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BRASIL: O PAÍS DA FOME

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 2 de dez. de 2021
  • 3 min de leitura


Por Karine Corrêa

Neste momento, enquanto você lê este texto, alguém no Brasil está passando fome. A realidade nacional é de 116,8 milhões de pessoas com fome ou em insegurança alimentar, de acordo com a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN) de 2021. Notícias de pessoas buscando alimentos em caminhões de lixo e de mercados vendendo carnes que antes eram descartadas se tornaram comuns e, de repente, vemos canais de comunicação divulgando o retorno ao uso de fogões a lenha para cozinhar como alternativa ao aumento do preço do gás. Esse é o retrato da fome no Brasil.


O QUE É A INSEGURANÇA ALIMENTAR?

A insegurança alimentar e nutricional implica a falta de acesso à alimentação adequada, seja em quantidade ou em qualidade dos alimentos, estando intimamente relacionada com fatores de renda. Existem três graus de insegurança alimentar:

● Leve – preocupação ou incerteza quanto ao acesso à alimentação no futuro, com redução na qualidade do que é ingerido.

● Moderado – redução quantitativa de alimentos entre os adultos pela falta de itens.

● Grave – redução quantitativa severa de alimentos para todos os moradores da casa, incluindo crianças.

A insegurança alimentar em qualquer grau tem potencial negativo para a saúde, especialmente em crianças. A fome e a desnutrição podem interferir no desenvolvimento, ocasionandocomprometimento imunológico, menor crescimento e até alterações cognitivas em crianças cronicamente desnutridas. Gestantes e idosos também são particularmente sensíveis à fome.

Além disso, a falta de meios para produzir os alimentos envolve desde o acesso à água, mas também ao gás de cozinha. Muitas pessoas se viram obrigadas a retomar o uso do fogão a lenha, no entanto, o que pouco se fala é sobre os malefícios da inalação da fumaça liberada por esse tipo de combustão. O uso diário do fogão a lenha, especialmente em ambientes fechados, está associado ao desenvolvimento da Doença Pulmonar Crônica (DPOC), além de favorecer o desenvolvimento de infecções respiratórias e outras condições.

A FOME EM TEMPOS DE PANDEMIA DA COVID-19

A PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) demonstrou que entre os anos de 2004, 2009 e 2013 houve redução da taxa de insegurança alimentar nos domicílios brasileiros. Isso só foi possível com a instituição de medidas que visavam a redução da desigualdade social e o aumento da renda entre mais os pobres, como o Programa Bolsa Família, o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNae) e o Programa Fome Zero.

Por outro lado, dados mais recentes coletados pelo IBGE já apontam para o oposto: em 2017-2018 houve aumento na taxa de insegurança alimentar, assemelhando-se aos dados de 2004. Isso significa que no cenário pré-pandemia já se observava a precarização das condições de alimentação da população brasileira. A disseminação do SARS-CoV-2, vírus responsável pela COVID-19, resultou em uma crise sanitária no Brasil, culminando na acentuação da desigualdade. Há precarização das condições de trabalho, maior desemprego, além da alta dos alimentos.

O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da COVID-19 no Brasil (VIGISAN) apontou que os moradores da região Norte e Nordeste possuem menor renda quando comparados a outras regiões do país. Consequentemente observou-se, também, maior insegurança alimentar nessas regiões. Outro fator observado é o vínculo empregatício, sendo que a insegurança alimentar grave foi quatro vezes maior em pessoas com trabalho informal e seis vezes maior em pessoas desempregadas. Ressalta-se, ainda, que, apesar do auxílio emergencial, há uma maior proporção de insegurança alimentar moderada/grave entre os entrevistados que receberam o auxílio, ou seja, o valor é insuficiente.

Assim, é preciso entender que a fome é uma violação dos direitos humanos. Ela está correlacionada com o não acesso ao alimento, mas também a falta de condições para produzir o alimento, a falta de condições de saúde ou de habitação, entre outros. Desse modo, as medidas a serem tomadas envolvem mais do que oferecer cestas básicas, mas sim eliminar as condições causadoras. Não podemos normalizar a fome, pelo contrário, precisamos nos indignar com o cenário atual.

REFERÊNCIAS

PENSSAN, Rede. Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da COVID-19 no Brasil. Rio de Janeiro: Rede Penssan, 2021.

SCHAPPO, S. Fome e insegurança alimentar em tempos de pandemia da covid-19. SER Social, [S. l.], v. 23, n. 48, p. 28–52, 2021. DOI: 10.26512/sersocial.v23i48.32423. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/SER_Social/article/view/32423.

 
 
 

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