ARTE E SAÚDE: Quem é Kat Baker? [alerta spoiler]
- Jornal A Sístole
- 4 de jan. de 2022
- 2 min de leitura

Por Carolina Daré
A representação de transtornos mentais na mídia nem sempre é adequada. O filme “O Lado Bom da Vida”, por exemplo, alega que Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) possui transtorno de bipolaridade. No entanto, sob uma análise atenta, os comportamentos da personagem se mostram incoerentes com esse diagnóstico em diversos momentos no transcorrer da trama.
↳ Para saber mais, confira o vídeo disponível no Youtube no canal da Nova Psique, apresentado por Mabel Pereira (psicóloga) e Mariana Pizarro (psiquiatra).
Por outro lado, a série “Spinning Out” - produzida pela Netflix – coloca esse transtorno de humor na pele de duas exímias patinadoras artísticas, mãe e filha: Carol Baker (January Jones) e a protagonista, Kat Baker (Kaya Scodelario). Ao longo dos episódios, observamos oscilações de humor que divergem do esperado em circunstâncias regulares e funcionais. De fato, um paciente com bipolaridade pode se encontrar em 3 situações distintas. Uma delas seria aquela em que suas funções psíquicas não estão afetadas por intensas euforias ou tristezas, polos opostos da experiência afetiva. Ou seja, está em seu humor “normal”.
Um outro estado de humor seria a mania.
Aceleração de pensamento, ideias de grandeza, impulsividade e diminuição de sono caracterizam Kat quando, por decisão própria, interrompeu subitamente seu tratamento psicofarmacológico. Antes insegura com algumas coreografias na patinação, ela passa a querer executar movimentos difíceis e ousados, a demonstrar maior sexualização, a organizar festas regadas a champanhe com desconhecidos, também torna-se mais expansiva e, apesar de dormir pouco, parece incansável. No entanto, o aparente “bem-estar” proporcionado pela mania parece provocar danos às pessoas próximas de Kat e a si própria.
No ápice de tamanha excitação, Kat apresenta um episódio depressivo: alteração que se oporia ao humor elevado.
O humor triste parece, então, dominar a personagem que demonstra alterações quantitativas e qualitativas de atenção, fala e pensamento. É interessante notar que há singularidades na manifestação dos 3 estados mencionados a depender da individualidade do paciente. Quando assistir, observe as flutuações de humor vividas por Kat em comparação às de Carol Baker.
Esse seria um brevíssimo comentário sobre alguns dos pontos que poderíamos levantar ao assistir à série. A relação entre Kat e sua mãe é uma das faces do filme, dentre outras, que geraria horas de debate naqueles interessados pelo comportamento humano. Também é interessante observar como a dificuldade de Jenn Yu (Amanda Zhou) de lidar com as atitudes de sua amiga Kat se mescla aos conflitos pessoais que extrapolam os efeitos do transtorno.
De qualquer forma, vale lembrar que, apesar de nos ajudar a compreender melhor a realidade de quem possui tal condição psiquiátrica, a obra não se propõe a ser um objeto de estudo strictu sensu voltada aos acadêmicos em Saúde Mental. Afinal, a trama não orbita um transtorno, sendo, antes de mais nada, a história de Kat Baker.
REFERÊNCIAS
SPINNING-OUT [Seriado]. Direção: Matthew Hastings, Jon Amiel, Norma Bailey, Elizabeth Allen Rosenbaum. Califórnia: Netflix, 2020.
Transtorno bipolar: uma revisão dos aspectos conceituais e clínicos. Medicina (Ribeirão Preto), v. 50, n. Supl 1, p. 72-84, 2017.
Psique N. Nova Psique | “O lado bom da vida” Uma boa representação do transtorno bipolar? [Internet]. YouTube. Acesso em 6 dezembro 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3UQXTVqMUkU&t=151s
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