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AS MULHERES TÊM MAIOR TOLERÂNCIA À DOR?

  • Foto do escritor: Jornal A Sístole
    Jornal A Sístole
  • 17 de nov. de 2022
  • 3 min de leitura

Por Karine M Corrêa


Você, provavelmente, já deve ter ouvido o comentário de que mulheres têm maior tolerância à dor, mas será que essa afirmativa é verdadeira? O senso comum diz que sim, afinal, as mulheres passam por cólicas mensais e vão trabalhar normalmente; passam por cirurgias, como a cesariana, e ainda conseguem cuidar do recém-nascido; e o principal, as mulheres vivenciam as temidas dores do parto. Simulações, inclusive, são feitas para testar a resistência dos homens às dores de um nascimento e o resultado é cômico: eles – que, na maioria das vezes, acreditam que suas parceiras exageram ao se queixarem das dores do parto – não conseguem permanecer na simulação por muito tempo. No entanto, precisamos nos estender para além do senso comum e compreender se realmente estamos falando de uma menor sensibilidade à dor ou se existem outros fatores associados ao fenômeno em questão.


Ao analisar doenças que cursam com a dor crônica – tais como enxaqueca, síndrome do túnel do carpo e fibromialgia – é possível perceber um predomínio no sexo feminino. Como múltiplos fatores estão associados ao estímulo doloroso, diversas hipóteses são estudadas para correlacionar sexo e percepção da dor. Observou-se, por exemplo, que a sensibilidade à dor é diferente de acordo com a fase do ciclo menstrual, o que sugere influência hormonal, embora isoladamente não seja uma boa explicação. Outra hipótese é a de que a resposta imunológica inata e adaptativa é mais forte em mulheres, o que pode se associar a uma maior percepção da dor. Além disso, diversos experimentos com estímulos álgicos, térmicos e pressóricos foram feitos comparando a percepção entre os sexos. O que a maioria dos estudos conclui é que, embora não seja possível estabelecer definitivamente a fisiologia envolvida, na verdade, as mulheres apresentam maior sensibilidade que os homens a várias modalidades de dor.


Apesar da maior predominância de dor no sexo feminino, há a possibilidade de que, na verdade, tal condição não seja devidamente tratada. Estatísticas demonstram que as mulheres tendem a buscar atendimento médico com maior frequência que os homens, no entanto, o tratamento recebido nem sempre é o adequado. Alguns exemplos foram observados em estudos: mulheres com dor torácica em uma emergência são submetidas a menos exames e são menos medicadas que os homens; após cirurgia cardíaca, mulheres são mais propensas a receberem sedativos, enquanto homens recebem analgésicos; homens com dor abdominal são medicados com analgésicos em maior proporção que mulheres com a mesma queixa. Desse modo, percebe-se que a dor no sexo feminino tende a ser subestimada.


Outro aspecto importante é quando a queixa álgica envolve a sexualidade feminina, que ainda é um grande tabu na sociedade. Mulheres pós-menopausa, por exemplo, apresentam uma queda acentuada na produção do estrogênio, o que cursa com diversas alterações como fogachos, instabilidade emocional e atrofia vaginal. Como consequência do acometimento vaginal, com a redução da lubrificação, pode ocorrer dor durante a relação sexual, o que chamamos de dispareunia. Apesar de ser uma manifestação esperada, essa queixa nem sempre é trazida pela paciente que, muitas vezes, tem vergonha de falar sobre o tema. Ademais, algumas acreditam que a dor no ato sexual é normal e faz parte do seu “papel” como esposa, o que é uma inverdade.


Assim, apesar do senso comum de que as mulheres são mais resistentes à dor, talvez isso seja apenas um indicativo de algo maior: o sofrimento da mulher está sendo subestimado. Desse modo, é importante nos atentarmos ao nosso papel enquanto profissionais da saúde: Será que realmente estamos ouvindo as nossas pacientes? Será que valorizamos a intensidade da queixa que elas nos têm relatado? Será que estamos oferecendo o melhor tratamento?

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Casale R, Atzeni F, Bazzichi L, Beretta G, Costantini E, Sacerdote P, Tassorelli C. Pain in Women: A Perspective Review on a Relevant Clinical Issue that Deserves Prioritization. Pain Ther. 2021 Jun;10(1):287-314. doi: 10.1007/s40122-021-00244-1. Epub 2021 Mar 15. PMID: 33723717; PMCID: PMC8119594.

Fillingim RB, King CD, Ribeiro-Da Silva MC, Rahim-Williams B, Riley JL 3rd. Sex, gender, and pain: a review of recent clinical and experimental findings. J Pain. 2009 May;10(5):447-85. doi: 10.1016/j.jpain.2008.12.001. PMID: 19411059; PMCID: PMC2677686.

GERIN, Larissa. A ocorrência de dispareunia entre mulheres: como fica a saúde sexual?. 2008. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

 

 


 

 
 
 

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