS

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